Será que é desta?
Todos os anos, mais ou menos por esta altura (na verdade, um pouco antes até), faço figas para que a nova época traga boas surpresas no que diz respeito à forma de estar de quem está dentro e fora dos relvados. O otimismo pode até roçar a lírico, mas cada qual acredita no que quer e eu acredito que há, em cada pessoa ligada à indústria, alguém íntegro, capaz de aprender e crescer no sentido certo. Não se trata de exigir infalibilidade ou de esperar que acertem mais ou menos. Trata-se apenas de crer que, com o evoluir da vida e das suas vivências, venha ao de cima mais equilíbrio, sensatez e ponderação.
É por isso que torço para que, em campo, todos possam controlar melhor as suas emoções, de forma a não fazerem declarações infelizes ou construírem suspeitas tantas vezes injustas. O segredo aí é focarem mais nas variáveis que controlam e menos naquelas que não dependem de si. É trabalharem no duro para serem melhores do que são, sabendo que quem for mais competente e consistente superará toda e qualquer adversidade. É sempre assim e a realidade não engana: no final das contas, o melhor ganha sempre.
Também torço para que fora de campo as coisas sejam diferentes para melhor. E aí deposito a responsabilidade nas mãos de dirigentes (não só de clubes), departamentos de comunicação, jornalistas e comentadores. São esses que formam (ou deformam) opinião. É a eles que cabe o dever ético (e nalguns casos deontológico) de dizer apenas e só a verdade. O que se espera é que não especulem, não inventem nem mintam. O que se espera é que não utilizem a nobreza da sua função como mola impulsionadora para saltar na carreira. O que se espera é que não confundam politicamente correto com dorsalmente curvado.
A cabeça quente atenua muita coisa, mas essa toca mais a treinadores e jogadores. A quem está lá dentro, a sofrer com outra entrega e intensidade. Quem está do lado de fora geralmente não padece desse problema. O que fazem/dizem tem a obrigação de ser mais pensado e planeado. O que se espera desses - onde, de resto, até me incluo - é independência, frontalidade e transparência. O que se espera é que não sejam (nem aparentem ser) subservientes, porque há limites morais para a recolha de informação e para dar a notícia em primeira mão. O que se espera é caráter, mesmo que isso signifique abdicar de cargos, de vantagens ou benefícios. Não é para quem quer, é só para quem pode.
O futebol, tal como qualquer outra área de atividade com peso no país, precisa de gente assim, corajosa, séria e moralmente robusta. Precisa de gente capaz de dizer que não, quando o não é o limite entre o certo e o errado. O futebol precisa de gente capaz de não atender aquele telefonema que pressiona e de não responder àquela mensagem que ameaça, mesmo que a curto prazo isso até prejudique. Não é para quem quer, é só para quem pode.
Essa liberdade, a da coluna em linha reta, é impagável. Não tem paralelo. Não tem comparação com nada, de tão bem que sabe quando a cabeça bate na almofada. No dia em que todos atingirem esse patamar de ética, a indústria ficará ainda melhor. Há muita gente assim (felizmente), mas ainda há muita gente assado (infelizmente). Eu acredito que esta época, até por tudo o que este ano nos tem ensinado, vai ser melhor. Cabe a cada um de nós. Cabe a todos nós.