Domingo de Páscoa à porta fechada (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Domingo de Páscoa à porta fechada (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL12.04.202011:42

Domingo de Páscoa diferente, em confinamento, longe da vista mas não longe do coração (e quanto à vista, as vídeo-chamadas ajudam um pouco a suportar o insuportável…).

Ligo a televisão e tenho um vislumbre do que será o futuro próximo:

Perante uma Praça de São Pedro vazia, o Santo Padre celebra a missa pascal, à porta fechada, mas a ser seguida por milhões de fiéis em todo o mundo. ‘Mutatis mutandis’, mais dia, menos dia será o mesmo com o futebol e restantes modalidades. Enquanto não chegar a vacina que nos liberte, as reuniões multitudinárias do desporto ficam em stand by e devemos aprender a apreciar as competições sem público. E vai ser curioso verificar como o sentimento de repulsa que tivemos, há um mês, quando antes do ‘lockdown’ houve ainda algumas partidas à porta fechada, vai ser substituído por uma agradável sensação de estarmos mais perto de sermos ‘normais’ outra vez.

As notícias do dia falam-nos de um tímido regresso às rotinas, ontem no Irão, amanhã em Espanha, a seguir na Áustria, entre apelos à prudência e uma vontade firme de seguir em frente.

Na Alemanha, a Bundesliga quer regressar ainda durante o mês de maio e há clubes que já abriram os treinos, adotando medidas restritivas, enquanto que de Espanha dizem que a Real Sociedad vai voltar ao trabalho, abrindo caminho a outros emblemas.

Sejamos claros: o mais importante é não agir de forma irresponsável e criar todas as condições para deter o novo coronavírus. E a seguir, na escala da relevância, chega o normal funcionamento dos setores da sociedade essenciais, que providenciam os bens sem os quais entramos em rotura, água, luz, gás, alimentos, e só depois os setores que são o motor da economia.

O desporto-espetáculo enquadra-se na categoria das coisas mais importantes das coisas menos importantes e está-lhe reservado um papel muito relevante na perceção coletiva de que estamos mais perto da normalidade. Às pessoas fará falta diversificarem a atenção, hoje por hoje em regime de exclusividade virada para a Covid-19, e criarem novos polos de interesse. Do ponto de vista da terapia de grupo, ter de volta, mesmo que à porta fechada, as atividades desportivas será, por certo, um precioso contributo para o equilíbrio e a normalização das nossas vidas. 

Uma Santa Páscoa para todos!