EDITORIAL Um processo de aprendizagem
Que conclusões tirou Schmidt de Anoeta, e o que que aprendeu para aplicar no dérbi?
A primeira meia-hora do Benfica em San Sebastián, período em que sofreu três golos, foi salvo de outro (justamente) pelo VAR e viu o adversário desperdiçar um penáti, trouxe à memória o descalabro de Vigo, a 25 de novembro de 1999, quando os encarnados, comandados por um compatriota alemão de Roger Schmidt, Jupp Heynckes, campeão europeu com o Real Madrid e o Bayern, se afundaram perante o Celta por 0-7. Felizmente, para a turma da Luz, que a sangria desatada que estava a verificar-se começou a ser estancada aos 31 minutos, quando Schmidt introduziu um mínimo de racionalidade na equipa — que não estava defrontar, com o devido respeito, nem o Arouca, nem o Chaves — e retirou João Neves do suplício da direita (e Florentino do pesadelo de jogar sob pressão), colocou alguém que sabe pisar os terrenos da ala esquerda, e chamou Aursnes para a direita, onde já começa a ser um clássico.
A partir dessa altura, recuperados padrões mínimos, o Benfica equilibrou as operações face a uma Real Sociedad que já sabia que os três pontos não iriam fugir-lhe.
O sonho Champions do Benfica, matematicamente, esfumou-se; e mesmo a possibilidade de aceder à Liga Europa surge remota, não só porque os encarnados ainda devem jogar em casa do principal rival (que venceu na Luz), mas essencialmente porque a qualidade do futebol do Benfica, que não deixou de estar mergulhado em dúvidas desde que a época começou, não convence ninguém.
É neste contexto que os encarnados, três pontos atrasados em relação ao Sporting, vão subir ao relvado da Luz na noite de domingo para o dérbi. Se Roger Schmidt não perceber que precisa de onze jogadores que se dêem, com igual generosidade e empenho, ao processo ofensivo e ao processo defensivo; se Roger Schmidt não perceber que só pode jogar com três centrais se tiver alas que façam os corredores; se Roger Schmidt não encontrar uma forma da sua equipa sobreviver à pressão alta do adversário; e se Roger Schmidt continuar errático na escolha dos avançados... Então o Benfica continuará mergulhado na crise de identidade que se vê a olho nu, poderá não só dizer adeus à UEFA, como colocar-se numa situação periclitante na Liga, e desperdiçará um investimento que foi, genericamente, bem feito, mas que está a léguas do seu potencial.