Arthur Cabral na luta e à prova de pressão
Arthur Cabral estreou-se a marcar pelo Benfica no último jogo, frente ao Lusitânia dos Açores (Foto Eduardo Costa/LUSA)

Arthur Cabral na luta e à prova de pressão

NACIONAL22.10.202308:00

'Day-after' à estreia a marcar pelo Benfica teve muitas mensagens. Avançado nunca desesperou com a seca e demorou menos tempo a marcar que Darwin e um tal de Óscar Cardozo...

Há já algum tempo que Arthur Cabral não recebia mensagens como as que recebeu nas últimas horas, não muito diferentes das que se habituou a ver no telemóvel a cada golo marcado pela Fiorentina na época passada. Foram várias e fizeram-lhe bem à alma, apurou A BOLA.

Foi essa, aliás, a principal diferença dos outros dias para o day-after do avançado brasileiro de 25 anos à estreia a marcar pelo Benfica, na sexta-feira, ele que emergiu como principal destaque da vitória (4-1) dos encarnados nos Açores sobre o Lusitânia, que apurou as águias para a 4.ª eliminatória da Taça de Portugal.

O caso não era para menos. Arthur Cabral, antes de ser titular na prova rainha, vinha de sete jogos em branco, acumulava 230 minutos sem qualquer golo para amostra. Pouco para quem tinha chegado com a missão, difícil, de fazer esquecer Gonçalo Ramos, que antes da transferência milionária para o PSG deixou lastro de 27 golos, 19 dos quais a contribuírem diretamente para a conquista do 38.

Pensou-se que, com a experiência acumulada na Europa, e com 17 golos marcados em 48 partidas pela Fiorentina em 2022/2023, Arthur Cabral não teria dificuldades de adaptação a novo país e ao futebol português. Mas no futebol as coisas nunca são tão lineares. E o tempo é, sempre, soberano. 

Arthur Cabral estava ciente disso e nunca desesperou com o início em branco na Luz. Foi paciente, atirou-se ao trabalho nos treinos e foi fazendo o que tinha para fazer à espera que nova oportunidade batesse à porta, já ciente, porém, da pressão externa, que adveio, também, do preço pago na Luz pelo seu concurso, 20 milhões de euros, mais cinco por objetivos.

O golo ao Lusitânia, é verdade, ajudou por tudo isto a tirar alguma pressão de cima dos ombros de Arthur Cabral, porque os avançados vivem de golos e o brasileiro não estava a viver como queria, mas aquele chapéu ao minuto 68 do jogo nos Açores serviu, sobretudo, para abrir a tampa da panela da pressão externa que já tinha muito vapor acumulado e ameaçava explodir. 

Mas a pressão sentida por Arthur Cabral, essa, foi normal, e, ao oitavo jogo pelo Benfica, e depois de 298 minutos de ação de águia ao peito (média de 37,2 minutos/jogo), o brasileiro quebrou o gelo, esconjurou fantasmas e conseguiu finalmente agitar as redes adversárias. Precisamente 140 dias depois do último golo marcado pela turma viola, a 2 de junho último.

Quem falou com Arthur Cabral depois do jogo dos Açores deu conta de um dia normal, de enorme tranquilidade para o avançado, que voltou ao trabalho no Seixal. Tranquilidade, também, no sentido de paz de espírito, de um jogador que estava ciente do que diziam do jejum de golos, mas que continuou sempre focado no trabalho. 

Aliás, para Arthur Cabral a questão da seca de golos na Luz foi sempre mais externa e enquadrava-se num contexto específico. Sim, foram sete jogos em branco, mas apenas dois como titular e apenas por duas vezes a superar 45 minutos em campo. O que é substancialmente diferente de ter feito os 90 minutos nos sete jogos e a falhar muitas oportunidades. 

Ou seja, para Arthur Cabral esta travessia no deserto nunca foi propriamente uma má fase, antes dores de crescimento e de adaptação a uma nova realidade. A tranquilidade que ontem sentia foi praticamente a mesma que teve nas últimas semanas, mas, tal como é melhor para uma equipa trabalhar em cima de vitórias, também para um avançado é melhor trabalhar em cima de golos. Arthur sabia que a hora ia chegar e já chegou. O resto, agora, é só com ele.

Percebeu-se, de resto, que também no seio do plantel dos encarnados o golo de Arthur Cabral foi recebido com alívio e alegria, com os colegas do brasileiro a perceberem o significado do momento para o avançado. O compatriota Morato, aliás, resumiu tudo com um «ufa» nas redes sociais de Arthur Cabral. Até David Neres, que esteve ausente do jogo dos Açores, escreveu um «vamos, monstro», ao passo que João Mário, que se estreou a marcar esta temporada pelos encarnados, brindou-o com um «boa, arturito».

No mais, é preciso ter em conta que no futebol, e não só, não interessa como começa mas sim como acaba. E tendo em conta que jogadores como Darwin Núñez ou Óscar Cardozo demoraram mais tempo a chegar ao primeiro golo pelos encarnados – 398 minutos e 368 minutos, respetivamente – do que Arthur Cabral, a realidade é que, nesta altura, nada impede o avançado de 25 anos de começar a trilhar caminho... glorioso.