Bolshoi infetado, mesmo à porta fechada (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Bolshoi infetado, mesmo à porta fechada (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL14.04.202012:54

À medida que vão sendo tomadas medidas para o regresso à normalidade possível - Itália, Espanha e Áustria ensaiam os primeiros passos, entre a prudência e a incerteza – entram na discussão questões pertinentes, que colocam a nu a tremenda falibilidade de várias soluções propostas no mundo do desporto.
 

Por exemplo, na Alemanha debate-se o que fazer se, retomada a Bundesliga, mesmo à porta fechada, uma ou mais equipas apresentarem casos positivos que requeiram hospitalização para uns e quarentena para outros? Mesmo minimizando riscos e realizando jogos que envolvam um máximo de 150 pessoas, ninguém garante a 100% a intransmissibilidade da Covid-19. Veja-se o exemplo da Companhia de Dança do teatro Bolshoi, de Moscovo, que atuou à porta fechada num espetáculo transmitido para toda a Rússia, que visava homenagear os profissionais de saúde: há 34 infetados e quarentena para os restantes…
 

Concordo que, num determinado momento, e com o aval das autoridades de saúde, vamos ter de sair do casulo, tomando precauções que minimizem os riscos. Mas persiste uma nebulosa em relação a demasiadas questões, para que possa sentir-me confortável, na certeza de que, a partir de agora, vai ser como jogar King para nulos: o objetivo é perder o menos possível.
 

Até que haja uma vacina para a Covid-19 e que o processo de produção a massifique e imunize o planeta, ainda vamos ter de esperar sentados algum tempo, seis meses para os otimistas, ano e meio para os mais realistas. Significa isso que a necessidade de manter as competições desportivas sem público vai perdurar no tempo e novas formas de financiamento, que ocupem o espaço da bilhética, vão ter de ser implementadas. Uma outra solução, intermédia, podia apontar para a redução substancial das lotações de estádios e pavilhões. Mas os riscos associados a juntar 10.000 pessoas em vez de 60.000 ainda se afiguram demasiados, para uma fase em que o mais importante é não potenciar n ovas vagas da pandemia.
 

Os desafios que aí vêm são tremendos e vão exigir uma enorme capacidade de adaptação a todos nós, em todas as áreas.

É o Mundo Novo, que nada parece ter de admirável,  que dá nome a estas crónicas…