A mensagem do capitão do Dortmund (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO A mensagem do capitão do Dortmund (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL15.05.202014:03

Marco Reus, capitão do Borussia Dortmund, teve uma declaração importante, em entrevista ao El País, na véspera do recomeço da Bundesliga: «Os clubes estão a tentar salvar o futebol, por isso não nos devemos queixar.»

No fundo, apesar da importância que o regresso da modalidade mais popular do planeta pode ter para devolver uma sensação de normalidade à população em geral e apesar ainda do impacto da indústria do desporto no PIB de cada país, no fim do dia o que está em causa é salvar um negócio que como escreve hoje em A BOLA o notável pensador que é Paulo Teixeira Pinto, citando o antigo líder chinês Deng Xiao Ping, «não interessa de que cor é o gato, desde que cace ratos».
 

Amanhã são esperadas audiências televisivas estratosféricas para os jogos da Bundeliga, que serão vistos em quase todos os países do mundo. Karl-Heinz Rummenigge, que tremendo ponta-de-lança!!!, presidente-executivo do Bayern, projetou que um sétimo da população mundial poderá ver o derby do Ruhr entre Dortmund e Schalke. Mas mesmo que não estejam mil milhões colados às televisões, o impacto e o simbolismo deste recomeço, com melhor ou pior futebol, tem um valor intrínseco importante.
 

Sem grandes demoras, com a eficácia e o pragmatismo que é imagem de marca da Alemanha, os clubes da Bundesliga trataram de limar as arestas do problema em tempo útil.
 

Por cá, ultrapassada a fase mais delicada, que envolveu Governo, autoridades de saúde, FPF, Liga e que teve até o condão de juntar à mesma mesa os presidentes dos três grandes, está estabelecido um roteiro para o regresso, mas subsistem alguns problemas, que vistos de fora não passam de minudências, mas que parecem fazer parte do ADN do nosso dirigismo: nada deve ser simples, é preciso encontrar sempre alguma coisa para complicar.
 

Comparado com o que está em jogo, e regresso às palavras de Marco Reus relativas à Bundesliga - «os clubes estão a tentar salvar o futebol, por isso não nos devemos queixar» -, se alguma coisa vier a correr mal em função de pequenos obstáculos que vão surgindo aqui e ali, e se for desperdiçada a oportunidade de, depois do naufrágio provocado por um icebergue chamado Covid-19, concluir-se a viagem em salva-vidas à porta fechada, então ter-se-á levado a tendência autofágica há muito reconhecida aos futebol português, a níveis de insanidade que reclamam internamento.
 

A estrada é estreita, pedregosa, de cada lado há precipícios sem fim e o vento sopra forte. Francamente, assim já é suficientemente difícil chegar ao fim da jornada; por favor, não compliquem mais…