Sporting! Só Pote é Pote e Rúben o seu profeta!
Precisaria de um dicionário de sinónimos para descrever o jogo de ontem à noite… Fenomenal, admirável, extraordinário e genial não chegam. A tremidinha nos últimos minutos faz parte do que é o futebol
UMA coisa nunca vista… o Sporting ganhar ao Dortmund era difícil; ganhar por dois era muito difícil; chegar aos 3-0 parecia impossível. Mas este jogo foi, com outros atores, a desforra dos 5-1 que ali levámos do Ajax (e que ganhou todos os jogos, faltando apenas defrontar os leões em Amesterdão). Foi a desforra porque ganhámos 3-1 num jogo em que tudo nos correu bem e tudo correu mal ao adversário. O primeiro passe em profundidade de Coates para Pote, aos 30 minutos, deixou Nico Schulz (que substituiu o nosso Raphael Guerreiro) às aranhas. Pedro Gonçalves, o melhor marcador leonino, aproveitou para fazer passar a bola entre as pernas do guarda-redes alemão. Não foi um frango, foi um toque de magia de Pote. No segundo, aos 39 minutos, Sarabia, como só ele sabe, assistiu o mesmo Pote, que com um remate colocado fez o 2-0. Por último, já depois de Emre Can ter visto o cartão vermelho por agressão a Porro, o Sporting beneficiou de um penálti cometido sobre Paulinho. Pedro Gonçalves faria o hat trick, mas deixou que Kobel defendesse… só que Porro arranca como um foguete e, de cabeça, marca o 3-0. Foi um golo decisivo, porque nos descontos, aos 90+3’, Malen reduziu para 3-1, permitindo que o jogo acabasse como quase sempre acabam os jogos do Sporting… com uma certa tremedeira. Embora, há que fazer justiça, a equipa não se tenha desconjuntado, ainda que no golo de Malen tivesse oferecido facilidades exageradas, talvez erradamente descansando nos três golos de avanço, quando só necessitava de dois.
De salientar o facto de Rúben Amorim ter dado oportunidade de uns minutos a Flávio Nazinho (e também a Ugarte, suplente menos utilizado) para marcar presença nesta memorável noite europeia.
Para ser justo, o Dortmund mereceu o golo de honra: remataram mais (embora com menos um remate à baliza); tiveram 65% de posse de bola, muitos mais passes, maior precisão do passe, menos faltas e mais cantos. Se os resultados se fizessem através da estatística, o Sporting não estava hoje nos oitavos de final da Liga dos Campeões. A única equipa portuguesa que já conseguiu esse feito, embora Porto e Benfica ainda possam lá chegar. E eu espero que cheguem.
Pedro Gonçalves marcou de forma espetacular o segundo golo dos leões em Alvalade
O PLANTEL É CURTO?
NA sequência do jogo de há oito dias, contra o Varzim, para a Taça de Portugal, ouviu-se falar do plantel curto do Sporting. Ora a única coisa que me pareceu mal nesse jogo (como noutros, infelizmente) foi o relvado, que ontem se apresentou remendado e propício à escorregadela. Alvalade XXI tem uma maldição com a relva; já me disseram que é da estrutura arquitetónica do próprio estádio que não permite o sol às horas certas e, seguramente, os especialistas terão mais e melhores explicações. Do que tenho a certeza - e sei, e vi - é que o Sporting gasta dinheiro com o terreno de jogo, com a rega, com imensos secadores, e volta e meia tem este problema que atirou com Jovane para fora dos relvados por cerca dois meses.
De resto, se João Virgínia foi obrigado a duas defesas magníficas (e ainda bem que as fez, dá segurança saber que o suplente de Adán tem qualidade); se a Paulinho voltou a faltar o instinto matador (quem não? Recorde-se Seferovic, frente ao Barcelona); se a defesa, onde só esteve um central de raiz (Feddal), não teve a mesma preponderância, sobretudo a colocar a bola na frente; se o jogo em si foi um bocado emperrado - e estamos a falar do campeão nacional contra uma equipa cheia de passado e prestígio, mas que é penúltima na Liga 2 - a vitória por 2-1 correspondeu à nona vitória seguida dos leões, conta que desde ontem vai em dez. Inclui esta sequência, não só a Liga e a Taça, como a Taça da Liga e a Champions.
É natural que Rúben Amorim quisesse rodar jogadores, mais do que poupá-los para a noite de ontem. Outros, como Coates, estavam com lesões que os impediam de jogar. Porém, a música foi outra quando, e também por causa da lesão de Jovane, entraram Sarabia, Pote e Porro. Nem Gonçalo Esteves nem Tabata tinham estado mal, quando cederam os respetivos lugares a Porro e Sarabia. Acontece, porém, que há mais e menos experientes, melhores e piores. E o certo é que aquele 0-0 perdurava na altura em que houve estas substituições e tornava-se irritante estar quase nos 70 minutos, sujeito a qualquer golpe fortuito da equipa adversária.
