Em mês e meio, mais coisa menos coisa, o Sporting passou de vencedor antecipado da Liga para o segundo lugar, com os mesmos pontos do terceiro e menos um que o líder. Por acasos do calendário — conhecido há muitos meses — esse líder visita Alvalade no próximo domingo. Se há mês meio perguntássemos a um sportinguista e a um benfiquista o que esperavam deste jogo, as respostas seriam absolutamente diferentes das que hoje poderão dar. Sendo que o hoje é que conta, com a realidade dos factos a dizer-nos que convém não nos esquecermos, também, de perguntar aos portistas o que acham de tudo isto. É que com jeitinho e algum sortilégio, até pode ser que o campeonato dobre o ano com um comandante no mínimo... inesperado. Por Alvalade, a casa mais desarrumada nos dias que correm (quem diria?), foi tempo de decisões importantes. Ia dizer estruturais, mas perante o que se tem visto é difícil falar em algo mais do que decisões conjunturais, e essa é uma péssima notícia para os sportinguistas. O treinador que há mês e meio representava o futuro vai-se embora sem honra nem glória. Com poucos pontos e até sem indemnização. Esta quinta-feira foi apresentado um novo técnico, com currículo interessante e claramente em progressão, mas com as reservas que devem guardar-se quando se fala de um jovem que nunca treinou ao mais alto nível. Não foi apresentado como alguém que em três ou quatro anos estará num clube de topo (a lotaria raramente sai duas vezes ao mesmo apostador), mas não deixará de ter sobre ele a exigência máximo desse alto nível. A vida do Sporting tem sido um somatório de timings errados, por culpa própria ou alheia. Substituir Amorim antes de uma receção ao Manchester City e uma ida a Braga era delicado. Depois veio João Pereira. Teve testes de lume brando que rapidamente se transformaram em testes de fogo. O tempo foi passando e o dilema colocou-se: manter a solução «de futuro» até ao jogo com o Benfica (como se o campeonato dependesse de um jogo) ou perceber que o futuro era outro? Se tivesse vencido o Gil Vicente, João Pereira sentar-se-ia no banco no domingo, embora dependente do resultado final para o que se seguisse. Como não venceu, vai lá estar Rui Borges. Sem tempo para mais do que conhecer a Academia por dentro e dar três larachas de motivação aos jogadores. É o pior timing possível para ele e para o Sporting... mesmo que ganhe ao rival e que a arte da diplomacia o tenha convidado a dizer que este é o tempo certo. Ganhando, empatando ou perdendo, veremos como corre a seguir e até quando esta será uma aposta firme de uma estrutura consolidada ou mais um epísódio de fuga para a frente de um clube que parecia capaz de discutir de novo uma hegemonia e afinal continua a navegar em águas de tormenta, com muitas das correntes adversas a partirem de dentro.