Estreia com o Benfica, o 3x4x3 e elogios ao plantel: tudo o que disse Rui Borges

NACIONAL26.12.202414:09

Novo treinador do Sporting, um «mirandelense com orgulho», foi apresentado esta quinta-feira

Foi às 9.38 horas que Rui Borges tomou a palavra, pela primeira vez, enquanto treinador do Sporting, numa conferência de imprensa que começou com uma declaração inicial do técnico de 43 anos, antes de responder às perguntas dos jornalistas.

«Quero agradecer ao presidente Frederico Varandas pelas suas palavras, pela confiança, pela coragem de olhar para nós como uma equipa técnica capaz de liderar o Sporting. Quero deixar um obrigado muito grande a toda a gente do Vitória de Guimarães, ao presidente, à estrutura, desde os roupeiros à cantina, aos adeptos em especial também, pelo carinho que demonstraram. Estou muito feliz, orgulhoso, honrado. Não tenho muitas palavras pelo que tenho sentido nos últimos dias, mas muito felizes. Por isso, a mim resta-me só dizer que estou muito, muito feliz, muito ansioso para trabalhar. Não tenho qualquer dúvida que o futuro se irá a resolver, então aqui é para trabalhar e seguir, sou muito pouco de falar, sou muito tranquilo, muito honesto, muito sincero, muito puro, dado as minhas gentes também de Trás-os-Montes, é gente de trabalho, por isso, eu não fujo a isso e acima de tudo, estou muito honrado por poder representar este grande clube.»

— Que mensagem gostaria de deixar aos adeptos do Sporting, sabendo que estamos num momento delicado, que está aí um dérbi já à porta, o que é que pode prometer também aos sportinguistas?

Eu não olho para um momento muito delicado, honestamente, o clube está em todas as frentes, por isso, não sei qual é o momento delicado, para mim, como coordenador, não há momento delicado nesse sentido, estou muito feliz por poder representar o Campeão Nacional, é um sonho, é um sonho de todos nós, foi por isso que trabalhámos, é por isso que continuámos a trabalhar, agora que chegámos, queremos é trabalho. Acreditamos naquilo que é o nosso trabalho, nunca fugimos daquilo que nos guia, que é o respeito, é a honestidade, por isso, aquilo que prometo é trabalho e acredito mesmo na nossa capacidade e na capacidade dos jogadores, sem eles não somos treinadores, já disse isso várias vezes em vários sítios, são eles que fazem de nós treinadores. É importante fazê-los acreditar naquilo que eu posso fazer, naquilo que é o meu discurso, e ser feliz aqui no Sporting.

— Se pudesse, escolheria este momento exato para vir para o Sporting, antes de um dérbi, e vai alinhar nas ideias táticas do clube, com o modelo 3x4x3?

— O momento, para mim, é o certo. Sou muito positivo, acredito que as coisas acontecem quando têm de acontecer, nos momentos exatos, é uma oportunidade para a qual todos nós trabalhamos desde o primeiro dia. Sou líder do campeão nacional, não podia estar mais feliz nesse sentido. Em relação àquilo que é a minha parte, técnica, tática, é muito subjetivo falar em termos daquilo que é o sistema, porque se olharem para aquilo que têm sido as nossas equipas ao longo do tempo, o sistema tem muitas mutações, muitas dinâmicas diferentes, é apenas uma estrutura num momento inicial e depois dá asas a muitas coisas e não deixarei de ser o Rui Borges, não deixaremos de ser a equipa técnica que temos sido até hoje.

— Sente que este é um presente envenenado, pelo contexto de uma equipa que tem quatro derrotas nos últimos oito jogos?

— Não faz sentido nenhum para mim, na minha cabeça, dizer isso, aquilo que é o momento certo, era o momento de eu chegar aqui e foi este, por isso é o momento certo. O Sporting está em todas as frentes, estou muito feliz por poder estar nessa luta e a nossa missão é que consigamos acrescentar valor e troféus ao Sporting, que é isso que todos nós queremos, o clube, nós como treinadores, jogadores também, todos os adeptos, esse é o nosso foco, esse é o nosso objetivo, por isso para mim é o melhor presente de Natal que podia ter tido, não olho para as coisas de forma tão negativa e não podia estar mais feliz. 

— São cinco anos do sistema tático 3x4x3 no Sporting, como é que vai apresentar a sua equipa, onde tem alinhado com uma linha de quatro defesas?

