Bicicleta beirã insuficiente para o ‘tiki-taka’ do leão: a crónica do Tondela-Sporting
Os golos do Sporting são duas obras artísticas, ambas com o selo de Bragança; Tondela só mais tarde se uniu à festa, também com golaço
Para este Sporting não há encontros assim-assim! Não há desafios a sério e desafios a brincar. Seja na Europa, na Liga, na Taça de Portugal ou na Taça da Liga, como foi o caso de ontem, o compromisso dos leões de Rúben Amorim é sempre o mesmo, a seriedade e a ligação ao jogo não se alteram, a intensidade, a entrega e a garra são sempre de um nível extremamente elevado, nada importando se pela frente está a Atalanta, o FC Porto ou o Tondela e sendo pouco relevante se em campo, no onze, estão os principais nomes ou as segundas linhas.
E, nem mesmo quando até pode perder e ainda assim garantir o objetivo, esta equipa sucumbe à tentação de relaxar, de baixar os níveis de concentração ou de aproveitar para descansar. Nem pensar!
Junte-se a tudo isto uma boa dose de arte e classe, sobretudo as demonstradas, primeiro, por Daniel Bragança, decisivo nos dois golos leoninos (ambos nascidos e criados no tremendo laboratório do tiki-taka) e, mais tarde, pelo beirão Hélder Tavares, a reduzir numa bela bicicleta, e teremos a poção que, depois de tomada, dará a perceção do que foi este Tondela-Sporting em vésperas das festividades natalícias e para qual, sublinhe-se, muito contribuiu a forma aguerrida como os tondelenses encararam o confronto, procurando, desde cedo, desligar o botão informador de que são equipa de segunda escalão e nunca desistindo de procurar sorrisos e glória, nem mesmo quando pouco depois da meia hora se viram a perder por 0-2.
Uma vontade, esta do conjunto anfitrião, que foi crescendo à medida que crescia a crença — sobretudo na metade final do jogo — de que era possível contornar a poderosa primeira parte do Sporting. E teve nisso culpa Tozé Marreco — o técnico do Tondela é ainda hoje o segundo melhor marcador da história da Taça da Liga, com 12 golos, só superado por Paulinho que ontem fez o seu 21.º na prova — quando, aos 60’, fez três substituições que deram mais velocidade e profundidade ao futebol beirão, aspetos que muito contribuíram para o que se ia adivinhando: o golo da honra tondelense, num belo lance, marcado não só pela tremenda falha de Matheus Reis, que deixou a bola passar-lhe por cima, mas sobretudo pela bicicleta de Hélder Tavares, após passe de Xavier.
Contas feitas, foi bem melhor a primeira parte, mais viva, mais intensa, mais bem jogada, do que a segunda, marcada pela dança das substituições e por algum cansaço leonino, mas ainda assim animada pelo despertar tondelense, num jogo em que foi evidente a superioridade do Sporting, líder incontestado da Liga — que deu descanso à estrela maior, Gyokeres, mas não à sua altíssima capacidade de mostrar bom futebol.
Prova disso são, como já mencionado, os dois golos leoninos, duas obras de arte, nascidas da escola do tiki-taka, com constantes trocas de bola, curtas ou mais longas, ora para a frente, ora para trás, até ao instante final. Foi assim no 1-0 sportinguista, foi também assim no 2-0.
No primeiro, aos 18’, e já depois de se ter visto Paulinho acertar na trave (5’), eis a bola a passar por Trincão, Bragança, Hjulmand e Nuno Santos, que assistiu Daniel Bragança; este parou de peito e disparou de pé esquerdo e de forma acrobática. No segundo, aos 32’, foi a vez de o esférico passear pelos pés de Matheus Reis, Pedro Gonçalves, Paulinho e Bragança que, de calcanhar, assistiu para o remate fortíssimo de Paulinho, a fugir ao guarda-redes.
Futebol total rumo à sétima Final Four consecutiva do Sporting, que, das seis anteriores, conquistou quatro, perdendo uma final (a última) e caindo uma vez nas meias.