Sentem que trata todos de igual forma. Que não há uns mais importantes que outros. Maneira como lidou com a viagem de Otamendi só reforçou a ideia
Cento e dez dias, dez vitórias e um empate depois de Bruno Lage ter tomado conta da equipa, o Benfica subiu ao primeiro lugar do campeonato. O mau começo de época poderá parecer um passado distante, mas a verdade é que o treinador de 48 anos, na segunda passagem pela Luz, meteu as coisas nos eixos — esse é, pelo menos, o sentimento da estrutura de futebol profissional e, talvez mais importante, dos jogadores. O grupo abraçou a mudança e sente-se recompensado. Mas continua a prevalecer a ideia de que o trabalho está inacabado.
O resultado do trabalho do treinador reflete-se em campo. Vitórias importantes neste caminho inicial —no campeonato com FC Porto ou o jogo em atraso na Madeira com Nacional, na Liga dos Campeões com Atlético Madrid ou Mónaco — reforçaram positivamente a convicção de que foi certa a opção de mudar Roger Schmidt por Bruno Lage.
Gerard Garriga, que vai defrontar as águias no Mundial de Clubes, mostra a felicidade por enfrentar as águias, com jogadores que «há dois anos, estavam a celebrar a conquista». Pode é não dar para trocar camisolas: «Só temos duas para jogar o torneio inteiro»
O treinador, entende-se na Luz, tem sabido gerir a comunicação e utilizado melhor os recursos. E, no plantel, os jogadores sentem que os jogos são bem preparados, a estratégia e plano de jogo são adequados em função do adversário, as suas características são bem aproveitadas e, mais que confortáveis, estão satisfeitos e alinhados com as novas ideias.
O tempo reforçou ainda uma ideia sem a qual qualquer grupo resistirá — os jogadores sentem-se tratados da mesma maneira, havendo, naturalmente, o cuidado individual e a sensibilidade para lidar com assuntos particulares.
A viagem de Nicolás Otamendi à Argentina para participar na festa do 15.º aniversário da filha é o último exemplo. Lage confirmou informação de A BOLA — o capitão tinha feito o pedido e recebido autorização há cerca de quatro meses. Não só compreendeu a situação como validou a autorização.
Otamendi não participou nos dois treinos da equipa antes do jogo com o Estoril, mas manifestou a Lage o desejo de jogar, acrescentando, porém, que compreendia a decisão de ficar no banco. Foi, aliás, isso que aconteceu, com António Silva a substituir Otamendi no onze inicial.
Esse foi, no fundo, mais um episódio que se enquadrou na forma de Lage gerir os relacionamentos individuais. E que tem efeitos profundos nos jogadores. A afirmação de que não há estatutos, antes do jogo com o Estoril, não caiu em saco roto. Os jogadores, neste momento, estão convencidos de que todos contam. E, agora na liderança, também sabem que todos serão precisos para alcançar os objetivos.