HISTÓRIA A BOLA Do Instagram e do McDonald’s até à seleção, eis a história de Malé

NACIONAL27.03.202509:00

Treinava de manhã no Sacavenense, entrava às 14h no restaurante de fast-food, trabalhava até às 22h, ia para casa e estudava até à uma da manhã: fazia isto todos os dias. Mensagem nas redes mudou-lhe a vida

O Estrela da Amadora contou com quatro representantes da sua equipa principal nesta janela para compromissos das seleções: Issiar Dramé (Mali) Manuel Keliano e Chico Banza (Angola) e Jovane Cabral (Cabo Verde).

Além destes, também uma promessa da equipa B do emblema da Reboleira competiu pelo seu país: Sérgio Malé serviu São Tomé e Príncipe em duas partidas de apuramento para o Mundial 2026 num total de 164 minutos e cuja história foi contada a A BOLA pelo seu mentor e representante, Carlos Rosas.

Sérgio Malé, na foto ao serviço do Estrela da Amadora B, acaba de regressar de dois jogos por São Tomé e Príncipe

«Recebo mensagens e falo muito com jogadores que buscam uma oportunidade para realizar os seus sonhos. Então, há cerca de dois anos recebi, através do meu Instagram, uma mensagem do Sérgio Malé, que dizia: "Soube que o senhor ajuda jogadores de futebol e queria conversar consigo para me dar uma oportunidade." Ele encontrou-se comigo na Amora, ao pé do estádio. Conversámos, ele contou-me um pouco da sua história, que tinha vindo de São Tomé para cá, que jogava lá no Operário de São Tomé, e jogava como extremo», conta.

«O Malé queria uma oportunidade para mostrar o futebol dele aqui em Portugal, tinha vindo para cá estudar. Depois de conversar com ele, demos-lhe aulas particulares no Parque da Paz [em Almada] e encaminhei-o para o mister Wivaldo Martins (que hoje trabalha para a área internacional do Benfica e está no Dubai), que depois de um treino ligou e disse-me: "Carlos, ele é um diamante debaixo de pedra, joga muito mesmo." Aí, levei-o ao Amora, onde já tinha ido outras três vezes e fez dez dias de avaliação», relata o empresário.

Sérgio Malé, jogador do Estrela da Amadora B, já chamado à equipa principal (foto Estrela da Amadora)

Desde então até começar a jogar oficialmente, conta Carlos Rosas, foi uma questão de dias. «O treinador aprovou-o logo, mas perguntaram-nos se poderia ficar em testes mais um pouco com eles. Respondi que a janela de inscrições já estava a fechar e então ele foi com o meu centro de treino [CR Soccer Training] fazer um jogo-treino contra o Sacavenense, fez três golos e o Saavedra, o diretor desportivo deles, chamou-me e disse: "Ele não sai mais daqui!" E aí chamei o Malé e ele tornou-se titular absoluto», recorda ainda.

«Foram 33 jogos e 10 golos pelo Sacavenense e foi o jogador revelação da 1.ª Divisão da AF Lisboa. E fez isto quando treinava de manhã no Sacavenense, entrava às duas da tarde no McDonald's, trabalhava até às dez da noite e depois ia para casa, estudava até à uma da manhã e fazia isto todos os dias no Sacavenense. No final da época, recebeu o convite do Estrela da Amadora e tornou-se profissional», completa o empresário, com visível orgulho.

Carlos Rosas é o mentor e representante de Sérgio Malé (D.R.)

Ganha nome por São Tomé… e já se mostra a José Faria

Com as duas internacionalizações cumpridas frente a Guiné Equatorial e Libéria, na presente semana, Sérgio Malé já conta com quatro aparições pelo seu país e aproveita o espaço internacional para se mostrar.

«Fez o último jogo esta segunda-feira, contra a Libéria, e esteve muito bem [foi titular nos dois] e fico muito feliz com a evolução e o talento dele», reconhece Carlos Rosas, que considera que a chegada à seleção em muito contribuiu para o boost na carreira. 

«O Malé ainda representava o Sacavenense [1.ª Divisão da AF Lisboa] quando foi convocado pela primeira vez pela seleção de São Tomé e Príncipe para disputar o apuramento para o Mundial. Foi fantástico, acabou por ir jogar para o Estrela da Amadora e está a ir muito bem. Quando terminou a época no Sacavenense, tinha a ideia de o levar para outro clube e quando o Estrela fez uma proposta por ele, aceitámos e ele assinou contrato profissional», transmite, satisfeito.

Agora com meia época como profissional, o extremo cresce enquanto jogador sob a proteção do Estrela e Carlos Rosas enaltece todo o processo, em que «joga na Liga Revelação [pelos sub-23], no Campeonato de Portugal [pela equipa B] e está inscrito pela equipa A». As capacidades de Sérgio Malé são, de resto, bem conhecidas pelo técnico José Faria.

«Já foi convocado pela equipa A uma vez, para o jogo contra o Famalicão. Treina com a equipa B mas também muito com a equipa A e acho que não vai ficar muito tempo no Estrela da Amadora face ao potencial que tem e por este ser um clube que forma e vende um montão de jogadores. É muito novo, só faz 21 anos em maio, tem 20 anos ainda», reforça, por fim.