Sporting deve aproveitar o balanço positivo que conseguiu

OPINIÃO19.08.202107:00

O campeonato entrou com os três grandes a ganhar os dois primeiros jogos; mas há diferenças entre eles, sobretudo nos critérios de arbitragem que se lhes aplica

ESCREVI a semana passada que o campeonato do Sporting começava com o jogo em Braga. Vencer ao Vizela em casa (ainda que com golos extraordinários) era uma obrigação de qualquer Sporting, quanto mais deste Sporting.
A deslocação a Braga era outra coisa. Depois de vencida a Supertaça, por 2-1, entrando a perder contra a mesma equipa, em terreno neutro, era natural que os bracarenses pretendessem uma desforra no seu estádio, para o campeonato, a fim de evitar a quinta derrota consecutiva em qualquer campo contra um Sporting dirigido pelo seu ex-treinador (e com três seus ex-jogadores - Palhinha, emprestado, Paulinho e Esgaio). Curiosamente, o jogo teve um sentido totalmente contrário. Foi o Sporting a marcar primeiro, e logo dois golos, e o Braga a responder, encostando o adversário às tábuas, quando aquele já jogava com 10. Em Braga, além do magnífico golo de Jovane, que esta época está a entrar com muita classe como titular, e de Pedro Gonçalves, que já nos habituou ao extraordinário, destaque ainda para Matheus Nunes, a fazer esquecer a falta que deveria fazer João Mário, e o gigante Palhinha. Mais atrás tudo alinhado, como sempre, com Adán a brilhar algumas vezes.
A única coisa a correr mal foi a expulsão de Matheus Reis. Não que ele tenha sido mal expulso, mas porque o critério é desigual. Reis, no primeiro amarelo, pegou na bola quando uma falta sem importância foi marcada contra o Sporting. Se a quis atirar para longe ou apenas passá-la com a mão ao adversário, não faço ideia. Mas sei que após a interrupção do jogo a bola não deve ser tocada por nenhum jogador da equipa contra a qual foi marcada falta. A regra não é difícil de recordar e Matheus Reis deve ter levado um metafórico puxão de orelhas por o ter feito. A segunda falta que cometeu aos 80 minutos, deixando o Sporting em inferioridade numérica, é claramente passível de amarelo, pelo que nada há a dizer destes lances.
Porém, há de outros. Por exemplo, como já assinalaram alguns árbitros e comentadores, Raul Silva, do Braga, merecia ter dois amarelos aos 20 minutos, mas foi ilibado de um, vá-se lá saber porquê. Convenhamos que esta diferença de critérios não é pouca. No jogo do Arouca com o Benfica, na Luz, e sem colocar em causa o resultado, é espantoso como o rigor do árbitro expulsa um jogador, devido a um mal entendido. O guarda-redes arouquense pensou que o juiz ia marcar um fora de jogo assinalado pelo assistente; como assim não o fez e a bola foi parar aos pés de um avançado benfiquista, o mesmo guarda-redes jogou a bola com a mão fora da área. Teoricamente, se anularmos tudo o que esteve na origem do lance, o árbitro tem razão; mas gostava de o ver expulsão um jogador do Benfica pela mesma razão numa partida contra o Arouca, o Vizela ou outro underdog qualquer.
No jogo do Porto contra o Famalicão, tudo foi decidido por milímetros. Não pretendo que o árbitro e o VAR estivessem errados. Mas o 2-0 do Porto se não é fora de jogo é por escassos centímetros, e o 2-2 do Famalicão se é fora de jogo é por, sensivelmente, a mesma distância. Os ingleses já alargaram os critérios; como alguém disse, são capazes de gostar mais de futebol de ataque do que de geometria descritiva.
Penso que, por cá, devíamos caminhar no mesmo sentido. Embora, até ao fim da época, um milímetro baste para validar ou anular um golo. E como a colocação das linhas não obedece a nenhum esquema científico, por vezes, e mesmo sem querer, podem as linhas estar erradas.
 