Foi o inevitável Pote a desfazer o empate aos 67 minutos, 10 depois de entrar em campo, com aquela forma de marcar que parece muito simples. Depois - e inexplicavelmente não existe VAR nos jogos da Taça até às meias-finais - existiram dois penáltis, um para cada lado. O primeiro, a favor do Varzim, empatou o jogo; o segundo, a favor do Sporting, e transformado também por Pote, deu a vitória e os 2-1 finais. Confesso que não me apercebi nem de um nem de outro penálti. Sinceramente, nenhum deles me pareceu, mas como todos aqueles que foram árbitros e veem melhor do que eu dizem que foram bem assinalados, aceito perfeitamente.
No entanto, e sem desvalorizar, pelo contrário, o papel dos que entraram, incluindo o de Neto que por razões sentimentais (nasceu na Póvoa e formou-se no Varzim) também entrou ao cair do pano, penso que o Sporting tinha capacidade para vencer o jogo com a formação inicial. Jovane rematou à trave; Matheus Reis, Tabata e Bragança poderiam ter feito golo. O problema residiu no que, já depois do jogo, Rúben diagnosticou: o Varzim levou o jogo para o lado que o favorecia e o Sporting deixou. Vai acontecer outras vezes, e oxalá com mais ou menos arte, haja capacidade de superar esses contratempos.
OBRIGAÇÕES, DEVERES E NEGÓCIOS
RECENTEMENTE uma grande sportinguista que falava comigo mostrou-se preocupada com a nova emissão de Obrigações do Sporting. Isto quer dizer que não há dinheiro. Ora, se por um lado significa que o Sporting necessita de liquidez, por outro torna-se atrativo, para quem tem oportunidade e disponibilidade, conseguir uma taxa de juro fixa de 5,25% ao ano, mesmo tendo em conta que a inflação vai ser uma realidade mais presente nas nossas vidas.
Seja como for, as obrigações - como o nome indica - não estão sujeitas às flutuações de valor que, por exemplo, têm as ações. Mas, respondi à consócia, por muito que o Sporting precise de dinheiro - coisa antiga, que vem de várias direções e foi agravada pela que antecedeu esta - é melhor do que estar a ser investigado por fugas ao fisco, à Segurança Social ou outras possíveis ilegalidades.
O problema é que este tipo de investigações torna-se cada vez mais comum. Depois do FC Porto e do Benfica, voltou-se ao Norte e também o Braga e o Guimarães estão sob investigação. Os nomes, seja para que clube for, são sempre os mesmos. Há Bruno Macedo, Jorge Mendes, etc. Não fazendo ideia se estes senhores são culpados de alguma coisa, há, no entanto, aspetos que, mesmo sendo legais, são imorais. Todo o sistema de transferências de jogadores e dos seus intermediários tem algo que lembra a escravatura. Todo o sistema do futebol é estranho do ponto de vista do negócio. Mas, atenção, essa estranheza advém do sucesso. Foi o sucesso do futebol, enquanto desporto e espetáculo, que nos trouxe até aqui. Querer matá-lo em nome de falsas limpezas é, igualmente, preocupante.
Ou seja, sendo a favor que tudo se investigue, não quero deixar de dizer que as verbas envolvidas nas transações, estando seguramente demasiado inflacionadas, não podem ser vistas (todas) como fraudulentas. A menos que se altere todo o edifício do futebol, e voltássemos a um tempo do amadorismo, ou do amadorismo mitigado. Porém, isso é impossível, como qualquer pessoa intui, mesmo antes de estudar a possibilidade.
FC PORTO
Acabou a perder 0-2 com o Liverpool (depois de ter falhado um golo, que seria o primeiro, de forma incrível, tipo Seferovic em Barcelona). No entanto, o facto do Atlético de Madrid ter perdido com o Milan permite que o FC Porto possa ainda chegar aos oitavos.
BENFICA
O empate em Camp Nou foi lisonjeiro, mas não fosse o falhanço de Seferovic, o resultado podia ser melhor. De qualquer modo ainda pode passar aos oitavos de final.
JARDIM
O segundo Jardim mais conhecido do País, depois de Alberto João, o treinador Leonardo, venceu a Liga dos Campeões Asiática, com os sauditas Al Hilal. Só falta Abel Ferreira ganhar, com o Palmeiras, a Liga dos Campeões sul-americanos (Libertadores) no próximo sábado, quando o seu Palmeiras defrontar o Flamengo (que já foi de Jesus).
DIREITOS
Não se percebe muito bem a história da centralização dos direitos televisivos. A Federação afastou-se porque a Liga avançou (sem lhe dar conhecimento?) com uma empresa para efetivar esses direitos. Há que explicar melhor esta história.