Tudo o que disse Bruno Fernandes: do reencontro com Diogo Costa, ao mau momento em Manchester e ao que a Seleção lhe dá
Portugal defronta a Polónia para a Liga das Nações e o médio admite que este estágio veio na melhor altura
Bruno Fernandes atravessa um mau momento no Manchester United. Duas expulsões, em dois jogo consecutivos, deixaram marcas numa altura em que o médio encontra na Seleção o apoio necessário para voltar ao melhor nível. Na antevisão para o jogo de qualificação com a Polónia, em Varsóvia, este sábado, falou de tudo. e mostrou estar tranquilo e confiante.
O que esperam da Polónia?
Obviamente a Polónia é uma seleção com grandes nomes, com jogadores de grande qualidade, que jogam nas melhores ligas do mundo. Sabemos que o poderio físico é provavelmente a maior arma deles em relação àquilo que têm vindo a fazer. São muito fortes na bola parada, algo que tem vindo a ser trabalhado por nós. É uma seleção que tecnicamente também tem jogadores de grande qualidade, tanto nas alas como no meio. E principalmente na frente, é visível a toda a gente a qualidade que eles têm.
O Bruno admitiu nas redes sociais que está a viver uma das fases menos positivas da carreira. Como é que o espaço da Seleção pode contribuir para melhorar esse momento?
Eu quando falei de um mau momento foi em relação obviamente às duas expulsões numa semana. Duas que eu acho que foram algo injustas. Uma acabou por ser retirada e comprovou-se ser injusta. A segunda por ser num segundo amarelo não pôde ser retirada. Faz parte do futebol, são coisas que acontecem e eu não posso pensar muito nisso. Está no passado. Aquilo que eu fiz foi assumir as responsabilidades daquele momento, porque deixei os meus companheiros, principalmente no jogo contra o Tottenham, a jogar 45 minutos contra onze. E eles com menos uma unidade a terem de correr atrás do resultado. Isso não tem ligação com aquilo que é o espaço de Seleção, porque tenho vindo a demonstrar um bom nível. É um espaço onde eu me sinto cada vez melhor. Sinto que consigo usufruir do meu futebol a um nível muito alto, também pelas dinâmicas que temos, pela qualidade que tenho ao meu lado, e que me ajuda bastante. Em relação ao clube é melhorar assim que lá chegar. É fazer com que os golos voltem a aparecer. Sou um médio que faz muitos golos, que ao longo dos anos sempre exibiu um nível de golos muito alto, e tenho de viver com essas expectativas. O que tenho vindo a fazer esta época não é o que eu quero fazer. Ainda não marquei no clube e espero que assim que lá chegar consiga marcar e ajudar o clube a voltar às vitórias e a um bom nível.
Neste momento já é um dos jogadores mais experientes desta Seleção. Ainda se lembra de quando chegou, há uns anos, carregado de ambição?
Sim e já falei sobre isso até quando o João Neves veio a primeira vez à Seleção. Aquela timidez inicial e a vergonha de falar com os mais velhos. Isso aconteceu comigo. Quando cheguei estava cá o Cristiano, mas tinha jogadores como o Nani, o Coentrão, que também chegou a vir, o Bruno Alves, o Zé Fonte, o próprio Beto…. Foram jogadores que me acarinhavam muito e que à minha chegada me ajudaram bastante a sentir-me bem. Também havia jogadores que eu já conhecia como o Rui [Patrício] o William, o João Mário, o João Moutinho… Foram jogadores que sempre fizeram com que eu me sentisse bem e que conseguisse usufruir do espaço da melhor maneira para tentar ser o jogador que eu estava a ser naquele momento no Sporting. Para poder vir a crescer para um dia e estar cada vez melhor, num patamar que a Seleção exige. O meu papel agora é fazer com que os outros que cá chegam se sintam da mesma maneira. Que possam desfrutar do futebol deles e que me façam desfrutar a mim, e a todos os portugueses, da qualidade que eles têm. Existe um motivo para cá estarem e algo de bom tiveram de fazer. Agora há que desfrutar do momento, porque oportunidades assim não aparecem muitas vezes, e nem para toda a gente. Temos de saber que é uma oportunidade única na nossa carreira representar a nossa Seleção.
O treinador Rúben Amorim tem sido associado ao futebol de inglês. Acha que está preparado para dar o salto?
Não é novidade que desde que o mister Rúben Amorim chegou o Sporting tem sido das equipas a praticar melhor futebol. Têm sido muito consistentes, as contratações têm sido muito acertadas. Acho que estão num momento muito bom. Foram campeões no ano passado, este ano começam já na frente e é uma equipa que está muito bem preparada. Em relação a mister Rúben Amorim já falei várias vezes sobre ele. Já disse várias vezes que é um treinador que neste momento demonstra que está preparado. Porque estar como treinador do Sporting e ganhar campeonatos não é fácil. O Sporting esteve 20 anos sem ganhar um campeonato e o mister Rúben veio e já ganhou dois. Isso demonstra que o trabalho dele está a ser bem conseguido. Agora se conseguirá fazer o mesmo em Inglaterra, em Espanha ou em outro lugar qualquer nunca se saberá até ele lá chegar. Mas, tenho a certeza de que as qualidades do Rúben Amorim estão aos olhos de toda a gente.
