CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO A mensagem do capitão do Dortmund (artigo de José Manuel Delgado)
Marco Reus, capitão do Borussia Dortmund, teve uma declaração importante, em entrevista ao El País, na véspera do recomeço da Bundesliga: «Os clubes estão a tentar salvar o futebol, por isso não nos devemos queixar.»
No fundo, apesar da importância que o regresso da modalidade mais popular do planeta pode ter para devolver uma sensação de normalidade à população em geral e apesar ainda do impacto da indústria do desporto no PIB de cada país, no fim do dia o que está em causa é salvar um negócio que como escreve hoje em A BOLA o notável pensador que é Paulo Teixeira Pinto, citando o antigo líder chinês Deng Xiao Ping, «não interessa de que cor é o gato, desde que cace ratos».
Amanhã são esperadas audiências televisivas estratosféricas para os jogos da Bundeliga, que serão vistos em quase todos os países do mundo. Karl-Heinz Rummenigge, que tremendo ponta-de-lança!!!, presidente-executivo do Bayern, projetou que um sétimo da população mundial poderá ver o derby do Ruhr entre Dortmund e Schalke. Mas mesmo que não estejam mil milhões colados às televisões, o impacto e o simbolismo deste recomeço, com melhor ou pior futebol, tem um valor intrínseco importante.
Sem grandes demoras, com a eficácia e o pragmatismo que é imagem de marca da Alemanha, os clubes da Bundesliga trataram de limar as arestas do problema em tempo útil.
Por cá, ultrapassada a fase mais delicada, que envolveu Governo, autoridades de saúde, FPF, Liga e que teve até o condão de juntar à mesma mesa os presidentes dos três grandes, está estabelecido um roteiro para o regresso, mas subsistem alguns problemas, que vistos de fora não passam de minudências, mas que parecem fazer parte do ADN do nosso dirigismo: nada deve ser simples, é preciso encontrar sempre alguma coisa para complicar.
Comparado com o que está em jogo, e regresso às palavras de Marco Reus relativas à Bundesliga - «os clubes estão a tentar salvar o futebol, por isso não nos devemos queixar» -, se alguma coisa vier a correr mal em função de pequenos obstáculos que vão surgindo aqui e ali, e se for desperdiçada a oportunidade de, depois do naufrágio provocado por um icebergue chamado Covid-19, concluir-se a viagem em salva-vidas à porta fechada, então ter-se-á levado a tendência autofágica há muito reconhecida aos futebol português, a níveis de insanidade que reclamam internamento.
A estrada é estreita, pedregosa, de cada lado há precipícios sem fim e o vento sopra forte. Francamente, assim já é suficientemente difícil chegar ao fim da jornada; por favor, não compliquem mais…