Esplendor em Braga de jogo memorável: a crónica do SC Braga-Benfica
Primeira parte inteligente e brilhante do Benfica; segunda parte avassaladora dos minhotos travada por um Trubin do 'outro mundo'
Grande espetáculo de futebol em Braga no primeiro grande jogo de uma jornada infernal. Um espetáculo pleno de emoção, com os adeptos a roerem as unhas até ao final, o que, provavelmente, os terá até impedido de ver o sublime, para além do forte magnetismo do jogo.
Numa primeira apreciação, uma grande primeira parte do Benfica. Inteligente, autoritária, controladora e taticamente brilhante. Apesar de já nesses primeiros quarenta e cinco minutos o SC Braga ter tido mais bola e, aparentemente, mais presença atacante, a verdade é que, com mais eficácia nos momentos decisivos, o Benfica poderia ter resolvido, desde logo, um jogo que, para o atual campeão em título, se tornaria, depois, bem mais complicado de resolver.
Tudo porque, ao intervalo, a equipa minhota trouxe a convicção de que não fazia sentido ter mais bola, ter mais presença na área adversária e não ter mais oportunidades e melhor acesso ao golo. Por isso, foi mentalmente forte e fisicamente disponível para não consentir que o Benfica usasse, em seu total benefício, a ratoeira de uma suposta atitude defensiva, para, depois, sair rapidamente com a bola jogável, usando os espaços abertos para consolidar a vitória que cedo começara a construir.
A segunda parte minhota foi de uma enorme atitude solidária, uma imensa capacidade de resistência ao desgaste físico, o que lhe permitiu jogar em permanente pressão sobre o adversário, não lhe consentindo nem tempo, nem espaço para matar o jogo.
Ou seja, a um Benfica competitivamente disciplinado, eficaz e inteligente na primeira parte, respondeu o SC Braga com uma segunda parte soberba, apenas travada nos objetivos pela fantástica exibição de Trubin.
Quando o guarda-redes decide
Muitas vezes os homens do futebol referem a importância fundamental de ter um grande guarda redes numa equipa que quer ganhar títulos. É uma verdade que se vai mantendo ao longo dos tempos, apesar de toda a evolução do jogo. Dos dribladores e dos goleadores reza a história mais bela do futebol. Dos guarda redes existirá, apenas, a memória dos melhores em cada época, mas raramente recebem o devido reconhecimento.
Ontem, o guarda redes do Benfica foi decisivo para que a equipa de Roger Schmidt ganhasse o jogo e dormisse no primeiro lugar da classificação. E esse facto é, em si mesmo, a melhor homenagem à grande exibição do Braga.
O duelo dos treinadores
Num jogo com as características que este teve, sobretudo, porque abria a jornada da discussão da liderança, é natural que os treinadores também entrassem em jogo.
Artur Jorge fez tudo o que estava ao seu alcance e quando mudou, mudou para melhor. A entrada de André Horta trouxe uma coordenada solidez à equipa, a substituição de Serdar por Niakate foi conveniente e, depois, a renovação de toda a ala direita, com Vitor Carvalho e Rony Lopes esteve à beira de mudar a história do jogo.
De Schmidt se costuma dizer que é demasiado avesso a mudanças e lento a ler o jogo. Desta vez, o técnico alemão teve mais iniciativa, com a entrada de Musa e, depois, já numa fase de estado de emergência, de Florentino e de Guedes, abdicando de Di Maria e de Rafa, dois criativos com pouca capacidade defensiva.
Mesmo assim, ainda será difícil de entender a insistência em João Mário, sobretudo depois da renovada ala direita do adversário. No entanto, é justo assinalar que Roger Schmidt tem razão quando diz que a sua equipa subiu de rendimento e está, provavelmente, no melhor momento da época. Se não fosse assim, não se teria salvo e não teria atingido o nível de altíssima qualidade que exibiu na primeira parte do jogo.
O Benfica conseguiu, assim, uma vitória preciosa perante um adversário que cresceu imenso e tem toda a legitimidade para sonhar alto.
Uma vitória que relança a candidatura do Benfica ao título e o leva a esperar sentado, assistindo no sofá ao clássico de hoje, em Alvalade.