Sentido de pertença: não é como acaba, é como começa
Aquela frase estafada e repetida até à exaustão «não é como começa, mas como acaba», serve na maioria das vezes para exorcizar medos e imprevistos e para ganhar alento e motivação para o resto do ano ou da temporada, ou até para um jogo eventualmente decisivo. São, no entanto, poucos os que conseguem manter as expectativas elevadas e fazer cumprir esse «como acaba» de forma a deixar satisfeitos os pessimistas do costume, nos quais, aliás, eu me incluo.
Usando um exemplo recente, o da final da Liga dos Campeões, imagino que seria mais comum ouvir a frase a ser proferida por um adepto do Dortmund do que do Real Madrid, pela simples razão de que as hipóteses de sucesso de um e de outro são manifestamente diferentes e a frase ajuda a adiar o inevitável. Claro que o inevitável, sobretudo no futebol, consegue iludir a estatística e fintar o destino, essa é, aliás, uma das suas grandes mais-valias, a beleza do imprevisto e do inesperado, sobretudo quando nasce do trabalho coletivo e de um rasgo que vem pela calada.
Eu que tenho a tentação de torcer pelos underdogs, estava obviamente a torcer pelo Dortmund, repetindo a frase pelo menos uma meia dúzia de vezes antes do golo adversário, e quase parecia que afinal o sonho se iria cumprir dando assim sentido à frase. Este ano, com o Vitória, depois de um falso e atribulado arranque, conseguimos durante quase toda a época alimentar e projetar o que parecia impossível ou pelo menos muito difícil (não me canso de o repetir), alcançar um lugar europeu, manter a estabilidade da equipa e aparentemente a estabilidade financeira, jogar de forma destemida com todos os adversários, ainda que às vezes o risco ou o adormecimento nos saíssem caros, valorizar jogadores e reforçar ainda mais o coletivo e a empatia com a massa associativa, fruto dos bons resultados e da confiança que cedo se instalou.
Não queria agora sombrear este final quase perfeito com a saída extemporânea de Álvaro Pacheco, a não ser para dizer ou desejar que se trabalhe para a estabilidade dos treinadores, que se tornem transparentes e convergentes as aspirações de ambas as equipas (Direção e equipa técnica) e que saibamos sempre servir o clube mais do que nos servirmos dele, a não ser para as alegrias. De resto, Rui Borges, o nosso novo timoneiro, é, perante outros cenários que se afiguraram possíveis, a escolha acertada!
Em caso de dúvida, basta reparar no seu percurso e no trabalho desenvolvido nos vizinhos de Moreira de Cónegos. De modo que, e se me permitem, perante as nuvens que nos assombraram nos últimos dias, este ano para nós não é como acaba mas como começa… Bem-vindo, Rui Borges!
Texto de João Reis, ator e associado do Vitória de Guimarães