CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Ganhar maio em abril e ter futebol em junho (e ainda o caso do golfe…) - artigo de José Manuel Delgado
O primeiro-ministro, em entrevista hoje publicada pelo Expresso, levantou um pouco o véu sobre o que vai na cabeça do Governo para um mês de maio que todos desejamos de progressivo regresso à normalidade (possível). António Costa, apesar do registo otimista que é seu timbre, não deixou de manifestar as mesmas dúvidas que nos assaltam todos os dias, e que passam pelas consequências do levantamento do estado de emergência.
Hoje fui à rua, para dar uma volta, apenas (sem violar nenhum protocolo…), e fiquei surpreendido com o número de pessoas que tinham saído de casa, uns para desanuviar, mas muitos em longas filas para supermercados, padarias, farmácias, também para ir beber uma bica takeaway, mas deveras muita gente, em quantidades que já há muito não via. Por um lado, foi gratificante ter um vislumbre de normalidade (e não vi ninguém a não respeitar as normas de distanciamento social vigentes), por outro, não deixei de ficar com a pulga atrás da orelha, por saber como somos e como reagimos. Ou há uma grande pedagogia, e as pessoas percebem que o jogo só acaba quando o árbitro apitar, ou as próximas duas semanas podem abrir portas ao vírus, que temos sabido manter fechadas. Os brasileiros têm uma expressão muito engraçada, usada para ilustrar alguém que facilita e se dá mal: «Bobeou, dançou!» É precisamente isso que devemos ter em mente, não podemos bobear, senão, dançamos.
Mas o primeiro-ministro, na aludida entrevista, também falou do desporto, aceitando como possível o regresso aos treinos durante o mês de maio e a conclusão dos campeonatos… até onde for, desde que os jogos sejam à porta fechada, numa primeira fase e com assistências reduzidas, a seguir. A parte difícil, creio, não será montar a operação para cada jogo. O que vai requerer imaginação e responsabilidade é retomar os treinos, visando a competição, ou seja colocar uma ou duas vezes ao dia - entre jogadores, treinadores, técnicos de equipamento, dirigentes e demais pessoal - se calhar meia centena de pessoas em conjunto, o que faz subir muito o perigo de uma eventual contaminação. É como patinar sobre gelo demasiado fino, mas entre isso (depois de recebida luz verde das autoridades sanitárias e mediante cumprimento de rigoroso protocolo) e ficar a olhar para ontem, por mim voto na proatividade.
PS – Tive oportunidade de tomar contacto com as preocupações do presidente da Federação Portuguesa de Golfe, modalidade que é alavanca do turismo e por ele é alavancada, e parece-me absolutamente justa a pretensão de ver reduzido o IVA, pelo menos nos próximos tempos, que continuarão a ser difíceis. Mas mesmo que os golfistas estrangeiros, há que dar condições especiais aos praticantes nacionais, um pouco à imagem do «vão para fora cá dentro» solicitado por António Costa.
A partir de maio, parece-me perfeitamente possível que, seguindo os cuidados tidos em muitos Estados norte-americanos em que os campos de golfe nunca fecharam, os golfistas, por cá, possam retomar as suas rotinas, numa modalidade que, pela sua natureza de ar livre e pela facilidade com que é promovido o distanciamento social, tem todas as condições para ter as portas abertas.