Aves SAD-Benfica, 1-1 Desaparecidos sem combate (crónica)
Benfica domina primeira parte e foi dominado na segunda. Fim da série de oito vitórias seguidas e a prova de que não há bem que nunca acabe. Agravam-se sinais preocupantes dos dois jogos anteriores
O Benfica volta a tropeçar no campeonato, põe fim à série de oito vitórias seguidas na competição, prova de que não há bem que nunca acabe, e já não depende dele próprio para chegar isolado ao dérbi com o Sporting, mesmo que vença, quinta-feira, na Madeira, o Nacional, no que resta do jogo em atraso.
Se é verdade que pelo pouco que produziu, especialmente na segunda parte, até pode dar-se por satisfeito por ter conquistado um ponto, não é menos verdade que a má exibição deixa insatisfeitos adeptos, corrói algumas convicções que nasceram com a recuperação da equipa e alimenta dúvidas que pareciam esquecidas ou esmagadas. Foi uma noite má e na qual houve desaparecidos sem combate. Sim, no Benfica.
O Benfica dominou e controlou o jogo na primeira parte, quase sem contestação, mesmo sem ser intenso ou colérico, mesmo sem criar muitas oportunidades. Com o Aves SAD muito recuado, jogou quase sempre em ataque posicional, sem a urgência de quem quer resolver depressa as coisas para ficar descansado. Sentiu-se confortável.
Bruno Lage trocou Otamendi, Carreras (castigado), Florentino, Di María e Pavlidis por António Silva, Beste, Leandro Barreiro, Amdouni e Arthur Cabral e recuperou o 4x2x3x1 de Roger Schmidt, adaptando a tática aos recursos. Kokçu, ao lado de Barreiro, voltou à posição de que disse não gostar.
Depois de uma oportunidade clara do Aves SAD — António Silva comprometeu a sair a jogar e Mercado nem à baliza foi capaz de disparar (10') — o Benfica tomou conta do jogo, repetindo uma e outra vez a fórmula — Akturkoglu, Amdouni e Aursnes faziam uma linha entre os defesas e os médios do Aves, permitindo a projeção dos laterais (nunca houve, porém, profundidade no jogo da equipa) e, sobretudo, servindo de apoio a Kokçu e Leandro Barreiro para combinações ofensivas, em toques curtos e com a bola a rolar depressa.
Foi num desses lances, no qual participaram Bah, Aursnes, Akturkoglu e Amdouni que marcou — disparo de Amdouni com o pé esquerdo à entrada da área depois de serviço de Akturkoglu.
O golo não animou o Benfica. A equipa deixou-se andar em velocidade de cruzeiro, por não sentir ameaça do lado contrário. Foi um Benfica demasiado conformado e sem imaginar o que lhe iria acontecer. Até porque o Aves SAD não voltou a criar perigo até ao intervalo.
Outro jogo
lage
A segunda parte foi completamente diferente da primeira. E não foi preciso muito a Daniel Ramos para mudar o jogo. Só obrigar a equipa a começar defender mais à frente no terreno, a partir da área do Benfica. E, como aconteceu com o V. Guimarães e o Bolonha, os encarnados, pressionados, não encontraram linhas de passe para sair a jogar.
Aos 71' Bah, sem espaço para progredir e sem companheiros livres para receber a bola, desesperava e abria os braços. Naquela imagem estava toda a dificuldade que o Benfica sentiu e da qual não foi capaz de se libertar.
Antes já Daniel Ramos tinha lançado Nenê e Vasco Lopes. O jovem avançado de 41 anos esteve duas vezes perto de marcar, disparando uma vez nas costas de António Silva para defesa de Trubin (63') e cabeceando ao poste (66'). Neste último lance Fernando Fonseca obrigou o guarda-redes ucraniano a grande intervenção. Vasco Lopes também entrou com o dedo no gatilho e pronto a disparar. Em 16 minutos o Aves SAD rematou seis vezes! E o Benfica já só defendia. Mal.
Bruno Lage sentiu o perigo e, aos 74', trocou Kokçu e Akturkoglu por Rollheiser e Florentino, voltou ao 4x3x3 para tentar recuperar o controlo do meio-campo e da bola. A ação do treinador foi mais de contenção de danos. E menos para matar o jogo. Só uma vez voltou à baliza do Aves SAD, num pontapé de Trubin para a frente, desviado por Pavlidis e que Andreas Schjelderup aproveitou para marcar. Estava fora de jogo.
O Benfica tinha, então, desaparecido do jogo e sem combate. O Aves SAD, emocionalmente por cima, procurou o empate que surgiu, no tempo de compensação, num cabeceamento de Devenish (marcado por Rollheiser!) após livre lateral.