Como é que foi o reencontro com o Diogo Costa neste ambiente da Seleção?
O reencontro com o Diogo Costa foi como sempre. Igual. Tivemos um jogo onde nos defrontámos, onde jogámos um contra o outro, e onde cada um estava a defender os seus clubes e os seus interesses. Não passa mais do que isso. O Diogo estava a fazer o trabalho dele, a tentar ganhar o jogo. Eu a tentar fazer o mesmo. Nenhum dos dois levou o melhor, acabámos por empatar o jogo, mas não houve qualquer tipo de ressentimento ou alguma coisa pelo facto de eu ser expulso. Não foi o Diogo que se atirou para o chão a fazer de conta aquilo que eu lhe acertei na cabeça. E mesmo que tivesse sido, estava a fazer o papel dele, a tentar tirar alguma vantagem do jogo. E o futebol funciona mesmo assim.
Como é que é esse papel de jogador mais velho para integrar todos os novos que vão chegando a este grupo?
Acaba por ser natural. Foi natural quando eu cá cheguei e os jogadores todos demonstraram essa vontade para comigo e para todos os outros que eram integrados no grupo. Hoje é ainda mais natural porque a diferença de idades, não é assim tão grande. Apesar de termos alguns jogadores experientes, temos ainda uma Seleção muito jovem, com jogadores que jogaram juntos nas seleções. Eu, da minha geração, tenho muitos que jogaram comigo no Sub-21. Já nos conhecemos, o ambiente é muito saudável e tem de continuar assim, pois um ambiente saudável faz com que os resultados sejam mais fáceis de conquistar.
Como é fazer essa passagem, em termos psicológicos, de vir de Manchester para Portugal para representar a Seleção? O que é que muda na cabeça do jogador?
Vou falar por mim, pessoalmente muda muito porque o espaço é diferente. Não há um momento positivo nesta altura no Manchester, pois não estamos a ganhar jogos, e o espaço de seleção é completamente diferente. Neste momento, e nos últimos tempos, tenho-me sentido muito à vontade aqui, sinto que posso desfrutar do meu futebol. Entramos em todos os jogos para ganhar, as dinâmicas são muito boas e os jogadores têm saído todos muito beneficiados daquilo que temos vindo a fazer. Estou no meu país, falo a minha língua, tenho melhor comida. Tudo isso mexe com o psicológico do jogador. O importante é saber diferenciar os momentos, os lugares, mas, sobretudo, fazer com que aquilo que tem vindo a ser negativo, passe isso para positivo. No clube ou na Seleção tento dar o meu melhor em todos os jogos que eu entro. A minha vontade, as minhas dinâmicas e aquilo que eu quero levar para o jogo, nunca muda.
A Polónia provavelmente vai jogar com a linha de 5 a defender. O que é que a Seleção tem de fazer para conseguir desmontar este tipo de jogo?
Obviamente já estudámos o adversário. É uma seleção muito forte fisicamente, muito forte nas bolas paradas, algo que também foi trabalhado. Falando da linha de 5, temos de ser pacientes com a bola. Eu sei que, por vezes, podemos ter menos remates à baliza, podemos ter menos oportunidades de golo, mas sendo mais pacientes e circulando a bola, com alguma intensidade, é fundamental para quebrar as linhas de 5. Tem de haver muita movimentação, principalmente nos espaços, para fazer com que os espaços entre linhas fiquem ainda maiores, para tentar usufruir do espaço que possa haver nas costas desta defesa. E, se não houver, tentar criar espaço para os jogadores que possam estar entre linhas e ter tempo de rodar e olhar para a frente, para depois servir os jogadores mais ofensivos.
Foi um dos que conquistou a Liga das Nações em 2019. Que diferenças é que esta Seleção tem face àquela da altura?
A primeira diferença é que ainda não chegámos à final four. Todas as seleções foram fortes, independentemente dos nomes que por aqui passaram, e daquilo que ganharam ou deixaram de ganhar. Acho que Portugal sempre teve uma Seleção forte. Se olharmos para a história daquilo que é o nosso país e o futebol do nosso país, tivemos grandes nomes, e jogadores que sempre representaram a Seleção ao maior nível e ao nível que é exigido. Depois há alturas que se vai mais longe, outras que se fica pelo caminho, outras que se ganha, como aconteceu em 2016 e em 2019. Esta seleção quer repetir esse feito de 2019, porque nenhuma seleção portuguesa entra para qualquer tipo de competição para não ganhar. Toda a gente sabe que a nossa ambição é sempre ganhar, e para ganhar, há de ganhar todos os jogos. Por isso, agora queremos ganhar à Polónia.