Schmidt respondeu ao mercado, mas falta o principal
Roger Schmidt, treinador do Benfica (SL Benfica)

Schmidt respondeu ao mercado, mas falta o principal

OPINIÃO06.01.202409:00

Treinador do Benfica foi questionado sobre vários nomes: que chegam e podem sair, mas há um que perdura e ainda está na cabeça de muitos

Roger Schmidt passou a conferência de imprensa desta sexta-feira a responder a perguntas sobre o mercado, mas, creio, falta ainda o principal.

O treinador do Benfica fez o perfil de Marcos Leonardo, um ideal que os encarnados – e não só – têm seguido: um jovem jogador com promessa de desenvolvimento e de uma futura venda, que continua a ser um paradigma a ter de ser considerado por todos os clubes portugueses. Ora, começa aí a primeira diferença para, por exemplo, Arthur Cabral

Não é colocar em causa o valor do jogador que veio da Fiorentina, mas sim o perfil da compra. No fundo, como se chegou a noticiar, se na altura o Benfica tivesse adquirido Lucas Beltrán ao River Plate – e recorde-se que foi o argentino quem foi substituir Cabral na Fiorentina – o perfil dessa aquisição seria semelhante à de Marcos Leonardo. 

Haveria, ainda assim, outra diferença entre Beltrán e Marcos Leonardo. É cada vez mais difícil aos clubes fora das cinco principais ligas chegar ao primeiro nível de mercado na América do Sul. Ninguém tinha dúvidas do talento de Julian Alvarez, de Endrick, Vítor Roque e, indo mais atrás, de Vinícius Júnior ou Rodrygo. Mas essa primeira linha de mercado não é para qualquer bolsa e, quando foi, durou seis meses: Enzo Fernandez pertencia a esse topo, jogar na antecipação foi fundamental. Tal como, dizem do Brasil e diz quem viu alguma coisa do campeonato brasileiro, que se Marcos Leonardo não está nesse patamar, está muito perto dele. Portanto, na teoria, o Benfica contratou uma grande promessa.

Vou deixar aqui umas linhas isoladas, porém, para quem pensa que já se está a engrandecer um jogador que acabou de aterrar. Não, nada disso, diz-me a experiência destes momentos e, para além disso, de talento desperdiçado está o mundo cheio. É preciso Marcos Leonardo ter a perseverança que, pelos vistos, conseguiu aliar no Santos às habilidades que tem.

Schmidt também respondeu sobre Musa. Um jogador que tem, provavelmente, agradado mais pela persistência demonstrada do que pelo talento puro. Percebeu-se que o croata pode ser tema, mas não agora, nunca agora que Tengsted está lesionado. 

E, por fim, o técnico abordou a questão de Jurasek. E aqui, se o perfil da compra do lateral-esquerdo foi muito idêntico ao de Alexander Bah – uma conquista em relação ao que havia no plantel antes do dinamarquês – foi completamente diferente do tipo de jogador que tinha de substituir. Há quem chame a isto um erro de casting, o que pode ser, pelo jogador que Jurasek não é comparado com Grimaldo. De novo, esqueça a relativa qualidade, foque-se no perfil. 

Na resposta, Schmidt disse que há jogadores que podem não estar cem por cento felizes. Sucede em todos os clubes, seja por não jogar ou por jogar-se de um modo que não lhe agrada propriamente. Não sei se o técnico se referia especificamente a Jurasek, mas sei disto: nas questões de mercado, ao Benfica falta o principal. Um lateral-esquerdo mais idêntico a Grimaldo, cujas chuteiras serão sempre difíceis de calçar, mesmo para quem tenha um perfil parecido, tamanha foi a importância do esquerdino nas várias equipas encarnadas que representou. 

Pode sempre questionar-se que um perfil diferente do espanhol era a aposta certa e que, simplesmente, Jurasek não consegue desempenhar a tarefa como Schmidt previa. 

Pode até ser por isso que Morato esteja a ser chamado para a função - Aursnes também lá passou - e a fazê-lo com mérito, mas hoje, talvez, até os críticos do espanhol devem achar que ele, afinal, defendia bem.