Rúben Amorim já disse que espera não ver sair qualquer jogador até ao fim do mercado


A EQUIPA

D IZER que esta equipa do Sporting vai no caminho certo é dizer pouco. Nos três jogos oficiais desta época, e já com dois jogos de elevada dificuldade, ambos contra o Braga, ganhámos todos. Seguem-se o Belenenses, em casa, o Famalicão (fora, o que não é fácil) e, na segunda semana de setembro, recebemos o Porto. Os jogos têm de ser vistos, como Rúben não se cansa de dizer e os jogadores de repetir, um por um. É a única forma, sobretudo quando, de hoje a oito dias, soubermos que equipas nos calham na fase de grupos da Champions. Uma Champions onde está o Porto e em que a participação do Benfica começou a jogar-se ontem à noite.
Sérgio Conceição, que está com alguns problemas no plantel (não acredito que não soubesse que estava a ser filmado quando deu aqueles gritos no jogo com o Famalicão), tem razão óbvia numa coisa: é estranho (embora já aconteça há anos) o mercado estar aberto já depois de iniciado o campeonato. É uma forma de desestabilização, que só prejudica quem tem bons jogadores e só beneficia quem tem muito dinheiro.
Todos os anos se fala de fair play financeiro. Mas o que se vê dificilmente se coaduna com as boas intenções da UEFA e dos organismos nacionais. Basta olhar o PSG, a nível europeu, e, no nosso modesto nível, comparar o Benfica com os restantes clubes (como há uns anos seria o Porto). No caso do Sporting, clube que nunca abundou em dinheiro, salvo quando alguns irresponsáveis o endividaram até à loucura, esta situação de mercado aberto é terrível. Se a semana passada era Palhinha, esta semana já apareceram notícias a dizer que o Barcelona está interessado em Pote. É necessário ter uma grande confiança nas capacidades de liderança de Rúben Amorim, coisa que a mim não me falta, para ter a certeza que esses jogadores, de quem se diz serem cobiçados por gigantes mundiais, mantenham a cabeça no Sporting, nos seus objetivos.
Claro que no início desta época vimos um Sporting a jogar sem Nuno Mendes (nos dois jogos do campeonato) nem Porro (salvo alguns minutos contra o Braga). E aqueles que os substituíram, Vinagre e Esgaio, longe de apenas não comprometerem, fizeram exibições sólidas. Resta ver o, até agora, outro reforço, Ugarte, que também jogou pouco mais de cinco minutos contra o Braga e que será, claramente, para substituir um centrocampista. Mas o ideal é que a janela de transferências encerrasse com estes jogadores, como aliás é o desejo do treinador. E oxalá que o que se tem dito - o Sporting não precisa de vender jogadores para aguentar bem as contas - seja inteiramente verdade.
 

JOGAR FORA

Libertadores — Lembram-se da festa que Jorge Jesus fez ao vencer a Copa Libertadores, com o Flamengo, em 2019? Nem daí a 100 anos um treinador português a venceria, vaticinou o atual treinador do Benfica. Pois logo no ano seguinte, e à frente do Palmeiras, Abel Ferreira desfez o mito e ganhou a Copa. Este ano, com a mesma equipa, já vai nas meias-finais. Este Jesus é dado a morrer pela boca, como o peixe. Foi como quando disse que o Benfica na época passada, uma das piores do clube, iria jogar três ou quatro vezes mais.

Barcelona — O novo presidente do Barcelona, que tem uns contestatários a acusá-lo de lacaio de Florentino Pérez, presidente do eterno rival Real Madrid, afirmou, sem margem para dúvidas, que o clube catalão gastava em salários 95% das suas receitas, ficando sem margem para o que quer que fosse. Isso explica a saída do Messi e a entrada de muita gente nos últimos anos. Seria bom se, por cá, os líderes dos clubes fossem assim transparentes nas contas.

Benfica — Com estas linhas escritas antes do Benfica-PSV reafirmo o que na passada semana escrevi. Desejo sucesso aos da Luz na Europa; em contrapartida, cá por casa, desejo-lhes o contrário…