Mister da Bola: noves fora tudo
A análise de Vítor Manuel à goleada histórica da seleção nacional
Alteração tática
Os resultados da Seleção Nacional sob a liderança de Roberto Martínez, com cinco vitórias que não se podem por em causa mas não havia relação causa-efeito com as exibições da equipa. Esta era a grande questão que se colocava, pois não era uma equipa constante em termos exibicionais, tanto que o espanhol, que iniciou a seu comando na Seleção com um sistema de 3x4x3, começou a perceber nos dois últimos jogos que para a equipa tivesse mais equilíbrio, tinha de deixar cair este sistema.
Na Eslováquia alterou para um 4x3x3, com a introdução mais um médio para a equipa ter mais bola mas não foi uma exibição nesse aspeto por mérito do adversário, que pressionou muito nos primeiros 45 minutos e não deixou os nossos médios virarem-se. Mas a sensação que ficou é que queria a equipa dentro daquilo que o selecionador pensava – o nosso ADN. No encontro com o Luxemburgo deu-se a perda de um médio e colocou mais um avançado, passando a um 4x4x2 muito mutante. Com esta alteração e a dinâmica do 4x4x2, os jogadores, perante um Luxemburgo que vinha de três vitórias consecutivas e com hipótese de apuramento, apesar de ser equipa multicultural, o que enriqueceu a seleção que pode fazer história.
Binómio Dalot-Danilo
Os luxemburgueses não conseguiram dar seguimento a essa série de bons resultados, fruto da excelente exibição da Seleção Nacional, conseguida através dum 4x4x2 mutante, fundamentalmente através do binómio Dalot-Danilo, pois Portugal construía a três, com Rúben Dias, Danilo e Gonçalo Inácio. Esta variação de posições, com Danilo a trazer Dalot mais para dentro como médio interior ao lado de Bruno Fernandes, transformando-se o 4x4x2 em 3x2x5 ou num 3x2x4x1, no qual o lateral que se projetava mais era Nélson Semedo.
Quando entravámos na fase de construção fazia-se triangulações com Nélson Semedo, Bruno Fernandes – o grande maestro -- e Bernardo Silva. Assim, descobria-se espaço no lado esquerdo, com o lateral direito luxemburguês sempre à procura da gazela Rafael Leão, que com a sua potência, velocidade e qualidade no 1x1 conseguindo dar muita largura ao jogo.
Depois, com esta variabilidade Portugal parecia ter mais jogadores em todas as zonas do terreno, o que é a virtude das grandes equipas. A partir daí os golos apareceram com naturalidade, com os jogadores muito confortáveis neste modelo. Portugal parece que fez uma adaptação um bocadinho parecida com aquilo que o Man. City tem. Outro fator muito importante foi os jogadores estarem colocados nas suas posições, o que deu possibilidade de executarem rapidamente pois faziam-no com o seu pé dominante.
Jogar mais
O selecionador tinha dito que a equipa tinha de jogar mais e isso verificou-se. Há ainda que fazer referência à dupla de avançados, com Gonçalo Ramos mais fixo e Diogo Jota mais móvel. Perante a dinâmica de Portugal, Luxemburgo começou em 4x5x1 em momento ofensivo, mas defensivamente teve de baixar o ala esquerdo para jogar em 5x4x1.
Portugal, que fez cinco alterações em relação ao jogo de Bratislava, tinha sempre mais jogadores a atacar e a defender. A Seleção Nacional soube sempre correr bem com e sem bola. A exibição não foi perfeita mas quase, podendo até marcar mais do que os quatro que marcou.
Salto alto, não
Somos um bocadinho de 8 e 80 mas não nos podemos colocar de salto alto devido a termos conseguido a maior goleada de sempre – felizes mas não arrogantes.
Na segunda parte, o primeiro quarto de hora foi mais brando, com o Luxemburgo a estender-se mais, com Portugal a controlar o jogo mas Martínez, aos 60 minutos, ao colocar Cancelo, João Félix -- grandíssimo golo que lhe aportará mais confiança – e Ricardo Horta. Estes jogadores trouxeram mais energia e foram à procura de mais golos. Isto revela o momento emocional que a equipa estava a ter, com os jogadores a voltarem ao mesmo registo da primeira parte. Portugal não alterou o sistema mas estes jogadores trouxeram coisas novas à equipa. Aos 75 saiu Danilo e entrou Rúben Neves para a mesma posição.
Não há exibições perfeitas mas se é possível atingir a perfeição o jogo com o Luxemburgo estará nesse patamar.
Era bom para o futebol português que este jogo servisse de jurisprudência para o futuro. E o bom senso aconselha prudência. Este jogo merecia ter tido a presença de Cristiano Ronaldo, pelos recordes que bateu em 20 anos na Seleção Nacional. Era mais um...