Simplesmente Aurélio...
Os irmãos Aurélio e Carlos Pereira, dois leões de raça...

Simplesmente Aurélio...

OPINIÃO09.04.202510:00

Além do especial talento para a deteção de talentos, Aurélio Pereira nunca descurou o enquadramento familiar, e o desenvolvimento pessoal, como bom pedagogo que sempre foi...

A formação do Sporting não começou com Aurélio Pereira, nem acaba com o desaparecimento de Aurélio Pereira. Mas ninguém duvidará de que quando se fala em Sporting e em formação, o primeiro nome que nos ocorre é o de Aurélio Pereira. Porquê? Essencialmente porque associava duas características difíceis de encontrar na mesma pessoa: tinha uma especial vocação para detetar talentos, um ‘feeling’ apurado que lhe permitia ver com profundidade aquilo que o comum dos mortais apenas olhava superficialmente; e preocupava-se com a pessoa, com o jovem, neste caso, para além do jogador, procurava conhecer o enquadramento familiar e a forma de melhor enquadrar o novo atleta do Sporting, nas duas valências, de futebolista e de alguém que era apanhado num turbilhão de ilusões, numa altura essencial para a formação do caráter.

Aurélio Pereira confunde-se com a formação do Sporting
Aurélio Pereira, em 1975, com uma equipa de infantis do Sporting

Conheci Aurélio Pereira durante meio século, primeiro nos corredores de Alvalade, que sem ter cargo oficial no Sporting frequentava quando fui junior no clube, e depois, em múltiplos encontros, proporcionados pela amizade fraternal que me une há décadas ao irmão, Carlos Pereira, com quem partilhei balneário durante quatro anos no CF «Os Beleneneses». Provavelmente, a maior parte das pessoas que, com autoridade, se pronunciarão sobre Aurélio Pereira, irá fazê-lo circunscrevendo-se à importância histórica que teve no desenvolvimento do futebol em Portugal. Se me permitem, prefiro outra abordagem, a do homem sempre bem disposto, para quem cada circunstância era motivo de uma comparação jocosa, dono e senhor de um manancial de anedotas que estava sempre pronto a debitar, como se não houvesse amanhã. É essa imagem jovial, fresca e alegre, que guardo, neste momento de recolhimento, do Aurélio.

Porém, não quero terminar este testemunho sem deixar sem uma palavra aqueles que lhe fizeram a vida negra, num determinado período de conturbação no Sporting, e que muito contribuíram para que a sua saúde fosse abalada. Quando comparados com Aurélio Pereira, a História encarregar-se-á de colocá-los na nota de rodapé que merecem, pelas piores razões, aliás, enquanto que o capítulo dedicado à figura que acaba de nos deixar será escrito a letras de ouro, ou não fosse ele um garimpeiro de talentos.