QUANDO chega a hora de contratar um jogador, como foram os casos de Kokçu, Alan Varela ou Gyokeres, para falar apenas dos chamados três grandes clubes portugueses, dois fatores são absolutamente decisivos: talento e trabalho. Quem for talentoso e gostar de trabalhar, tem a passadeira estendida para ter sucesso. Falemos de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Criou-se em volta do primeiro um mito urbano: só é o que é porque trabalha mais do que os restantes. Não é verdade. Ronaldo é o tipo de jogador (ou de pessoa) que nasceu com muito talento. Se alguém tem dúvidas ou memória fraca, passe no YouTube e veja vídeos de CR7 entre 2002 e 2015. É talento puro. Primeiro, com a bola nos pés. Driblando, indo para cima dos adversários, torturando-os ao máximo. Mais tarde, na arte de marcar golos. Aliás, na arte de marcar muuuuuuitos golos. Imeeeeensos golos. Claro que para durar dos 18 aos 38 anos, Ronaldo teve de se cuidar. De trabalhar muito. Porque sabe que, sem trabalho, quase nada se consegue. M ESSI é diferente? Sim, é. Tem um talento diferente. Consegue ver coisas que os outros não veem. Consegue ver buracos onde outros veem muros. Talento ainda mais puro. Deitar um gigante de quase dois metros no chão apenas com uma ligeira simulação. Driblando, indo para cima dos adversários, torturando-os ao máximo, mas de forma bem mais subtil. Criou-se em volta do argentino outro mito urbano: não precisa de trabalhar para ser o que é. Não é verdade. Ninguém se torna um dos maiores jogadores mundiais de todos os tempos sem trabalho. E para durar dos 18 aos 36 anos, Messi, teve igualmente, de se cuidar. De trabalhar muito. Porque gosta e sabe que, sem trabalho, o talento puro chega para quase nada. HAVERÁ jogadores que atingiram plano elevado sem uma das duas características (talento e trabalho)? Sim, há. Dou dois exemplos: Oliveira e Oceano. O primeiro tinha talento quase sobrenatural para jogar futebol. Tratava a bola como um pai trata um filho: carinho e amor. Mas não era, digamos assim, um fanático do treino. Trabalhava aquilo que, na culinária, se denomina de qb. Quanto baste. Chegou, no entanto, a plano elevadíssimo. Poderia ter chegado ainda mais alto? Provavelmente. O segundo, por contraste, tinha uma capacidade de trabalho igualmente quase sobrenatural. Não se cansava. Tinha um motor a diesel de alta cilindrada, o qual, por vezes, parecia mesmo transformar-se num motor a gasolina de altíssima cilindrada. Porém, em termos técnicos, não era um prodígio. Longe disso. Tinha talento igualmente qb na arte de brincar com uma bola. Mas chegou a plano bem elevado. Claro que, com mais arte nos pés, teria chegado ainda bem mais longe. Mas, tal como Oliveira, tinha uma de duas qualidades imprescindíveis para singrar no futebol (ou em qualquer profissão): capacidade de trabalho e talento. FALEMOS agora de outro caso: George Best. Talento quase inigualável, espécie de Messi (passe o eventual exagero) da década de 60. Gostava de trabalhar? Nem por isso. Qb. Ou até abaixo de qb. Foi grande? Não. Foi enorme. Mas, com capacidade de trabalho estaria agora no olimpo dos maiores dos maiores. Assim, está apenas entre os maiores. No caso do irlandês, tinha outro problema: álcool. Problema idêntico ao de Garrincha, por exemplo. Tinha talento, não gostava de trabalhar e tinha uma adição complicada. Mesmo assim chegou onde chegou porque tinha uma qualidade: talento. PODE um clube contratar um jogador que tenha apenas uma de três características decisivas (talento, trabalho e zero adições)? Pode. Deve? Não. Benfica, FC Porto e Sporting parecem ter acertado em Kokçu, Alan Varela e Gyokeres. Têm talento, capacidade de trabalho e, que se saiba, não têm adições de qualquer espécie. É o recrutamento ideal. E o único que faz sentido. Contratar um jogador sem talento, sem capacidade de trabalho e com adições é fechar a porta ao futuro.