A crónica do Santa Clara-FC Porto: Dragão controlou quase tudo com muita paciência
(GRAFISLAB)

A crónica do Santa Clara-FC Porto: Dragão controlou quase tudo com muita paciência

NACIONAL16.08.202419:58

FC Porto apanhou dois grandes sustos, mas regressa a casa com mais três pontos no bolso, fruto de exibição muito segura

Futebol é rasgo e paciência e o FC Porto ganhou nos Açores com rasgo e paciência. Sobretudo paciência. Superou o susto inicial de ver Diogo Costa evitar, bem cedo, o golo do Santa Clara, partiu para o domínio do jogo em quase todas as vertentes e viu o adversário logo de seguida, talvez com demasiada sofreguidão, querer chegar ao golo, empurrando o dragão bem para junto da sua área.

Porém, entrou aí a lei do lençol que, ao cobrir a cabeça, destapa os pés. Tão adiantado estava o bloco do Santa Clara, pensando como equipa grande e querendo jogar como equipa grande, que encostou o FC Porto, momentaneamente, junto da área de Diogo Costa, mas deixou quase um latifúndio descoberto no seu meio-campo. Galeno fez um corte que mais pareceu uma pré-assistência para Nico González, este viu Ivan Jaime bem projetado na direita e com espaço e tempo para correr, meteu-lhe a bola na frente e o número 17 azul e branco fez o que tão bem tem feito neste início de época: golo.

Desbloqueado o jogo, o FC Porto manteve a paciência de jogar apenas pelo seguro, numa espécie de 4x4x2 losango, em que Ivan Jaime era o vértice mais adiantado e Alan Varela o mais recuado, com Vasco Sousa e Nico González mais abertos nas alas. Se há, no entanto, palavra que explica com maior exatidão a filosofia de jogo deste FC Porto, é hibridismo.

Sim, o 4x4x2 losango talvez seja o sistema que mais perto fica de explicar a forma como Vítor Bruno colocou os jogadores em campo. Mas apareceram depois múltiplas variantes, aquilo que em futebolês se designará por subsistemas, como 4x1x2x3 (com Ivan Jaime a descair para a direita), 4x3x3 (quando Alan Varela se juntava a Nico González e Vasco Sousa) ou mesmo, embora muito espaçadamente, sobretudo na fase inicial de construção, numa espécie de 3x4x3 (com Alan Varela junto dos centrais e Martim Fernandes e Galeno mais projetados).

Pouco depois, de novo com intervenção de Galeno, primeiro no início da jogada que originaria a grande penalidade (Alysson derruba Fran Navarro) e depois a concretizar, na perfeição, o remate dos 11 metros, o FC Porto fez o 2-0 e, quase em definitivo, tranquilizou-se. E estas três palavras (quase em definitivo) não surgem neste texto por acaso. É que, pouco depois do 2-0, os dragões passaram por mais um susto e, de novo, muito grande: Diogo Costa não foi feliz na receção da bola, esta toca num adversário e dirige-se, célere, para dentro da baliza. Porém, aparece Galeno, em cima da linha de golo, a evitar o 2-1 que recolocaria o Santa Clara na discussão do resultado e dos pontos.

Entrados na segunda parte, esperava-se que Vasco Matos fizesse algo para inverter a lógica do jogo. E o Santa Clara apareceu com maior pressão no jogador do FC Porto que fosse portador da bola e conseguiu, de algum modo, estancar a supremacia dos dragões. Iniciou-se o período em que os açorianos mais equilibraram o jogo. Porém, quase logo de seguida, Adriano Firmino tem entrada duríssima no tornozelo de Alan Varela e, após visualizar as imagens no VAR, Fábio Veríssimo transforma o amarelo em vermelho e a emoção do jogo praticamente termina aí.

Onze contra dez, o FC Porto reassumiu o controlo total do jogo e, na última meia-hora, dá um retoque na máxima que diz que futebol é rasgo e paciência e aposta na paciência. Paciência para não tentar com demasiado ímpeto chegar perto da baliza de Gabriel Batista e, com isso, poder colocar a de Diogo Costa em perigo e paciência, sobretudo, para não se desgastar demasiado em busca do 3-0, permitindo algum descanso a quem jogou com tamanha canícula. Não quis, no fundo, que o lençol que lhe cobria a cabeça lhe destapasse os pés.