22 maio 2024, 13:21
A NBA está a mudar
Das dez equipas mais caras, só uma está em prova, assim como o 13.º dos 17 mais bem pagos
Tinha sorriso e simpatia do seu tamanho, 2,11m, e gostava da vida e de pensar diferente
Faleceu Bill Walton. Morreu um homem bom. Tinha 71 anos e não resistiu ao último jogo da vida, contra o cancro no colón. Noutro houve em que foi imbatível: da amizade e adoração de todos. Mesmo dos fãs dos clubes por quem nunca atuara e até derrotara em finais para se sagrar campeão em duas ocasiões.
Primeiro pelos Blazers (1976/77), onde liderava uma equipa que tinha na tranquilidade e coletivismo a força e um reflexo da também versatilidade e simplicidade do seu poste. Depois pelos Celtics (1985/86), como que a recompensar, em campo — atuou em 80 jogos da regular season e 16 do play-off, mas com números bem mais baixos do que valera —, as épocas em que ficara limitado por sérias lesões nos pés.
Pela alegria como saboreava a vida, o continuar a estar junto das estrelas da Liga e a sua outra paixão, a música, da clássica ao Jazz, foi um MVP. Tal como quando foi eleito melhor do campeonato de 1977/78 e dos Finals de 1976/77, membro das equipas do 50.º e 75.º aniversário da NBA e do Basketball Hall of Fame.
Tendo atuado na NBAentre 1974/75 e 1986/87, depois de brilhante passagem pelo basquete universitário na UCLA, nunca vi Walton jogar, apenas através de vídeos ou documentários, mas, devido à sua segunda e não menos brilhante carreira como comentador/analista na televisão, ou pela simples e habitual presença nos pavilhões, permitiu que me cruzasse com ele inúmeras vezes em All-Stars, Finals ou jogos da temporada.
22 maio 2024, 13:21
Das dez equipas mais caras, só uma está em prova, assim como o 13.º dos 17 mais bem pagos
Creio que nunca o vi zangado ou demasiado sisudo, a recusar uma fotografia — mesmo antes das selfies —, dispensar uma conversa ou esquivar-se de uma pergunta ou cumprimento. Tinha um sorriso da sua altura, 2,11m, e gostava que lhe oferecêssemos outro, mesmo não sendo tão grande.
Superfã dos Grateful Dead, razão pela qual em momentos mais informais, ou até em trabalho, surgia invariavelmente com as famosas t-shirts multicoloridas da banda californiana, Bill era como a música daqueles, uma fusão. Era um homem diferente e que gostava de ser diferente. O commissioner Adam Silver escreveu, depois de conhecida a sua morte, que era uma pessoa «realmente única».
Por tudo o que vivera e tivera oportunidade de desfrutar, considerava-se «o homem mais sortudo do mundo» e foi esse o título que a ESPN deu ao documentário que, em 2023, realizou sobre a vida do poste que também jogou nos San Diego Clippers.
Contava que era de uma família da classe média que nada tinha com desporto e os principais hobbies eram música clássica, literatura e arte, mas que os pais nunca deixaram de o levar todos os fins de semana para que se divertisse a jogar basquetebol em ligas de miúdos.
Quando estava no 7.º ano e o pai o levara uma vez mais a um jogo de carro, prometeu que um dia seria MVP da NBA e nessa altura lhe compraria um carro novo, da marca que ele gostava, ao que o pai terá virado a cabeça para trás e perguntado: «O que é a NBA?» Bill cumpriu a promessa.
Faleceu Bill Walton. Morreu um homem bom. Para mim, com a idade da eternidade.