Três vergonhas, duas baixas e uma grande esperança

No meio da vergonha que assaltou qualquer adepto de futebol esta semana, e tendo em conta o dérbi de amanhã, só resta um grande sentimento de esperança aos sportinguistas

A S coisas são o que são, e não vale a pena nem é salutar ter teorias de conspiração. Mas o Benfica ganhou 7-0 a uma equipa de infetados, e o Sporting venceu 2-0 a uma equipa que tinha infetados. À hora em que escrevo, é o Sporting quem tem um jogador fulcral (o capitão) contagiado, além de outro não menos importante (Palhinha) no estaleiro.
A primeira vergonha conta-se num instante: o jogo entre o B-SAD e o Benfica, em que estes últimos venceram por 7-0, entrando em campo contra 9 (dois deles guarda-redes) até ao B-SAD não ter jogadores suficientes. Para quem lê os preciosos artigos de António Simões sobre a história do nosso futebol, isto soa-lhe ao tempo da baliza às costas. Mas não, foi na semana passada…
Depois, o Sporting entrou em campo contra uma equipa totalmente controlada (diziam) como a do Tondela. O Sporting ganhou 2-0. Mas um elemento da equipa beirã, veio a revelar-se infetado, logo o guarda redes; mais tarde, num teste, um defesa do Sporting com apetência por disputar cantos, o central Coates, revelou um teste positivo. Até agora, ambos os jogos contam, e o Benfica- Sporting não está em risco… As conclusões, cada um que as tire.
Toda a gente, sem exceção, disse que o jogo em que o falso Belenenses recebeu o Benfica no Jamor foi um vergonha. Como é possível o presidente da B-SAD, ou lá como aquilo se chama, ir a jogo com nove jogadores (dois dos quais guarda-redes, insisto)? Como é possível a Liga permitir um jogo com tal desequilíbrio e falta de fair-play? Como é possível o Benfica aceitar jogar em tais condições, seja no que respeita à equidade da Liga, seja no que implica a defesa dos seus jogadores.
Mas o Benfica não teve problemas; a Liga diz que nada podia fazer, mas abriu um inquérito; o suspeito presidente da agremiação que suja o nome do Belenenses, diz que pediu um adiamento, mas tê-lo-á feito por telefone pouco antes do jogo começar e depois de arrecadado o dinheiro dos bilhetes. Sim senhor!
A imprensa internacional, como a nacional, não deixou de estranhar o evento, e criticar os responsáveis por tão degradante situação. Há um inquérito que muitos acreditam não ir dar em nada. Mas existe.
Quanto ao Sporting-Tondela, nada a assinalar no que diz respeito à pandemia, salvo o treinador e mais três ou quatro jogadores da equipa visitante, estava tudo bem. O jogo decorreu, onze contra onze, com as substituições possíveis e o Sporting venceu por 2-0, mesmo sem fazer uma exibição de encher o olho. Balanço final: o Sporting tem duas baixas fundamentais para o dérbi, amanhã… Se é que entretanto não houve desenvolvimentos.

MAIS VERGONHAS

PELO Porto também anda outro vírus, que há muito assola o futebol. Depois do Benfica e Vieira, voltou-se a Pinto da Costa. As suspeitas são muitas, mas o adepto antigo está calejado; o velho presidente do FC Porto já passou por tantas e tão difíceis sem que nunca fosse beliscado… Mas, ao mesmo tempo, antigamente não havia o ímpeto das autoridades que hoje se nota - veja-se Luís Filipe Vieira.
A verdade é que um homem que há dezenas de anos preside a um clube, como o Porto, já devia ter tido o bom senso de se demitir. E os sócios, o bom senso de o afastar. Depois do Benfica, ou melhor, de Vieira que, como se sabe e dizem os entendidos, o Benfica nada tem a ver com os seus negócios (pausa para tossir, rir e engasgar-me), descobriremos que o Senhor Jorge Nuno nunca cometeu uma ilegalidade? Talvez… não serei eu a acusá-lo que não tenho provas, mas folgo em dizer o seguinte: no Sporting o problema de presidentes esquisitos (chamemos-lhes assim, que a palavra tem leituras para todos os gostos) foi resolvido pelos sócios. Sei-o bem, porque estive envolvido. E, como se vê, depois de um pequeno período conturbado, o Sporting só ficou a ganhar. Não pretendo que tenha resolvido os problemas todos, claro que não o fez, mas pelo menos temos a certeza de que a polícia não nos vai entrar clube adentro, à procura de falcatruas.
De qualquer modo, mais uma vez o futebol português, que em matéria de clubes está internacionalmente num período positivo (ainda pode ter três clubes nos oitavos de final da Champions, sendo que apenas o Sporting tem esse objetivo garantido), voltou a ser visto como algo pouco recomendável. Não digo que noutros países não se passe o mesmo, ou pior como em Itália ou em Espanha, só para mencionar os que são culturalmente mais próximos. Mas isso não é motivo para despreocupação, sobretudo quando vemos equipas menos poderosas, como o Braga e o Guimarães, serem igualmente alvo de buscas. Afinal, o mal está a espalhar-se? As regras e declarações que se têm feito não contribuíram para diminuir a maleita? É preocupante!

