VARdades desportivas

OPINIÃO09.12.201903:00

O sucesso ou o insucesso depende da expectativa. É assim no futebol e na vida. Depende do que esperamos e do que esperam de nós.


O balanço do VAR é, também, uma questão de expectativa. Quem aí viu um Santo Graal depois de décadas no deserto tem de ficar desiludido. Já quem se contenta com a diminuição de erros, de forma indiscriminada e apenas em termos percentuais, ficará satisfeito.


É, no entanto, necessário, e para bem do próprio VAR, que esqueçam esse conceito populista e propagandista de «verdade desportiva». Não existiria num sistema exemplar, menos ainda neste com tantas imperfeições. O jogo não é feito apenas de quatro momentos e, mesmo que assim  fosse, o fator humano continua a ser imprescindível para que o processo funcione. Se os árbitros não são bons, a lógica diz-nos que dificilmente os videoárbitros o seriam. Mesmo quando a recolha de prova (imagens) é eficaz, e isso nem sempre acontece, a interpretação continua a ser praticamente tudo. Se é má, o VAR não funciona. Simples.


O que o VAR conseguiu foi libertar os árbitros de pressão. Se continuam a ser julgados internamente pelos erros que cometem, agora em primeira e segunda instância (antes e depois da análise do videoárbitro), o julgamento em praça pública tem como réu aquele que, com todos os meios à disposição, não evita o erro. O videoárbitro substituiu o árbitro como bode expiatório dos derrotados.


O VAR pode ser melhor, claro. Melhores imagens, melhores árbitros e videoárbitros, e uma comunicação eficaz resultarão, esperemos, em menos polémica. Até a UEFA propõe um intervalo de tolerância nas linhas de fora de jogo, o que promete discussão, mas vem no sentido de voltar a humanizar o jogo. O erro é tão antigo quanto a humanidade. Só os dirigentes mesmo é que acham que podem atirar a primeira pedra.