«Fresneda tem de evoluir no ataque»

Pedro Correia, antigo ‘scout’ do Valladolid, em declarações a A BOLA, faz um raio-x do lateral espanhol que o Sporting contratou no início da época 2023/2024

– Conhece Fresneda do Valladolid, pode especificar as características dele? É lateral mais defensivo? Mais parecido com Esgaio ou Geny Catamo? Ou tem características próprias que ainda não teve oportunidade de mostrar?

– É um lateral mais defensivo no presente momento, é um lateral que tem uma excelente reação à perda de bola, é muito intenso no momento defensivo, gosta da força, do esforço, do sacrifício, como características também da posição, mas consegue ao mesmo tempo, dada a facilidade física do perfil físico que tem, ser um ala/lateral que acaba por poder estar em todos os momentos do jogo. Por isso, como ainda é um jovem, mas um jovem que passou por La Liga e agora pela Liga, apesar de ter sido pouco utilizado, acaba por ter uma experiência que lhe dá a capacidade de conseguir já gerir os momentos, mas o momento ofensivo é aquilo em que ele ainda terá de evoluir. Falta-lhe ainda uma capacidade boa no último passe, que o Nuno Santos, quando joga na posição de ala, acaba por dar. Um Esgaio não dá tanto, no outro lado, falando em alas, quer direito quer esquerdo, então ele acaba por ser aquele ala que, neste momento, não seria tão ofensivo, tendo de ter um ala do lado contrário muito mais ofensivo. E é onde ele tem de evoluir.

– Teve um revés que foi a operação ao ombro. Considera que vai ter mais dificuldades para conseguir entrar numa equipa que agora é campeã nacional?

– Considero que, se calhar, será mais fácil, não estou por dentro do Sporting, poderá o Sporting neste momento olhar com alguma impaciência para essa dificuldade de adaptação, integração e performance da parte dele e procurar, se calhar, depois outras soluções para o futuro do Fresneda. Mas acho que não. E onde é que fundamento isto? Ele veio de uma realidade, uma La Liga, e antes uma segunda liga espanhola e uma formação que, no caso do Valladolid, procura muito um outro tipo de jogo, mais baseado em passe, em passe curto, com pouco desenvolvimento a nível de metros, com progressão de bola, com uma velocidade de bola mais baseada em espaços bem mais curtos e não tanto de transição. Então, essa cultura que ele tinha instituído e que foi feita na sua formação demora algum tempo a reformular conceitos, que demora o seu tempo, porque é algo que ele teve instituído na sua própria formação. Esta forma de jogar do Sporting obrigou-o a ter outro tipo de consciência tática e a nível ofensivo é onde ele apresenta muito mais dificuldades nessa adaptação. Acho que é aí onde ele terá de evoluir, mas acho que ele consegue, a partir do momento que inicia do zero, e iniciar do zero é ter esta pré-época com os colegas, quando ele já sabe o que é pretendido... Antes não sabia, teve de se adaptar, agora já sabe e, por isso, essa adaptação e integração será muito mais fácil, ou seja, não é uma adaptação, já entra numa fase de rendimento.

– Fresneda terá maturidade e força mental para encarar todos esses desafios que terá pela frente para conseguir impor-se no Sporting?

– Ele tem-na enquanto jogador, é uma das características extremamente interessante que ele tem, essa capacidade de resiliência, de sacrifício, de reagir bem ao insucesso, da equipa perder bola e ele ir. Então na parte mental ele tem essa característica. Agora, obviamente que se ele tiver este ano um insucesso, para ele continuado, pode às vezes mentalmente ser mais difícil reagir. Se ele considerar que foi uma fase em que integrou, adaptou, aprendeu, reformulou e colocar como grande desafio o início da próxima época, a afirmação dele, aí acredito que possa dar certo. Vai muito, neste momento, na evolução que ele está a ter a nível tático e principalmente ao nível ofensivo e nessa parte mental. É essa sua capacidade de se querer ainda afirmar neste Sporting.