Villas-Boas não é Pinto da Costa. Quer ser?
Villas-Boas a receber o Dragão de Ouro das mãos de Pinto da Costa

Villas-Boas não é Pinto da Costa. Quer ser?

OPINIÃO14.04.202508:54

Quem, com um plantel já limitado, vende, a meio da época, os melhores jogadores para fazer face a buracos de tesouraria, não tem moral para insinuar, sequer, que a culpa dos maus resultados tem a ver com os treinadores...

O FC Porto não estará a passar por uma das mais entusiasmantes fases da sua história. E, num momento como este, há que ser absolutamente claro, porque quem entender que ficar a meio-caminho será suficiente para realizar a contenção de danos que agrade a gregos e troianos, não só vai desagradar a uns e outros, como se colocará na posição Ómega (passe a publicidade), que não atrasa nem adianta.

 Vamos por partes: André Villas-Boas foi eleito com uma vantagem esmagadora sobre Pinto da Costa porque os sócios dos Dragões tiveram a perceção de que a gestão do líder histórico estava a atirar o clube para a ruína. Aliás, não só depois do ataque à sua área residencial, nem só depois dos acontecimentos da Assembleia Geral que estão a ser analisados num Tribunal do Porto, mas ao longo da campanha eleitoral, a Villas-Boas não doeu a voz para proclamar que só através de uma mudança seria possível que o clube, que se encontrava mesmo à beira do precipício, não desse um passo em frente. Uma vez eleito, e elaborada uma auditoria forense (cujas consequências ainda vão no adro), os piores receios de Villas-Boas ficaram aquém da realidade. Os cofres estavam cheios de teias de aranha, acumulavam-se dívidas de curto prazo, e era preciso fazer alguma coisa para evitar a insolvência.

Numa primeira fase, além de medidas financeiras assertivas (e nesse particular, Villas-Boas está muito bem acompanhado), foi decidido entregar a equipa a Vítor Bruno que, num ato de coragem, aceitou o desafio e fez com os limões que lhe deram a melhor limonada possível. Os erros de Villas Boas começaram depois: em primeiro lugar quando quis ter sol na eira e chuva no nabal, diabolizando quem acompanhava Pinto da Costa, sem tocar no antigo presidente. Esta ambivalência, louvável em certa medida, fragilizou-lhe o discurso.

O que Villas- Boas devia ter tido a coragem de dizer era que este era um ano zero para o FC Porto, Vítor Bruno era a melhor escolha porque sabia da situação e mesmo assim dava o peito às balas, e enquanto não houvesse uma normalização financeira do clube, havia que ser paciente. Mas o presidente do FC Porto, perante resultados menos bons, não foi capaz de resistir à pressão, e decidiu trocar de treinador, quase ao mesmo tempo em que, para fazer face a problemas de tesouraria, vendia dois dos três melhores jogadores do plantel.

O que já não era a última Coca-Cola do deserto, depois das partidas de Nico González e Galeno, passou de mal a pior. Imputar culpas a Anselmi, apesar de alguns erros óbvios, é quase tão mau quanto foi despedir Vítor Bruno, porque o pecado original está na falta de qualidade do plantel (comparativamente com os outros). Nunca teve coragem de dizer aos sócios «isto é o que é, e melhores tempos virão», e procurou vender fumo, com guerras virtuais (a última das quais na presidência da Liga), de que saiu invariavelmente mal. Villas-Boas, creio, ainda vai a tempo.

Desde que não queira ser Pinto da Costa, nem use como cartilha os métodos e o discurso de Pinto da Costa, que teve o seu tempo, e acabou cilindrado na última Assembleia Geral eleitoral do FC Porto.