Antigo médio português recorda altura em que partilhou o balneário do PSG com o craque brasileiro; lembra também episódio menos feliz em Paris, em entrevista a A BOLA, antes do lançamento do livro 'Não é só futebol (,) estúpido'
Em conversa com A BOLA, na antecâmara do lançamento do livro Não é só futebol (,) estúpido, focado no futebol de formação, Hugo Leal recuou atrás no tempo para falar dos momentos vividos em Paris, ao serviço do PSG. Momentos felizes, outros nem por isso.
Na antecâmara da apresentação do livro 'Não é só futebol(,) estúpido', sobre a experiência no futebol de formação, Hugo Leal fez uma viagem pela carreira, sem esquecer os tempos em que representou o Benfica
– Jogou em França, PSG, nem tudo foi bom. Ainda assim disse que era um emigrante de luxo. Que queria dizer com isso?
– Cheguei a ter cartazes no estádio que diziam que o português é para fazer faxina. Aquilo só podia ser para mim, estava eu e o Pauleta, o Pauleta fazia muitos golos, não era para o Pauleta com certeza [risos]. Não me posso queixar dos momentos que tive em França, nem refugiar-me na quantidade de lesões que tive para justificar o insucesso aos olhos dos demais. No entanto, foram momentos de aprendizagem, lá está o lado escuro do futebol, refiro no livro momentos onde até em casa fui pressionado por diretores, que me disseram que não jogaria mais no clube, que não me pagariam mais. Isso foi criando a pessoa que sou hoje. O que fui fazendo na formação tem muito a ver com estes momentos. Não gostaria de fazer um adolescente ou um atleta passar por um momento destes só porque o resultado desportivo é muito importante. E esse é o tal lado estúpido do futebol que eu acho que tem que se mudar desde a base.
– Em Paris nem tudo foi mau. Jogar com o Ronaldinho não é para todos…
– Recordo ter sido apresentado com o Ronaldinho, ter sido quase colocado ao nível do Ronaldinho. Eles não sabiam quem era o Ronaldinho, para me colocarem ao mesmo nível que ele [risos]. Mas ficou logo esclarecido qual era a diferença entre o Ronaldinho e eu quando fomos fazer uma publicidade para uma marca desportiva. Ele tinha de fazer uns números, punha a bola em cima das costas, dançava, esteve 15 minutos a fazer malabarismos com a bola. Depois disseram: 'Agora tu'. Eu não sabia fazer nada daquilo, nada. Passei 15 minutos a deixar a bola cair, a passar um pé por cima do outro, a rir para a câmara, e foram os 15 minutos. Aí deu para perceber a diferença que havia entre o Ronaldinho e o Hugo Leal. Estive com grandes jogadores, aprendizagens diárias, nem tudo foi bom, mas cresci muito. Não retiraria esse capítulo da minha vida nunca.
Hugo Leal confessa que não tem acompanhado o futebol profissional nos últimos anos, que foram dedicados ao futebol de formação, enquanto dirigente, e que deram um livro