Uma semana gloriosa…cheia de perigos
Podia ser tinhoso, como vejo muitos por aí, e insistir que a grande penalidade assinalada sobre Raphinha, no final do jogo Boavista-Sporting, era indiscutível. Não digo. Parafraseando Aristóteles a referir-se a Platão, gosto muito do Sporting, mas gosto mais da verdade. Ok, já sei que alguns daqueles sportinguistas que não veem um palmo à frente do nariz acharão isto crime de lesa-Sporting e que demonstra, aliás, que sou de outro clube qualquer, mas… aquilo não foi propriamente penálti.
Outra coisa, muito diferente, é que, do meu ponto de vista, o Sporting mereceu ganhar e que a atitude dos jogadores do Boavista nem sempre foi devidamente punida. Mas isso é toda outra história.
A semana continuou gloriosamente com duas ofertas do Benfica ao clube de azul que não devia chamar-se Belenenses e prolongou-se, de forma absolutamente fora de série, com os três golos de Ronaldo contra o Atlético de Madrid.
Não há um adepto do Sporting que não fique contente com estes resultados. Desde logo, o empate do Benfica (que pode ser redimido hoje na Liga Europa, dando mais uns pontos a Portugal), deixa-o igual ao FC Porto. Isto, quer queiram quer não, enerva as duas equipas, que sabem não terem o mínimo espaço para errar. É certo que o clube do lado errado da II Circular ainda vai à frente, mas não pode escorregar nem um pouco. Ambos ainda têm de ir a Braga (o FC Porto na 27.ª e o Benfica na 31.ª jornada), sendo que na última (a 34.ª) o FC Porto recebe o Sporting e se as coisas estiverem iguais, hei de ver muito benfiquista a pôr velinhas pelo Sporting.
Aliás o SC Braga e o Sporting, este depois dos acontecimentos do último Verão, já deviam estar mortos e liquidados, mas ainda andam à espreita de qualquer coisa. No que ao Sporting diz respeito, há uma Taça de Portugal pela frente e, se o campeonato parece impossível, tem um terceiro lugar à vista e quem sabe se um segundo… Há seis meses toda a gente me dizia que andaríamos a lutar pelo sexto ou sétimo lugar, a par com o Marítimo. Na verdade, era o que parecia.
Nuvens muito negras
Oacadémico Luís Aguiar-Conraria, um adepto tardio do SC Braga, porque influenciado por uma filha pequena que gosta a sério do clube, escreveu ontem no Público uma frase lapidar: «O dia em que se deixar de poder levar uma criança ao estádio será o dia em que o futebol morreu».
Queixa-se o professor de Economia da Universidade do Minho que foi ver o jogo contra o V. Guimarães com a sua filha e viu armas em ação. Eu lamento informar o estimado Luís Conraria que, levando à letra a sua frase, o futebol já morreu. Morreu na cena que ele descreve, onde andaram balas e pedras pelo ar; ou na forma como se enjaulam claques nos estádios; ou quando dirigentes de um clube agridem na tribuna de honra dirigentes do visitante (eu já disse que não foi penálti, mas um erro do árbitro e a frustração que dele decorre não é razão para bater em ninguém; caso contrário eu seria um Rambo)...
Enfim, à medida que muita gente ganha consciência sobre o que deve ser o futebol - um desporto e um espetáculo de família, com os seus erros e virtudes e não uma luta quase de vida ou de morte - há, também, demasiada gente a acusar tudo e todos e muito pouca com a cabeça no lugar. São estas que provocam nuvens negras no horizonte da nossa Liga, das nossas competições. São estes que agitam as massas associativas levando-os a pensar que bons dirigentes são aqueles que mais barafustam, enganam ou corrompem as regras e as pessoas que as devem defender e fazer cumprir. Tudo isto afasta dos clubes pessoas sérias, ou põe-nas debaixo de fogo quando alcançam a liderança. Magníficos, para muita gente do futebol, são aqueles homens de meias palavras e de enormes promessas. Esses sim!
O regresso de Ricciardi
Nada me move contra José Maria Ricciardi, até porque penso que ele sozinho é capaz de dar cabo dele. Mas, sinceramente, quem depois de ter perdido por muito, há seis meses, entende que deve ser presidente porque está demonstrado que tinha razão e, além disso, consegue 200 milhões de euros? Enfim…
Ricciardi, que tem demasiados anticorpos no Sporting, talvez até mais do que mereça, deveria ter feito o contrário. Se acha que teve razão ao dizer que o clube estava totalmente na miséria, não faria mal em recordar essas suas intervenções. Mas tendo perdido, e há tão pouco tempo; não tendo esta Direção, que eu saiba, cometido qualquer atropelo aos Estatutos e Regulamentos; sendo inegavelmente democrática e sportinguista, Ricciardi deveria colocar os seus talentos ao serviço do clube daqueles que o clube decidiu deverem ser os seus líderes. Claro que todos nós achamos isto e aquilo. Também não tenho a certeza de que a substituição de Peseiro fosse uma grande ideia. Porém, tal como Ricciardi (salvo não ter 200 milhões de euros à mão) sei duas coisas: a primeira é que quem mudou de treinador tinha legitimidade para o fazer; a segunda é que o julgamento dos atos da Direção se faz no tempo próprio. Eleições agora? Porque Ricciardi voltou a querer liderar o Sporting e avisa pelos jornais que Varandas se deve demitir? Só lhe falta organizar uma manifestação, como os brunistas… talvez com menos gente.
Claro que o dinheiro é fundamental. Fala-se de jogadores a sair. Bagão Félix, um benfiquista impenitente, escreveu neste jornal, anteontem, o seguinte: «A fazer fé na catadupa de notícias e na repescagem constante de comentários e de ‘mais transferências’, os jogadores do Benfica estão todos à beira de sair». Pois é, meu caro amigo, os do Sporting também. E logo os melhores - Bruno Fernandes, Bas Dost, Acuña e por aí fora (Gudelj parece que é certo, mas não me deito a chorar por causa dele). A questão é o vil metal e, no caso do Sporting, que é o que me interessa, temo que isso possa ser verdade. Bem sei que Ricciardi avisou que trazia seis ou sete de mérito incontestado e ainda um treinador cujos nomes obviamente não pode dizer (nisso Pedro Madeira Rodrigues era transparente, dizia quem seria o seu treinador); mas esta Direção parece mais cautelosa. E eu, citando Gil Vicente, mas não querendo chamar nomes a ninguém, «prefiro burro que me leve a cavalo que me derrube». Não é ofensa. Apenas prefiro passos pequenos, mas seguros, a saltos quânticos que nos atiram, outra vez, para a desgraça. Podem chamar-me medroso, mas voltando aos animais, gato escaldado de água fria tem medo.