— Se olharem para os jogos do Vitória, por exemplo, que é o último caso, construímos muitas vezes a três, podem dizer que não é com um terceiro central, mas é com um médio ou um lateral. O sistema é muito relativo, é, sim, importante fazer os jogadores acreditar naquilo que é a nossa ideia de jogo, naquilo que nós pretendemos. Sou um treinador que gosta de ouvir, que gosta de aprender, porque aprendo muito com os jogadores e se eles não estiverem confortáveis, eu não vou tirar rendimento deles, é tão simples quanto isso. Eu costumo dizer que enquanto treinador dou 15% daquilo que o jogo dá, os outros 85% é dentro de uma ideia de jogo, afetada pelas tomadas de decisão que eles têm, a qualidade individual que eles têm, depois dentro de uma qualidade também coletiva, por isso, aqui é fazer eles acreditarem nos meus 15%. Assim, vamos ter muito sucesso, não tenho qualquer dúvida disso, vamos ganhar muitos jogos.

— O que é que o Presidente Frederico Varandas lhe pediu no imediato, em termos de objetivos do clube para esta temporada, na Liga dos Campeões e nas provas internas? 

— Neste grande clube pedem-se vitórias e títulos. É por isso que nós estamos aqui, para dar o nosso melhor, é isso que nos exige, e é isso que eu exijo aos jogadores.  Nem sempre as coisas vão correr bem, mas quando faltar inspiração, não falta atitude, isso sim é muito importante, porque às vezes vamos ganhar com mais qualidade, às vezes não vamos ter tanta qualidade, mas se a atitude correta estiver lá, vamos ganhar na mesma.

— Sente que este plantel do Sporting tem tudo o que precisa, ou pensa em fazer alguma contratação no mercado de janeiro?

Neste momento, estou feliz com os que estão cá, vamos ser competentes com os jogadores que temos, vamos ser competitivos, que é isso que queremos, é isso que nos guia é isso também que nos identifica enquanto equipa técnica, é essa intensidade, é essa competitividade que conseguimos impor naquilo que são as nossas ideias, por isso, estou feliz com o plantel que temos, que para mim são os melhores.

— Sobre uma declaração do Presidente Frederico Varandas, ao ter dito que João Pereira não conseguiu ser João Pereira e que Rui Borges vai poder ser Rui Borges, de que forma é que interpretou estas palavras?

— Concordo com o que o Presidente disse, era um momento em que quem entrasse a seguir, fosse o João, ou fosse outro treinador qualquer, iria ter aqui algum desconforto. Acredito, e quem estava de fora, naquilo que a gente consegue observar, poderia em algum momento haver uma quebra emocional, era nítido. Aquilo que me importa, é que o bom ano passou, um grande treinador que eu admiro imenso passou, o João também, a partir de hoje é a liderança do Rui Borges, é diferente, não comparável. Cada um à sua maneira, tem a sua ideia, tem a sua forma de ser, a sua forma de estar, e lutará para ser feliz nesse sentido.

— Voltando ao dérbi, está na sua cabeça vencer o Benfica e terminar 2024 com o Sporting na liderança do campeonato?

Na minha cabeça está fazer um bom jogo, ganhar, que é esse o nosso objetivo, seja o jogo que for, a liderança é sempre, e tudo o que é classificação, é sempre consequência daquilo que nós formos capazes de fazer no jogo. Se nós conseguirmos ser competentes, vamos ganhar, que é esse o objetivo, e depois a vitória dá-nos, consequentemente, a liderança.

— Sente que é mais parecido com Ruben Amorim ou com João Pereira e como é o que é que o distingue desses dois treinadores?

— É tudo diferente, o Ruben é o Ruben, o João Pereira é o João Pereira, o Rui Borges é o Rui Borges. Conheço pouco o Ruben, tenho apreço e admiração, identifico-me bastante, mas não sei como trabalha o Ruben, a forma de comunicação é excelente, mas eu não tento imitar ninguém, nem nunca irei fazê-lo. Sou de terras transmontadas, com muito orgulho, mirandelense com muito orgulho e ali trabalha-se, é isso que me trouxe aqui. Acho que ninguém se deve comparar com ninguém, cada um é como é, uns melhores, outros piores, é o que é, faz parte. Eu sou o Rui Borges, com muito orgulho, à minha maneira penso que sou um bom líder e assim continuarei a trabalhar.

— No ano passado, no Moreirense, disse que o Sporting era a equipa mais difícil que já tinha enfrentado. Vai aproveitar agora essa base de trabalho ou vai já, de alguma forma, plantar as suas ideias?

