12 novembro 2023, 23:56
O dérbi segundo João Neves
«Lá, onde a coruja dorme», a opinião de Luís Mateus
Alemão conseguiu causar desconforto ao rival com decisões que foi tomando; minutos finais são contraste com solidez leonina a partir dos 30 minutos; além de João Neves e Florentino, também Morato foi fundamental
O dérbi foi emoção, alma e resiliência, mas também contou com um lado tático importante. O Sporting parece acabar melhor na fotografia, o que não poderá ser dissociado do lastro que trazia, mas a verdade é que há decisões importantes de um Roger Schmidt já a colher críticas que têm influência no resultado.
O primeiro ponto é que, aparentemente, Schmidt surpreende Amorim. Até pelas indicações que dá durante a conferência de antevisão, o técnico do Sporting já estaria à espera de nova reconversão do sistema por parte do alemão, num regresso ao 4-2-3-1, porém a ficha de jogo, já depois de o onze dos encarnados ter sido precisamente o primeiro a ser tornado público através do site do clube, não o confirma. Afinal, o germânico apenas troca Arthur Cabral por Petar Musa.
É preciso esperar pelo pontapé de saída para se perceber que, afinal, Morato não é central e sim lateral, João Neves aparece no meio e não na direita e Aursnes é defesa e não ala, agora do lado contrário ao que vinha a ser utilizado até aqui. João Mário sobe ainda no terreno, agora para a esquerda.
Surpreendidos ou não, os leões demoram a estabilizar e a primeira meia-hora cai para o lado das águias, com Rafa, por duas vezes, uma ao ferro, e Florentino, a desperdiçarem boas oportunidades. Morato, que se revelará mais tarde ainda mais importante, consegue encurtar de imediato em Edwards, impedindo-o de embalar, embora mostre dificuldades em segui-lo para o lado do seu pé mais fraco, o direito. Os desequilíbrios criados pelos leões surgem precisamente com os movimentos interiores do inglês e também de Pedro Gonçalves, que aproveitam espaços entre linhas. Mas, lá está, só a partir dos 30 minutos.
Até aí, os movimentos pressionantes, não só verticais como também basculantes, de João Neves e Florentino – para já, a dupla que melhor se complementa – e as antecipações de António Silva e Otamendi (Aursnes melhora na segunda parte) bloqueiam o conjunto de Alvalade. A reação à perda funciona de forma satisfatória e empurra o Sporting para trás, ao contrário da pressão alta, que apesar de encaixar melhor na saída leonina, com Musa atento a Coates, Rafa mais perto de Diomande e Di María a posicionar-se na linha de passe de Inácio para Matheus Reis –, perde coesão. O Sporting demora algum tempo a ligar com o terceiro homem e tem de apostar nos esticões de Gyokeres.
12 novembro 2023, 23:56
«Lá, onde a coruja dorme», a opinião de Luís Mateus
Os locais também beneficiam da esporádica pressão alta, alternada com o habitual bloco médio – propositado para atrair para a transição –, lhes ter dado espaço para respirar. Mais tranquilos do que o habitual, conseguem sair das imediações da sua área, mas só criam perigo em ataques rápidos ou momentos de insistência após bolas paradas. O ataque posicional continua, sublinhe-se, muito pouco produtivo.
É, então, por volta dos 30 minutos, que Diomande obriga Trubin à primeira boa intervenção, na sequência de um pontapé de canto. Três minutos depois, após belo passe picado de Edwards, o ucraniano voltou a brilhar, agora ao negar o golo a Pedro Gonçalves. O Sporting consegue finalmente envolver a defesa rival e controlar a partida.
Na última jogada da primeira parte, Morato comete um erro fatal, talvez o único. Coloca a bola num pressionado João Mário, que a perde. Edwards faz um túnel ao brasileiro e embala, servindo a diagonal inside-out de Gyokeres. O sueco confirma os créditos de finalizador com um remate de primeira que dá a vantagem ao leão.
O regresso do intervalo traz outra nuance. Preocupado com a incapacidade de criar jogo pela direita, Schmidt terá pedido a Rafa para começar a pisar também esses terrenos.
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E, aos 50 minutos, Gonçalo Inácio tem um erro inexplicável. Ao tentar ligar com o ataque, faz um passe a queimar, que Aursnes recupera. O norueguês coloca de imediato a bola para a velocidade de Di María, enquanto Rafa corre paralelamente ao argentino. O central reage, estica a perna, aparentemente para tentar chegar à bola, e derruba o português. Amarelo inevitável, o segundo. Arranca nesse instante um novo jogo.
É com mais um campo que o Benfica parece pior. Os leões cerram fileiras à volta de Adán e as águias não conseguem furar a muralha. Aos 70 minutos, é mesmo Trubin a assinar nova grande intervenção perante Pedro Gonçalves (fora de jogo assinalado, porém impossível de confirmar a olho nu), já depois de Gyokeres ter por um ou outro momento assustado a última linha encarnada.
As dificuldades dos visitados, muito pouco dinâmicos e associativos, em entrar na área leonina voltam a saltar à vista sete minutos depois. Di María tenta de longe e Adán desvia para a trave.
Saem do banco as últimas cartadas: Amorim refresca o ataque, mas acaba com Paulinho no meio-campo e Bragança e Essugo no banco; Schmidt isola João Neves no meio-campo, projeta ainda mais os falsos laterais e Guedes entra para tentar mexer com o jogo, o que consegue. É na sequência de uma falta sobre o avançado emprestado pelo Wolves que Di María provoca o canto mais valioso da partida. O argentino aponta ao primeiro poste, Morato desvia para a zona do penálti e João Neves – a milhas de todos os outros, o melhor em campo – atira a contar.
Três minutos depois, é Morato (outra vez), num momento de reação à perda no meio-campo leonino, quem garante um último ataque. A bola segue para Rafa, que coloca na esquerda em Di María. O argentino, que até aos 77 minutos passara ao lado do jogo, flete para o meio, mas volta atrás para oferecer a Aursnes um último cruzamento para a confusão. A linha defensiva do Sporting está inexplicavelmente desalinhada. Rafa arrisca um toque de calcanhar completamente a despropósito e sobrevive à linha de fora de jogo, com a bola a chegar a Tengstedt, lançado por Schmidt aos 64 minutos, para o golo da vitória.