Uns sabem o que querem
Quem tem acesso a milhões não precisa de potenciar escalões de formação. (...)É uma contradição que pode acabar por ter efeitos de abandono
CADA vez mais o futebol se torna um negócio de compra e venda como qualquer mercadoria. Quem tem acesso a milhões, não precisa de potenciar escalões de formação. É uma contradição que pode acabar por ter efeitos de abandono porque, sem a mística ancestral e a imprevisibilidade, pode restar unicamente o negócio.
O Chief Executive Officer (CEO) de uma SAD de clube nacional, numa entrevista muito divulgada nos EUA e no Reino Unido, lançou um aviso em que afirma que a nossa Liga está em contradição com as melhores europeias e falhamos, enquanto as outras Ligas crescem. Afirmou que a nossa prova principal continua a distanciar-se por atraso em relação aos outros países. Falta criar condições para se poder competir com os clubes mais fortes. Com os habituais quatro clubes nacionais (eventualmente mais um ou dois)a apurarem-se para as competições europeias, conseguimos atingir razoável nível de competitividade internacional. Entende que uma Liga fechada pode existir em algumas partes do globo, mas nunca a nível Europeu (mas noutros Continentes já pode?), porque a UEFA é essencial, assim como o demonstrou a última assembleia geral da ECA (European Club Association), em Viena: uma relação muito forte entre a UEFA e a ECA (onde esse CEO foi eleito para o respetivo cargo de diretor executivo). A ECA, segundo a sua opinião, é quem melhor defende os interesses dos clubes e de forma cooperante com a UEFA, em função de um entendimento objetivo. Na sua opinião, o futebol europeu está no rumo correto e não aceita a Superliga (afirmações do mesmo dirigente que, tempos atrás, aceitava, sem poder dizer não, se o seu clube fosse convidado para a tal Superliga! Pode ter-se esquecido). Os grandes clubes vão continuar a disputar troféus europeus, evitando para já a criação de uma competição fechada. Mantém que as competições do futebol europeu devem cumprir as regras estabelecidas pela ECA, para que o futebol siga no caminho certo, de acordo com as linhas da meritocracia. Não haverá sementes totalitárias?
OUTROS AINDA SONHAM
PRESIDENTES do Barcelona e do Real Madrid continuam a tentar criar a Superliga. A justificação apresentada serve de estratégia para lutar contra a enormíssima capacidade económica e financeira do dinheiro árabe de alguns clubes ingleses e também do PSG. Esses clubes (sempre com apoio da Juventus) continuam a acreditar ser possível construir a Superliga, embora num formato renovado.
«É uma forma de salvar o futebol europeu», justificou o presidente do Barcelona, explicando que se mantém o espaço dos campeonatos nacionais, sem acrescentar problemas às ligas nacionais da Europa, que acham indispensáveis. Consideram urgente não permitir o controlo do futebol europeu pelos Emiratos Árabes e o Catar, que não pertencem à União Europeia. Afirmam mesmo que o Manchester City e o PSG têm uma «máquina de fazer dinheiro» e esse é o verdadeiro adversário. Além dos clubes que lutam pela criação da Superliga, outros há que apoiam discretamente, com a intenção de manter a concorrência entre esse projeto e a Champions. Há clubes a aguardar evolução do novo formato dessa competição. A dúvida que se mantém é se a nova competição poderá ser apenas uma Champions melhorada ou uma competição inovadora (duas séries em vez de apenas uma, inclusão de mecanismos de subidas e descidas, sem necessidade de admissão por convite).
Neste momento, quem luta pela legalização da Superliga aguarda pela deliberação de entidade judicial, que emitirá uma sentença no final de 2022.
Nasser Al-Khelaifi, ‘chairman’ da ECA (e presidente do PSG) na Assembleia Geral de Viena
JOGOS COM MAIS MINUTOS?