— Eu gosto de perceber os jogadores. Sou uma pessoa muito de sentimento, de perceber naquilo que é observar, sentir, conversar, conhecer em termos daquilo que é personalidade, caráter, naquilo que se sentem mais à vontade, naquilo que se sentem menos confortáveis. Dentro de uma ideia, eu quero é tirar o melhor rendimento de cada um, por isso, o meu foco é muito esse. Aproveitamos sempre algo, porque ninguém é melhor que ninguém, ninguém é superior a ninguém, ninguém sabe tudo. Estamos a aprender todos os dias, por isso aprendemos uns com os outros.

— Acredita que terá todo o apoio disponível extrafutebol por parte da direção?

— O maior apoio e a maior confiança que me poderia ter dado é, neste momento, estar aqui, a ser apresentado como treinador do Sporting. Por isso, nesse sentido, o apoio é de mil por cento, não a cem, é mil por cento. Não tenho qualquer dúvida que estamos todos num só caminho, porque as vitórias são de todos e não só minhas ou dos jogadores. Todos são precisos e importantes, cada um no seu papel para que sejamos mais fortes.

— O número de médios que tem no plantel, em termos quantitativos, causa-lhe preocupação, tendo em conta que podemos considerar que o Sporting, neste momento, tem três médios, contando com João Simões?

— Se puxarem a cassete um bocadinho atrás daquilo que é a minha forma de comunicar, a minha personalidade, o meu caráter, vão perceber que eu digo várias vezes, eu sou treinador, estou aqui para arranjar soluções, não estou aqui para me lamentar que não tenho médios, que não tenho avançados. No meu trajeto, em todos os clubes por onde passei, não só no Vitória, vamos perdendo muita gente, ou por lesões, ou por vendas. Não há tempo para lamentar nada, há tempo para trabalhar e para nos agarrarmos às soluções. Há sempre solução para tudo, há adaptações para tudo, nós temos de ser capazes, o mais rapidamente possível, de perceber de que forma é que conseguimos lidar com alguns desvios que sejam naquilo que é o nosso trajeto, naquilo que é o nosso trabalho, para continuarmos a ser bastante competentes, competitivos e ganharmos muito, que é isso que queremos todos.

— Gostaria de ter ouvido o Presidente Frederico Varandas também ter feito aqui uma previsão para estar num gigante europeu daqui a alguns anos, tal como fez com os últimos treinadores?

— Estou feliz por estar no Sporting, não estou a pensar em gigante nenhum, isso passa-me completamente ao lado. Não poderia estar mais feliz, porque o que o Presidente disse trouxe-me para aqui. Foi capaz e teve a coragem de buscar o Rui Borges para ser líder do Sporting.

— O seu percurso no Sporting começa com um jogo com o Benfica, depois vai a Guimarães, depois joga com o FC Porto para a meia-final da Taça da Liga. Como é que estes três jogos podem moldar o resto da época?

— O foco é o Benfica, só e apenas, é o próximo. Os outros jogos, não vale a pena pensar. Quem pensar muito à frente não vai estar focado naquilo que é o imediato, naquilo que é importante e o importante é estarmos focados nestes três dias, tentarmos ao máximo passar algumas ideias próprias da equipa técnica aos jogadores, consegui-los fazer acreditar, consegui-los fazer entender, tentar passar pouco informação, mas certa, porque nesta fase se passarmos demasiada informação nada fica, por isso é focar muito nisso que é o imediato e o imediato é o Benfica e é isso que me guia.

— Quando foi contactado pela primeira vez pelo Sporting? Há algumas semanas esteve reunido com Hugo Viana?

— Em relação ao jantar, até brinquei com o Hugo quando nos vimos pela primeira vez, dissemos que o bacalhau que jantámos estava bom. Acho que até era uma falta de respeito para comigo com o Vitória. Esse jantar jamais existiu e quando soube do interesse foi no dia do jogo do Vitória, através do meu representante. Foi tudo muito rápido, muito intenso. Não posso dizer mais, foi o que aconteceu.

— Como se prepara a estreia num clube com o Sporting, logo num dérbi, em apenas três dias?

— Estou muito tranquilo em relação a isso, eu olho para as coisas de forma positiva, o momento certo era este, se calhar podia andar aqui a enrolar um bocadinho um dia ou dois, se calhar contratavam-me só a seguir o dérbi, mas a seguir tinha outro jogo difícil que é com o Vitória, por isso são três dias, é o que tem de ser, e em três dias, como eu disse, vou focar-me em pequenas coisas que enquanto equipa técnica achamos bastante importante para o jogo, para estarmos o mais preparados possível.