CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Aglutinar ou fraturar? Uma questão de bom senso… (artigo de José Manuel Delgado)
Depois da Áustria, da Dinamarca e da Itália, outros países, como a Alemanha, a Polónia e a República Checa começaram a dar, hoje, os primeiros passos rumo ao ‘novo normal’, com a abertura de pequenos comércios, cabeleireiros e mais setores considerados não essenciais. Outros se seguirão, neste jogo de gato e rato com o vírus, até que seja inventada a ratoeira que dê cabo dele de vez.
Há sinais que, mesmo aparentemente insignificantes, nos incutem esperança num amanhã melhor, ajudando-nos a ultrapassar aquilo que desejamos que seja a última fase do confinamento.
Por exemplo, a simplicidade com que o Papa Francisco tem conduzido a vida pública da Igreja – inesquecíveis as imagens da Praça de São Pedro vazia, enquanto o Sumo Pontífice celebrava a Páscoa – devia fazer escola e ensinar-nos que nesta conjuntura os atos simbólicos são mais do que suficientes para manterem vivas as tradições (não é preciso pôr os velhinhos do lar a beijar a Cruz, não é…). Ou seguir o caminho tomado pelo Grande Mufti saudita, Abdul Aziz bin Abdullah al-Sheik que disse aos muçulmanos, quando está para começar o mês do Ramadão, que «devido às medidas de prevenção levadas a cabo pelas autoridades para lutar contra o novo coronavírus, as pessoas vão ter de rezar em casa para obter a virtude de rezar.»
Estes exemplos deviam servir de bússola para outras celebrações, do 25 de abril ao 1.º de maio, momentos que vão estar sob grande escrutínio público e servirão de modelo para comportamentos futuros da população em geral.
É evidente que são datas importantes, que devem ser assinaladas. Mas é possível fazê-lo com atos simbólicos, enviando uma mensagem de responsabilidade e respeito por quem tem feito sacrifícios para não incumprir o confinamento, sob pena de dias que deviam ser aglutinadores, se transformarem em elementos fraturantes da sociedade.
No fundo, bastará bom-senso e alguma coragem política em São Bento e em Belém.
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O futebol em Espanha ficou ontem mais perto do regresso, depois de uma reunião, que durou oito horas, promovida pelo Conselho Superior do Desporto, e que sentou à mesma mesa os presidentes da Liga e da Federação, há muito desavindos. Perante a crise, o diálogo e depois a solução. Uma boa receita para aplicar em Portugal, não entre Liga e Federação mas, pelo menos, entre os presidentes dos três mais representativos clubes do país…
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Parabéns ao novo septuagenário Humberto Coelho, jogador de classe mundial, selecionador de uma das melhores equipas da história do futebol português, no Euro 2000, e vice-presidente da FPF para o futebol na gesta de França, em 2016. O sucesso de Humberto Coelho nas três vertentes referidas ficou em grande parte a dever-se a um carisma e uma liderança que nasceram com ele. Cristiano Ronaldo, Eusébio, Figo, três Bolas de Ouro, foram melhores jogadores? Sem dúvida. Mas ninguém duvide de que Humberto foi o grande líder do nosso futebol.
Parabéns, amigo.