Vamos vencer o Santa Clara e depois ganhamos a taça

OPINIÃO26.01.202206:00

Uma derrota, em casa e logo com o Braga, pouco depois de outra, não se pode dizer que não deixa marcas. Mas cura-se

J Á todos ouviram dizer que a melhor forma de curar os efeitos de uma derrota é… uma boa vitória. O Sporting, que perdeu dois dos últimos três jogos, tem esta possibilidade: joga hoje, para a Taça da Liga, com uma equipa que o derrotou para o campeonato, o Santa Clara. Joga em Leiria, em terreno neutro, e tem de saber de cor os erros que não pode cometer. Uma vitória que nos ponha na final contra o Benfica, que venceu ontem, penosamente e nos penáltis o Boavista, é uma excelente forma de começar a curar a maleita. Depois, uma vitória na final sobre o clube da Luz deve completar o tratamento.
No jogo contra o Braga, o que houve? Não sei ao certo; mas houve menos Sporting (versão Rúben Amorim) do que o costume. Pode chamar-se a terreiro os erros de Gonçalo Inácio em duas situações que deixaram Adán apertado (uma dando um livre indireto dentro da área); ou então a ingenuidade e voluntarismo de Matheus Reis no lance do penálti; ou a sorte do jovem bracarense Gorby aos 90+7 minutos de jogo. Mas também se pode dizer que o futebol tem destas coisas e, na verdade, preferi uma derrota, que nos abanasse seriamente, do que um empate; friamente, ainda bem que Gorby marcou um golo como não vai marcar muitos.
Emoções à parte, foi um bom jogo e o Sporting, na segunda parte, foi bem anulado, sem saber desfazer o nó que o Braga lhe fez. É a vida. Porém, no meio de tudo isto, há algo que não podemos esquecer, como jamais podemos esquecer, mesmo no lugar mais inóspito, uma obra de arte. A perfeição e a nota artística só ganham competições em patinagem no gelo e, talvez, em ginástica, dressage e saltos para a piscina. Em futebol a perfeição é linda de se ver, mas não dá mais pontos. Caso contrário o golo de Pedro Gonçalves a passe magistral de Matheus Nunes valia por cinco (dando de barato que o de Gorby podia valer por dois, deixava o resultado em 5-3 para o Sporting). Bom, estou a sonhar, mas tal como se faz nas boas passagens de música; nos grandes momentos dos filmes; nos pormenores das grandes telas ou esculturas e nas linhas magistrais dos grandes romances, é imperioso um segundo e terceiro olhar para alcançar o significado notável, transcendente, do momento.
E assim, como nas pautas acompanhamos os compassos selecionados, nos livros as linhas destacadas; nas pinturas os detalhes ou expressões das figuras representadas, no futebol podemos rebobinar e ver devagar, depressa; quase parado, a correr; de um ângulo e de outro. De todas as maneiras. É um regalo.
 

«Preferi uma derrota, que nos abanasse seriamente, do que um empate»


ANATOMIA DE UM GOLO

Abola vem de um defesa para Matheus Nunes, e este corre pela ala esquerda, desde antes do meio-campo. Ao chegar a uns 40 metros da baliza bracarense, tem Matheus Reis a desmarcar-se junto à linha e Sarabia, na frente, entre dois defesas a oferecer-se para receber a bola. Que fará o médio português nascido no Brasil, mas já titular da nossa Seleção?
Não liga a Matheus Reis, que não poderia mais do que centrar, tendo ainda dois defesas à sua direita; não passa a Sarabia, que, estando de costas para a baliza, e assim recebendo a bola, seria abordado rapidamente pela defesa do Braga; mas vê lá do lado direito, a correr como uma flecha, para a área, Pedro Gonçalves. Antes que este ultrapasse todos os defesas, e fique em fora de jogo, Matheus faz um passe extraordinário. Um daqueles passes que parece de futebol de praia, ou de futsal. Trava, ajeita a bola com o pé direito e, quase já parado, com dois oponentes a correrem na sua direção, pica a bola por cima de todos até esta ir cair, redonda, certeira, hábil, no pé direito de Pedro Gonçalves que nesse momento já se encontra isolado, diante do guarda-redes. Atrás dele, porque o seguiu de perto, está Paulinho e, mais atrás, dois defesas bracarenses que acordaram tarde para o lance.
A bola aninha-se no pé direito do melhor marcador do Sporting na época passada. Não como se tivesse cola, porque ressalta um pouco, mas como se um elástico a prendesse àquele pé. No trajeto descendente do esférico, este bate na relva e volta a subir ligeiramente; Pedro Gonçalves, agora com o pé esquerdo, remata por entre as pernas do guarda redes adversário (também ele Matheus) e faz o golo. Ao guardião resta colocar uma mão no ar, a indicar um fora de jogo do avançado. Outros elementos do Braga o indicam e o próprio árbitro auxiliar o marca. Mas o VAR chama a atenção e o árbitro, Hugo Miguel, valida a jogada. Era golo; Matheus Nunes passara a bola, ainda Pote estava atrás de três defesas (além do guarda-redes); em relação ao penúltimo defesa, o que contava, estava mais de um metro e meio atrás. Não havia fora de jogo, nem qualquer falta a assinalar. Nada a assinalar, salvo uma jogada genial.
Interrogo-me sobre as razões de se perder quando se tem jogadores deste nível. A resposta é o próprio jogo. O futebol não é um jogo de azar, no sentido em que os resultados são aleatórios, mas é um jogo; e todos os jogos com fair play, coisa que nem sempre (ou muitas vezes) existe no futebol, não têm vencedores antecipados. Por todo o mundo se vê.
No caso do Braga, reconheça-se que a equipa fez uma excelente partida, e na segunda parte fez por merecer o empate. O outro golo, já se sabe, quem não marca sofre e o Sporting foi desastrado atrás e perdulário à frente. Mas continuamos na luta!


