Vencer ‘vs.’ comer: qual o preço para alcançar o pódio?
As perturbações alimentares representam um desafio significativo para os atletas de elite
No mundo da alta competição, o controlo sobre a dieta é essencial, mas a fronteira entre saúde e patologia alimentar é delicada. O controlo sobre a dieta dos atletas é visto como normal, adequado e até desejável, contudo a linha que separa a relação normal com a alimentação de uma relação patológica é demasiado ténue e fácil de ultrapassar no contexto de alta competição. Alguns atletas de elite como Simone Biles ou Michael Phelps abordaram publicamente o tema.
As perturbações alimentares são caracterizadas por uma disfunção persistente na alimentação ou no comportamento alimentar que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial. De entre as perturbações alimentares destacam-se a perturbação de ruminação, perturbação de evitamento ou restrição, anorexia, bulimia ou compulsão alimentar. Os números apresentados pelos estudos mais recentes são alarmantes e apontam para uma prevalência de cerca de 70% dos atletas com manifestações clínicas ou subclínicas de perturbação alimentar. É verdade que a prevalência é maior em atletas femininas, contudo este está longe de ser um problema de género. E, apesar de existirem modalidades classificadas como de risco elevado, por exemplo, modalidades de categoria de peso, resistência e de foco na estética, o risco de desenvolver perturbações alimentares é elevado e está presente de forma transversal nas diferentes modalidades, incluindo nas modalidades de grupo, como por exemplo no futebol. As restrições alimentares, o controlo do peso e o cuidado da imagem corporal são questões diárias nos atletas de elite, independentemente da sua modalidade, contudo, as perturbações alimentares e os seus sintomas não devem ser vistas e aceites como um não-problema ou uma parte funcional da alta competição. Para além do culto da imagem corporal no desporto, são as pressões a que os atletas estão submetidos que os tornam mais suscetíveis a transtornos de ansiedade, tornando o alto rendimento um terreno fértil para as perturbações alimentares. Adicionalmente, atletas com perturbação alimentar apresentam uma maior prevalência de sintomatologia ansiosa e depressiva; além disso, as perturbações alimentares provocam alterações bioquímicas no organismo que podem conduzir à própria autodestruição.
As perturbações alimentares representam um desafio significativo para os atletas de elite, ameaçam não só a saúde do atleta, mas também, a médio-longo prazo, o seu desempenho e o seu bem-estar geral.