Schmidt, Jesus, Lage e os sinais que o futebol deixa

OPINIÃO02.09.202409:30

Os problemas, e a ocasional vantagem, de insistir num treinador que todos querem ver pelas costas

A saída de Roger Schmidt após o empate em Moreira de Cónegos só terá surpreendido os próprios dirigentes do Benfica, que acreditaram que o alemão poderia dar a volta a uma situação que, manifestamente, parecia insustentável já na época passada. Talvez a culpa seja do alemão, que elevou demasiado a fasquia nos primeiros seis meses na Luz. Foi sol de pouca dura. A segunda metade da época do título já tinha sido penosa e 2023/2024 foi uma acumulação de equívocos tal que surpreende a convicção, que Rui Costa confirmou em conferência de imprensa no sábado, de que Schmidt poderia dar a volta.

Acreditava o presidente do Benfica «que era mais fácil voltar a fazer o primeiro ano de Roger Schmidt do que o segundo ano de Roger Schmidt». Não sei porquê. Todos os sinais mostravam um declínio acentuado. Mais, como pode ler também em opinião do José Manuel Delgado, as decisões de manter treinadores que toda a gente quer ver pelas costas raramente resultam.

Há uma exceção: Jorge Jesus, em 2013, depois de perder três finais num mês — Liga, com derrota no Dragão na compensação; Liga Europa, com derrota frente ao Chelsea na compensação; e Taça de Portugal, com derrota frente ao Vitória de Guimarães na final, agravada pelo incidente com Óscar Cardozo. Mas por muitos erros que tenham sido cometidos nessas três finais, o Benfica teve manifestamente azar. Mais: jogava bem. Vieira insistiu na continuidade de Jesus, que não só fez, em 2014, o tri interno (campeonato, Taça e Taça da Liga) como ainda repetiu presença na final da Liga Europa (que o Sevilha ganhou nos penáltis).

O que me leva a Bruno Lage, o preferido da SAD encarnada para suceder a Roger Schmidt. Na época 2018/2019, quando foi promovido da equipa B para substituir Rui Vitória, somou 18 vitórias e 1 empate no campeonato para recuperar desvantagem de sete pontos para o FC Porto e ser campeão. Na seguinte, tudo correu bem até ao fim de janeiro; depois, ganhou dois jogos em dez (com quatro empates e quatro derrotas) e foi despedido.

Mas mesmo naquela primeira época a recuperação foi espetacular mas o futebol não. O Benfica viveu da inspiração de João Félix e ganhou muitos jogos que não deveria ter ganho. Os sinais de que algo poderia correr mal estavam lá todos. Insistir num treinador cujos trabalhos seguintes, no Wolverhampton e no Botafogo, ficaram muito aquém das expectativas parece-me uma solução demasiado perigosa para o estado atual do clube.

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