VAR(iações) 

L EIO que o diretor de comunicação do meu clube, Miguel Braga, cuja ação tem melhorado muito, disse que o VAR não seguiu o protocolo, ao  alertar o árbitro para um penálti cometido por Matheus Reis que daria o empate ao Braga. Não duvido da interpretação do diretor de comunicação, as minhas dúvidas todas vão para o protocolo do VAR.
Como dizia Aristóteles em relação a Platão, também eu sou muito adepto do Sporting, mas sou mais ainda da verdade. E a questão é a seguinte: eu não vi penálti nenhum. Nem o árbitro. O VAR chamou a atenção e Hugo Miguel assinalou penálti. Na repetição em vários ângulos também vi que o pé de Matheus Reis tocou ao de leve no de Galeno, dentro da área. Portanto é penálti. No entanto, segundo o tal protocolo, o VAR só deve intervir perante um erro grave do árbitro e - como diz Miguel Braga - não assinalar uma falta que ninguém viu, inicialmente, não é um erro grave. Sendo assim, o VAR excedeu-se.
Ora, o meu problema está aqui. Se aquilo é penálti, não o assinalar é grave, porque pode mudar o resultado de um encontro. Esta regra, no entanto, tem de ser válida para o Sporting e para todas as equipas. Mas o VAR só deve existir para corrigir erros grosseiros da arbitragem? Isso é que, por muito que o protocolo o diga, não me parece ser justo. O VAR devia intervir, ou seja, os árbitros que estão comodamente sentados com várias câmaras de televisão e diversas perspetivas à sua disposição, deveriam intervir sempre que não há justiça. E isso deve ser válido para todos os penáltis, todos as entradas perigosas, todas as agressões sem bola, todos os cartões amarelos ou vermelhos (porque com dois amarelos é-se expulso).
Percebo que, inicialmente, com os tempos de espera para validar um golo, com as interrupções motivadas pelo VAR, se quisesse um mínimo de intervenção possível. Mas agora basta ver um jogo sem VAR (como foram os da Taça, até aos oitavos de final) para perceber as barbaridades que se cometem, e como faz falta a tecnologia ao serviço da verdade.
Miguel Braga fez bem em chamar a atenção para o protocolo, e se é como diz, é indecente. Mas, na minha modesta opinião, o protocolo é que está errado.


BÁSQUETE 

O Sporting venceu a Taça Hugo dos Santos (espécie de Taça da Liga) sobre o Benfica. A Taça Hugo dos Santos, que já teve vários nomes, nunca havia sido ganha pelo leões. Vencer a primeira à equipa que mais troféus destes coleciona (12) é ótimo; e sendo essa equipa o Benfica é super. 


JESUS NEGOU

Nas escutas intermináveis da não menos interminável operação Cartão Vermelho, que atinge Luís Filipe Vieira e mais uns quantos, Jesus diz que foi convidado para o Sporting quando estava no Flamengo, mas recusou. Se é verdade, eis que Jesus fez muito bem em ter recusado. Muito bem mesmo!


CANDIDATOS

Além de Varandas, o Sporting tem como candidatos às eleições de 5 de março Nuno Sousa, rodeado de alguns ex-apoiantes do senhor do Big Brother, e promete ter Ricardo Oliveira. Este último só não apresentou a candidatura ontem por ter testado positivo à Covid, tendo adiado o evento para dia 1 de fevereiro. Ricardo Oliveira é um gestor que vive o Sporting, mas claro que não tem hipóteses. Varandas deve continuar e por mim, e pelos muitos votos que Nuno Sousa me quer tirar, continuará!