CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO De reféns absolutos a reféns relativos (artigo de José Manuel Delgado)
Enquanto permanecemos reféns absolutos do novo coronavírus, situação que irá manter-se pelo menos até ao fim do mês (e aqui tenho vontade de citar Anthony Fauci, que tem sido a voz da razão nas declarações que chegam da Casa Branca, que disse que quem manda, nesse particular, não é o presidente, mas sim o vírus), interrogamo-nos sobre como será o dia em que vamos evoluir para reféns relativos da Covid-19.
Porque, ninguém pensará, por um momento que seja, que a autorização de regressar à vida ativa será sinónimo de retorno ao mundo como o conhecíamos antes da pandemia.
Até que seja descoberta uma vacina, estaremos condenados a restrições que vão afetar todos os eventos de massas, seja assistir à bênção papal dos domingos na Praça de São Pedro, o Haje, peregrinação anual a Meca, a final da Taça de Inglaterra, em Wembley, ou as 500 milhas de Indianápolis.
Vamos necessitar de muita coragem para mergulhar num novo normal cheio de dúvidas, incertezas e desconfianças, mas há que ter a convicção profunda de que a vida tem de continuar, e ficar indefinidamente refém absoluto não é solução.
De Taiwan, relativamente ao mundo do desporto, chegam-nos imagens que nos permitem antever o futuro possível, longe do ideal mas fazível. A Liga Profissional de Basquetebol daquele país asiático, que conta com cinco equipas, continua a funcionar, tendo sido processadas as seguintes alterações à normalidade:
- Como está regulamentado que não podem estar mais do que cem pessoas em recintos cobertos, esse número é encontrado entre jogadores, staff, pessoal da manutenção e profissionais de televisão e alguns jornalistas, e os jogos são sempre realizados no mesmo pavilhão.
À chegada, é medida a febre a todos os participantes, e quem apresentar uma temperatura superior a 37.5º não entra. Também só é permitido o acesso a quem se apresentar com sapatos com solas de borracha. Antes do jogo, em cada ’time out’ e ao intervalo, os jogadores desinfetam-se com uma solução alcoólica, procedimento que é seguido também com as bolas. Estão proibidos os ‘high fives’ e verificou-se uma anormal procura de informação, no Facebook, sobre o estado de forma ou as lesões dos jogadores de cada equipa; à míngua de jogos, os apostadores, especialmente da Índia e da Rússia, procuram informação suplementar que possa dar-lhes alguma vantagem.
Não é a mesma coisa, os jogadores norte-americanos que disputam esta Liga dizem que o ambiente é como se estivessem a jogar ao fim-de-semana com os amigos, mas é o que é possível arranjar.
Por cá, os primeiros passos do desporto depois do levantamento (parcial?) do confinamento, não deverão andar muito longe desta experiência em Taiwan. E com a nossa proverbial capacidade de adaptação, provavelmente, depois destes meses de privação, acharemos o máximo o que o novo normal nos trouxer.
A única coisa que não podemos fazer é ter pressa, por esta, como todos sabemos, é má conselheira.