Estoril-FC Porto, 1-2 Dragão já vai seguro mas só Mora vai formoso (crónica)
Pela primeira vez, o FC Porto de Anselmi venceu dois jogos seguidos; já parece defender bem, mas precisou do geniozinho dum miúdo de 17 anos para ganhar no Estoril
Já não falta tudo. Dois meses depois de chegar ao Dragão, Martín Anselmi conseguiu, enfim, vencer dois jogos seguidos. Depois do 2-0 ao Aves SAD, antes da paragem para os compromissos das seleções, ganhou este domingo no Estoril. E fê-lo, como já indiciara na partida anterior, sobretudo à custa de evidentes melhorias defensivas (sofreu um golo, sim, mas num penálti acidental, porque de resto pouco ou nada concedeu a uma das melhores equipas da Liga).
Agora, falta o resto – a capacidade para inventar espaços onde eles não existem. Na Amoreira, bastou ao FC Porto fazê-lo uma vez, por Rodrigo Mora, num momento de génio dum miúdo de 17 anos que se assume cada vez mais como o grande desequilibrador da equipa. Mas 14 remates, e apenas 5 à baliza, é curto para uma equipa que, ainda por cima, esteve meia hora a perder e mais 20 minutos empatada, por isso a precisar de marcar.
Contas feitas, o dragão segue seguro, mas ainda não formoso — ou só Rodrigo Mora o faz.
Dois penáltis caídos do céu
Os dois treinadores repetiram os onzes em relação à jornada anterior da Liga — o Estoril empatara em Arouca (e chegou a esta partida sem vencer há três jogos), o FC Porto batera em casa o Aves SAD.
E foi o Estoril que começou melhor, cinco minutos iniciais em que mostrou conforto na posse de bola, circulando-a, tentando atrair e surpreender o dragão e depois, quando a perdia, caindo em cima do adversário, com uma pressão bem alta.
Só que essa pressão ia tendo custos. Defendendo na prática homem a homem, pelo menos numa fase inicial, os canarinhos ficavam vulneráveis caso o FC Porto passasse a primeira barreira amarela.
Foi o que aconteceu logo aos 6 minutos, quando Samu recebeu a meio-campo, conseguiu rodar e lançou Pepê na esquerda, nas costas de Boma. Bacher, o central do meio do Estoril, teoricamente o homem mais recuado da defesa, subira para pressionar Samu, e Pepê ficou isolado. Só que tinha 30 metros para correr até à área e Boma, num sprint louco, ainda conseguiu um corte in extremis (que saiu a rasar o poste da baliza de Chamorro), impedindo o brasileiro de visar a baliza.
O lance, o primeiro de perigo na partida, deu o mote para cinco minutos de domínio intenso do FC Porto: aos 7’ Francisco Moura cabeceou ao lado; aos 8’ Fábio Vieira atirou à figura, numa jogada em que também fugiu nas costas da defesa e podia ter caminhado sozinho para a baliza, mas deixou a bola ficar para trás; aos 10’ Samu marcou, também isolado, mas aí Bacher e Pedro Álvaro tinham subido bem e deixado o avançado dos dragões mais de um metro fora de jogo.
Parecia o FC Porto caminhar então para um jogo de domínio, mas do nada, na primeira vez que chegou à área, o Estoril ganhou um penálti (o VAR avisou o árbitro para braço de Marcano). Begraoui, dos 11 metros, aos 15 minutos, não perdoou, e mudou o filme do jogo.
Os canarinhos ainda mantiveram, nos minutos logo após o golo, alguma pressão na frente, mas a pouco e pouco foram recuando. Com isso tiraram espaço ao dragão, que demorou a encontrar nova fórmula para ultrapassar a barreira amarela. Só aos 38’ voltou a criar perigo, com fuga de Rodrigo Mora pela meia esquerda, bem servido por Alan Varela, e remate cruzado para boa defesa de Chamorro.
Com trocas de bola curtas, o dragão lá ia conseguindo aproximar-se da baliza estorilista, mas o empate, ainda antes do intervalo, chegaria da mesma forma que acontecera o golo do Estoril: de penálti. Num canto, Eustáquio cabeceou ao primeiro poste e Holsgrove, com o braço aberto, desviou a bola, antes de Samu tentar o cabeceamento. Hélder Malheiro não viu, o VAR sim. E Samu, como Begraoui meia hora antes, não falhou.
O momento de génio
O golo, tão perto do intervalo, complicou os planos do Estoril. Talvez tenha contribuído para Ian Cathro arriscar, com Boma (amarelado) a ficar nos balneários e Alejandro Marqués chamado a jogo. Um central por um ponta de lança. A equipa da casa passava a jogar em 4x2x3x1, encaixando até melhor no trio atacante dos dragões mas ficando mais partida, com menos controlo a meio-campo.
Os primeiros minutos até deram impressão dum Estoril atrevido e mais próximo da baliza contrária – em apenas cinco, a equipa da casa duplicou os remates da primeira parte (dois, por Begraoui, aos 46’, com algum perigo, mas para fora, e por Guitane, aos 49’, para boa defesa de Diogo Costa; no primeiro tempo só tinha tido o penálti). Mas foi sol de pouca dura.
Aos poucos, o dragão foi aproveitando o fosso a meio-campo, a falta de resposta do Estoril à perda de bola, a incapacidade para, por essa altura, pressionar. Marcano (53’) e Nehuén Pérez (63’) ameaçaram, mas seria um momento de magia a decidir.
Aos 64’, João Carvalho tentou sair em drible para um ataque rápido do Estoril. Fintou três, mas na altura de abrir na direita falhou o passe. A equipa da casa estava descompensada, e, mais uma vez, não reagiu bem à perda. A bola chegou rapidamente à esquerda e o problema, para o Estoril, é que foi Rodrigo Mora quem a recebeu. O miúdo de 17 anos combinou com Francisco Moura, recebeu na área e, com uma finta genial, tirou Pedro Álvaro do caminho antes de finalizar.
O FC Porto via-se, enfim, na frente. E na verdade até final não voltou a ser ameaçado. Cathro mexeu logo a seguir, até conseguiu reequilibrar um pouco a equipa, mas não mais rematou. O mais próximo que o Estoril esteve da baliza de Diogo Costa foi já na compensação, quando dispôs do seu primeiro canto do jogo. Xeka bateu muito bem, o guarda-redes portista saiu mal mas Zé Pedro, acabadinho de entrar, impediu que Marqués cabeceasse para a baliza vazia. Do outro lado, registo para remates de Samu e Eustáquio (ambos aos 78’) para defesas de Chamorro.