AO ler que a FIFA e Gianni Infantino pretendem aumentar o tempo de jogo (não acreditamos que seja desejável nem possível) ficamos espantados, porquanto não é o tempo de jogo por si, mas como se utilizam os noventa minutos sem desperdício intencional. Por vezes, nem queremos acreditar em soluções (que surgem como os apetites) como a de aumentar o tempo de jogo de 90’ para 100’. Que lógica ou raciocínio brilhante consegue demonstrar que se trata de decisão pensada ou simplesmente para dar ideia de aproveitar o tempo de jogo? Sem ofender alguém, parece mais uma solução de conversa de café do que uma realidade. Dessa maneira, o presidente da FIFA entende que o aumento dos 90 minutos para os 100 minutos, serve como compensação, porque «as televisões pagam 90’ e não apenas os 50’ jogados». Quem é que pode ter uma ideia dessas, a não ser por graça? Para aumentar ainda mais o espanto de quem gosta de futebol, considerar que as cinco substituições para cada equipa causam mais perda de tempo, tem de ser fruto de brainstorming com amigos à volta de uma mesa, após conversa divertida. Não é aumentando minutos aos jogos, que se impede desperdício de tempo, mas com a falta de qualidade e exigência dos árbitros e dos treinadores. Dessa gente que opina sobre o aumento do tempo de jogo para 100’, há alguém que tenha jogado futebol? Ou então quem necessite de concordar com os líderes, para não perder mordomias! Temos quase a certeza, a não ser que um vendaval percorra os cérebros dos membros do IFAB (International Football Association Board), que essa eventual proposta, será recusada de imediato. Porém, nos últimos anos, já vimos tantas propostas de alteração às regras, que quase nada nos deixa admirados. E mesmo que o CEO da Aliança Global para Integridade no Desporto afirme que «o futebol não é um feudo para uma dúzia de clubes ricos, grandes responsáveis pelo estado comatoso a que muitos clubes chegaram», quem é capaz de negar os conflitos institucionais, as guerras de poder que todos tentam inclinar a seu favor? Clubes que respiram fortunas para aquisições, que se distanciam dos sócios que já perderam influência total, com verbas por conhecer a origem, acabam por fazer semelhante, com ou sem Superliga. Enquanto uns injetam milhões facilmente, outros vivem no equilíbrio instável das finanças precárias: afinal já há uns clubes Super e outros que tentam dar o máximo, mas nunca chega. Uma questão vocabular!
O OUTRO LADO DO MUNDIAL
AAmnistia Internacional (AI) denuncia abusos da lei laboral, em empresas de segurança no Catar. Funcionários que prestam serviço à FIFA denunciaram abusos intoleráveis (mais carga horária do que a legislação determina, com jornadas de 12h seguidas, quando o máximo de horas de trabalho é 60 horas semanais, sem folgas, sem descanso, multas por idas à casa de banho…) sofrendo penalizações e discriminação. Entretanto, os estádios aprontam-se, belíssimos e muito confortáveis. Os cidadãos do Catar, assim como os visitantes de todo o mundo, vão elogiar a beleza dos estádios, sem se aperceberem da injustiça sofrida pelos emigrantes que trabalharam para os edificar. Por isso, a AI denuncia a situação de violação dos direitos humanos mais elementares, enquanto a estrutura e os divulgadores do Mundial conseguem remunerações elevadíssimas. Outros abusos documentados reportam-se às instalações sem dignidade e densamente povoadas, salários ou tarefas com base na raça e sem pagamento de horas extraordinárias, entre muitas mais questões que não podem ocorrer… Simultaneamente, antigos craques internacionais do futebol, que estavam contra este Mundial, passaram a auferir verbas de milhões para promover essa competição.
DESTAQUES DA JORNADA
O Moreirense venceu o Gil Vicente, em Barcelos, Paços de Ferreira superou o Marítimo, Santa Clara derrotou o Estoril, o SC Braga foi ganhar em Vizela e o Portimonense venceu o Famalicão.
REMATE FINAL
Sérgio Conceição e o FC Porto, vencendo em Guimarães, conseguiram superar um recorde com muitos anos (Benfica com o treinador John Mortimore, que se mantinha desde de 1978 e foi derrotado pelo FC Porto por 1-0, com golo de José Alberto Costa) atingindo os 57 jogos sucessivos sem perder (46 vitórias, 11 empates, 131 golos marcados e 39 sofridos). Para além do recorde conseguido, Sérgio lançou na equipa principal 15 jogadores formados no clube e 9 que se estrearam nas respetivas seleções nacionais.
Vítor Oliveira, imortalizado num busto, na parede exterior do Estádio do Paços de Ferreira: justiça e memória!
Igor Belanov, Bola de Ouro em 1986, ao serviço do Dínamo de Kiev, agora com 61 anos, como outros antigos e atuais atletas, alistou-se no exército ucraniano, para combater a invasão da Rússia e defender o país onde nasceu. Nos últimos anos, foi consultor da Federação Ucraniana de Futebol.