TERCEIRA VERGONHA

M ESSI ganhou a bola de ouro entregue pela revista France Football. Acho que merece; afinal, Messi, no término da sua carreira joga, por fim em França, no PSG. Quem queriam que ganhasse? Um francês que joga em Madrid? Pior: um português que joga em Manchester? Outro francês que também joga em Paris, mas tem muitos anos pela frente? Um polaco que joga em Munique? Um brasileiro naturalizado italiano que joga em Londres? Nada disso, ainda que todos tenham tido um ano mais profícuo do que o Argentino que foi do Barcelona para o PSG, estava escrito nas estrelas que havia de ser Messi. Foi o melhor marcador pelas seleções? Não! Fez os golos mais bonitos e com dificuldade técnica? Não! A sua seleção foi campeã do mundo? Não! Ah! Espera aí, ganhou a Copa América pela Argentina e foi considerado o melhor jogador. Mas a Bola de Ouro não tem sido dada por feitos na Europa? Depende do critério. Os outros jogadores são todos europeus e Messi já é a sétima vez que leva o troféu…
Ronaldo levou cinco vezes, Platini e Van Basten três; Di Stefano, Beckenbauer ou Rummenigge, duas. Parece não haver mais jogadores, além do argentino, capazes de triunfar neste pleito. É pena, é mesmo muita pena porque vai retirando à France Football e ao prémio, o prestígio que já tiveram.

O DÉRBI... E O AJAX

P OUCO, ou quase nada, há a dizer do dérbi que amanhã se joga na Luz. A pandemia vai fazer com que não haja casa cheia, o Sporting vai entrar desfalcado de Coates e Palhinha e o Benfica fará tudo para ganhar. Se o consegue ou não, é caso a ver… aqueles que puderem ir ao Estádio ou subscreverem a BTV, outra particularidade relativamente vergonhosa da nossa Liga (ter um clube que transmite os próprios jogos em canal fechado). Que ganhe o melhor, como se costuma dizer, e que o melhor seja o Sporting, é o que eu desejo e a grande esperança dos sportinguistas. Aliás, não sendo o melhor em campo, o Sporting nunca, ou quase, consegue ganhar. Há vários constrangimentos que para isso militam, e não falarei deles aqui.
O Sporting tem, a seguir, na terça feira em Amesterdão, o jogo com o Ajax, cujo resultado não altera o facto de estar já, juntamente com a equipa dos países baixos, nos oitavos de final da Champions. Não perder, impondo a primeira perda de pontos ao clube neerlandês, terá de ser um objetivo. No dia seguinte, o Benfica terá de vencer, em casa, o Dínamo de Kiev para alcançar o mesmo objetivo, enquanto o Porto, no mesmo dia do que o Sporting, tem o jogo mais difícil, no Dragão contra o Atlético de Madrid. Enfim, futebol europeu para nos afastar das maleitas domésticas.

POTE

Se não fosse já um grande jogador, o gesto que teve em Tondela, ao oferecer um golo a Paulinho bastava para ver a qualidade humana, além da futebolística, de Pedro Gonçalves. Espero que Fernando Santos já saiba quem ele é.

RESTRIÇÕES

Vêm mais restrições aos espetáculos, nomeadamente aos espetáculos desportivos. Médicos experimentados e especialistas, como Germano de Sousa, dizem que não é boa ideia realizar testes à entrada dos estádios, mas antes. Referindo-se, em especial ao Benfica- Sporting, com o bom senso que se lhe conhece, o antigo bastonário avisou: “Não podemos é pensar que se fazem milhares de testes à entrada de um local”.