OPINIÃO Sergio Conceição: a jogada que correu mal
Quem renova a dois dias de uma eleição que se antevia muito disputada está a agir de má-fé
Dia 28 de maio foi o primeiro dia da nova administração na SAD do FC Porto. A partir desta data, todos os antigos administradores ficaram sem acesso de entrada nas instalações da SAD com exceção do presidente honorário Jorge Nuno Pinto da Costa. Após a tomada de posse dos destinos da SAD, André Villas-Boas pode finalmente realizar a tão esperada reunião com Sérgio Conceição. Numa preparação já por si tardia, durante a reunião entre Presidente e treinador, surge o primeiro problema desportivo que AVB tem de gerir…
Renovação a dois dias das eleições
A renovação de Sérgio Conceição a dois dias das eleições foi uma cartada que correu muito mal a Pinto da Costa e ao treinador azul e branco, por quatro motivos. O primeiro, porque quem renova a dois dias de uma eleição que se antevia muito disputada, está a agir de má- fé. Ainda para mais, quando se sabe publicamente da relação próxima entre Pinto da Costa e Sérgio Conceição. Se efetivamente queria renovar, porque não esperou dois dias para fazê-lo? Ou porque não esperou dois dias para perceber se o futuro presidente tinha interesse na sua renovação? O segundo motivo tem a ver com o facto de o treinador ter sido o único a renovar contrato, sem ter exigido que a sua equipa técnica também o fizesse, ou seja, pensou apenas em si próprio! O terceiro motivo foi o resultado esmagador com que a lista de Pinto da Costa perdeu as eleições. O quarto ponto tem a ver com a forma como o contrato foi feito. Na renovação entre SC e o FC Porto, o treinador pode sair quando quiser sem pagar nenhuma indemnização. Já o clube, se o quiser despedir terá de o indemnizar ou chegar a acordo. Após terem surgido várias críticas, Sérgio Conceição referiu publicamente que se não o quiserem como treinador do FC_Porto sairá e não irá cobrar qualquer cêntimo, sendo este ponto muito relevante para tudo o que está a acontecer.
O caminho de AVB
A nova administração do clube tomou conta da SAD e vai colocar em prática o seu projeto. Como AVB sabe tão bem, o treinador é uma peça fundamental em qualquer clube. Por este motivo, a escolha deverá seguir um conjunto de critérios e pressupostos previamente definidos que permitam fundamentar uma decisão. É mais ou menos público, que Sérgio Conceição não tem o perfil que AVB pretende para o seu projeto. Também é público que SC assinou um contrato de quatro anos, com o qual a atual administração tem de lidar.
Ao longo da sua carreira, AVB sempre demonstrou ser alguém metódico, organizado e disciplinado. Como tal, deverá estar a analisar e avaliar um conjunto de treinadores que farão parte de uma pequena lista de alvos com a missão de suceder a SC. Neste enquadramento, surge o nome de Vítor Bruno, que conhece o clube, o plantel e que tem as competências que se enquadram no perfil pretendido pela SAD azul e branca.
Sérgio Conceição preterido?
Da tão esperada reunião entre AVB e SC, não houve fumo branco. Pelo contrário, aparentemente, extremaram as posições. Podemos especular sobre tudo o que possa ter sido falado entre SC e AVB. Será que o que motivou a ira de Sérgio Conceição foi o facto de ter sido preterido por AVB e para o seu lugar terem já definido alguns nomes, entre os quais o seu adjunto com quem trabalhou 13 anos? Depois de sete anos, sendo o treinador com mais títulos e jogos no FC Porto, a realidade é que nem isso impediu que a atual administração opte por seguir outro caminho. De uma forma muito crua, SC não tem, nos dias de hoje, um projeto melhor para seguir do que o FC Porto. Possivelmente, também não terá um contrato melhor para assinar. Por outras palavras, o reconhecimento pelos seus méritos desportivos não chega a clubes de outra dimensão. Por que motivo isto acontece? Possivelmente porque para os grandes clubes, vencer não chega. A forma como os treinadores se comportam, respeitam os adversários e as competições, ganha um peso muito grande no processo de decisão. As inúmeras expulsões na carreira mancham a imagem de SC e contribuem para que os clubes de outros campeonatos o olhem com alguma desconfiança.
Hierarquia
De uma forma concreta, AVB e a sua administração tem toda a legitimidade para escolher o caminho a seguir mas estão condicionados por um contrato que foi assinado a dois dias das eleições. No caso da opção Vítor Bruno, AVB definiu um perfil, tendo e conta o contexto do clube (financeiro e desportivo). Recolheu informações, analisou e decidiu colocar Vítor Bruno na sua lista restrita de alvos a atacar. Aqui devemos colocar algumas questões. Não pode um presidente escolher o treinador que pretende? Não pode um treinador (Vítor Bruno) querer seguir a sua vida e fazer o seu caminho? Se Vítor Bruno tivesse um convite do Moreirense ou Arouca, Sérgio Conceição teria tido a mesma reação? Sérgio Conceição entende que tem legitimidade para definir quem pode ou não lhe suceder ou o caminho que um seu adjunto pretende seguir? Vítor Bruno não foi leal com Sergio Conceição? Ou será que foi SC que não foi leal ao deixar os adjuntos fora da renovação?
O que está em causa
Todo este enredo existe porque Pinto da Costa renovou com um treinador a dois dias de umas eleições muito importantes, oferecendo-lhe quatro anos de contrato e colocando todas as vantagens do lado do técnico. Se esta jogada não tivesse acontecido, hoje, AVB teria todo o centro de decisão do seu lado e já estaria a trabalhar na definição da nova época. No limite, parece-me que o caminho está bem definido para cada um dos lados. Também sabemos que a administração da FC Porto SAD e SC têm margem para decidir o que fazer: do lado da administração da SAD pode sempre rescindir com SC pagando-lhe uma indemnização e do lado do treinador pode sair quando quiser e exigir (ou não) uma compensação pela rescisão. É óbvio que o poder negocial das duas partes é (completamente) diferente, até pelas dificuldades financeiras que o clube atravessa. O único ponto que acho estranho é o facto de ainda não ter existido um acordo entre as duas partes, até porque Sérgio Conceição tem referido publicamente que não pretende uma compensação, caso o clube opte por outro treinador. Toda esta indecisão acaba por atrasar a preparação e planeamento da nova época. A grande realidade é que é o clube que está a ser prejudicado com toda esta situação, que mais parece um problema de ego!