Ninguém me tira da cabeça que há em Schjelderup uma reincarnação de Loki, deus da mitologia nórdica. É o deus da trapaça, da travessura e do fogo. Está também ligado à magia e pode assumir a forma que quiser. É verdade que não é o deus mais simpático, tem uma relação complicada com outros deuses, nem sempre é o mais fiável. Mas nem o deus Thor, figura central da mitologia nórdica, dispensou as suas artes de ludibriar o inimigo, pedindo-lhe ajuda na hora de recuperar o martelo Mjolnir. Schjelderup é, de facto, um trapaceiro… Faz travessuras em campo. Esguio, habilidoso, desequilibrador. Vai fazendo alguns truques de magia, e pode de facto assumir várias formas, de extremo a segundo avançado, pisando os terrenos que lhe dão mais jeito, a cada momento, para consumar as suas travessuras. Gosto de escrever com música de fundo. Para este texto escolhi o belíssimo tema Northern Lights, do brilhante compositor e pianista Ola Gjeilo, nascido na noruega em 1978. Um tema já interpretado pelos melhores grupos corais do Mundo. Nothern Lights, as famosas auréolas boreais que Schjelderup tem trazido para Portugal e que até fevereiro estão a pintar de magia os céus da noruega com a máxima intensidade dos últimos 11 anos. Se continuar assim, talvez Schelderup chegue ao final de junho no esplendor do sol da meia noite. Talvez suba ao Ronvikjellet para apreciar a paisagem sobre a região de Bodo, de onde é natural, sentindo que a sua hora no Benfica chegou para ficar. E visite o belíssimo museu da aviação, percebendo que também ele levantou voo. Ou entre na Stormen’s, considerada em 2016 como uma das 10 livrarias mais bonitas do mundo, para depositar as páginas que ele próprio quer escrever nas águias. Já eu não me importava de o acompanhar nos tradicionais gelados de chocolate e champanhe. Bodo é uma pequena cidade que, de facto, vale e pena, onde modernidade, cultura e natureza casam no exemplo de turismo sustentável. Schjelderup está a assumir-se como o primeiro reforço de inverno do Benfica. Em Faro, voltou a ser decisivo ao marcar o golo que abriu caminho à reviravolta das águias, na Taça de Portugal. Terceiro jogo consecutivo a titular, dois golos decisivos – em Faro e com o Sporting na final da Taça da Liga – e até motivo de críticas a Bruno Lage, por parte de adeptos e analistas, por o ter retirado de campo cedo com o SC Braga, na Taça da Liga (63’), e ainda mais cedo no jogo com o Sporting (intervalo). A explicação de gestão física num jogador que pouco tem jogado fez tanto sentido quanto obrigar-se Elon Musk a poupar no uso de automóvel por questões de gestão orçamental… Schjelderup está a assumir-se um exemplo, mais raro, nas escolhas por norma mais conservadores de Bruno Lage. Ganhou uma dor de cabeça por ter de escolher entre o norueguês e Aktutkoglu? Abençoada dor de cabeça. E outras que poderiam ser criadas, com Rollheiser a reclamar também ele minutos, no meio campo, a última interessante ideia de Roger Schmidt antes da lesão do argentino e da saída do alemão. Certo é que, aos 20 anos, ninguém me tira da cabeça que há em Schjelderup uma reincarnação de Loki, deus da mitologia nórdica. É o deu da trapaça, da travessura e do fogo. Está também ligado à magia e pode assumir a forma que quiser.