Ricardo Salgado confrontado por lesados do BES ao chegar ao tribunal
Ricardo Salgado chega ao Campus de Justiça, em Lisboa, acompanhado pelo seu advogado, Francisco Proença de Carvalho. Foto: André Kosters/LUSA

Ricardo Salgado confrontado por lesados do BES ao chegar ao tribunal

DIVERSOS15.10.202411:04

Julgamento do processo BES/GES começa esta terça-feira

Ricardo Salgado, ex-banqueiro atualmente com 80 anos, foi confrontado por lesados da falência do Banco Espírito Santo ao chegar ao Campus de Justiça, em Lisboa, para o início do julgamento do caso BES/GES.

O antigo banqueiro chegou por volta das 9:20 horas, acompanhado pela mulher e pelo advogado, Francisco Proença Carvalho, quando um dos lesados se dirigiu à sua pessoa e lhe disse que «tinha capacidade para resolver o problema dos lesados».

Jorge Novo, lesado do BES, dirigiu palavras a Ricardo Salgado. Foto: André Kosters/LUSA

«O seu primo [José Maria] Ricciardi testemunhou aqui na porta, dizendo que foi feita uma provisão. O senhor [Ricardo Salgado] mandou-nos um documento escrito de que deixou uma provisão. Onde está a provisão do Novo Banco? Onde está a provisão? Eu estou sem o meu dinheiro. Eu exijo a provisão que é dos lesados. Respeito», disse.

Apesar de ter interpelado Ricardo Salgado, o lesado admitiu que a culpa não recai exclusivamente sobre o ex-banqueiro: «Tomaram posse do seu império. Novo Banco, CMVM, um grupo de trabalho liderado por Diogo Lacerda Machado fizeram uma solução para os lesados sem a consulta de nenhum lesado, quando tínhamos uma provisão deixada por Ricardo Salgado. Esses senhores aproveitaram-se de um grupo de trabalho para tratar da vida deles, dos bolsos deles e continuam a faturar», atirou. O ex-presidente do BES, note-se, não reagiu às palavras.

Protesto à porta do tribunal, em memória das pessoas que já perderam a vida e não foram ressarcidas pelo caso BES. Foto: Tiago Petinga/LUSA

Além de Jorge Novo, o lesado que interpelou Ricardo Salgado, outras formas de protesto fizeram-se sentir à entrada do Campus de Justiça. Pessoas com camisolas pretas com os nomes de vítimas que já faleceram participaram numa ação simbólica em memória das vítimas do BES/GES, numa iniciativa organizada pela Associação de Defesa dos Clientes Bancários (ABESD) e pela Associação de Emigrantes Lesados da Venezuela e África do Sul (ALEV), «em memória das vítimas que já perderam a vida na esperança de recuperar os seus bens e poupanças de vida».

Ricardo Salgado, recorde-se, é o principal arguido do processo, ao qual estão associados mais de 300 crimes, sendo que ao próprio estão imputados 62 crimes, como associação criminosa, corrupção ativa e burla qualificada. Liderou durante mais de duas décadas o BES, até ser forçado a sair da presidência da instituição por pressão do Banco de Portugal, em junho de 2014.

Defesa do ex-banqueiro pronunciou-se à saída

Ricardo Salgado já abandonou, entretanto, o Campus da Justiça. À saída, a defesa do ex-banqueiro considerou que foi aberta, esta terça-feira, «uma página negra na justiça portuguesa diante de todo o mundo, porque isto não é só um caso que interessa a Portugal».

Ricardo Salgado acompanhado da sua mulher, Maria João Bastos Salgado, e do seu advogado, Francisco Proença Carvalho. Foto: André Kosters/LUSA

Francisco Proença Carvalho fez questão de relembrar aos jornalistas presentes que «o relatório médio é perfeitamente claro relativamente à dependência quase total de Ricardo Salgado para as tarefas mais básicas», deixando críticas à forma como a justiça portuguesa está a lidar com a situação: «Sabemos como este tipo de casos, com este tipo de pessoas com estas doenças são tratadas no mundo civilizado e ficámos a saber como são tratadas no mundo incivilizado, em que eu achava que Portugal não estava.»

A sala do julgamento encontrava-se em pleno silêncio no momento em que Ricardo Salgado foi identificado. O antigo presidente do BES conseguiu dizer o nome completo e o nome dos pais, embora se tenha engando no nome da mãe. Não conseguiu também dizer a sua morada completa, apesar de conseguir afirmar que vive em Cascais. Isso mesmo confirmou Francisco Proença Carvalho aos jornalistas: «Deu a morada errada, nome da mãe errado. Data de nascimento não sabia. Tivemos de ser nós a dizer isso [que não queria estar presente]

Notícia atualizada às 11.41 horas