Rui Costa que se cuide
Muito boa gente quer ver Domingos Soares Oliveira pelas costas, mas não sei se o Benfica está preparado para ficar já sem ele…
DOMINGOS SOARES DE OLIVEIRA vai deixar o Benfica, noticiou A BOLA na edição do último sábado, quase vinte anos depois de intenso e profícuo trabalho, admirado e criticado, mas decisivo na revolução organizacional do clube e determinante para o dotar de meios que lhe permitam enfrentar com segurança os desafios dos novos tempos.
«Está, assim, prestes a fechar-se um capítulo, que teve a ver com a recuperação financeira do Benfica, mas também com a profissionalização da estrutura, em relação à qual haverá um antes e um depois», escreveu José Manuel Delgado. O antes conhecemos, está à vista de todos, foi inovador, deu altura ao voo da águia e dotou-a de capacidade para grandes distâncias. O depois é um ponto de interrogação, na medida em que quem lhe suceder, das duas uma, ou aceita a estratégia, enriquecendo-a e fortalecendo-a, obviamente, ou arquiva o que foi feito e opta por outra política.
A saída de Domingos Soares de Oliveira está prevista e, até ver, creio que os passos necessários têm sido dados com elevação e serenidade, valorizando a estabilidade, fator muito precioso para uma instituição ainda abalada pela sucessão de acontecimentos que conduziram à demissão de Luís Filipe Vieira e posterior eleição de Rui Costa, na assembleia mais participada da história do Benfica.
A paz voltou à nação encarnada e para isso muito contribuiu a conquista do título 38, que parecia embruxado, e a elogiável participação na Liga dos Campeões, em obediência à ambição de recuperar o estatuto europeu do clube, proclamada pelo atual presidente. Tudo parece correr de feição e quando assim acontece não há problema que atropele o entusiasmo da massa adepta. Pelo contrário, problemático passa a ser quem ouse sugerir moderação nos festejos e contenção nos gastos porque, como muita gente abalizada defende, o futebol é o momento, hoje ganha-se, mas amanhã pode perder-se…
Onovo Benfica prossegue no seu caminho de mudança e a próxima medida passa pela saída de Domingos Soares de Oliveira e respetiva substituição na cúpula da sociedade anónima desportiva.
O processo está a ser conduzido pelo próprio Rui Costa, como deve ser, e ficará concluído assim que se chegar a um entendimento quanto aos termos indemnizatórios entre as partes. Li em A BOLA de domingo que o caso será concluído sem sobressaltos, não sem antes ficar resolvida a operação de naming rights do Estádio da Luz, uma questão de honra para o próprio Domingos Soares de Oliveira, dado ter sido um dos seus principais objetivos desde que assumiu funções. A demora terá a ver com as elevadas verbas de que a águia não abdica para concluir o negócio, o que deve ter limitado, severamente, a lista de pretendentes.
«Os valores em cima da mesa serão aqueles que os encarnados sempre defenderam com os mínimos exigíveis para ceder o nome do estádio, 100 milhões de euros por um contrato mínimo de dez anos, ou seja, na ordem de dez milhões/época», escreveu o jornalista Paulo Alves.
Um interessante acordo na opinião de um leigo na matéria, que sou eu, embora o homem de quem se fala para ocupar o lugar de DSO, Luís Mendes, tivesse afirmado precisamente o contrário à Renascença («Neste momento, as propostas que temos não são interessantes»).
ESTE vice-presidente, que não tenho o prazer de conhecer, é apresentado como uma espécie de braço-direito de Rui Costa, amigo de longa data e pessoa da sua confiança, fazendo sentido a sua ascensão a administrador da SAD. Mas uma coisa são amizades, outra a escolha de pessoas aptas para o preenchimento de cargos de enorme responsabilidade. Provavelmente, tem o perfil desejado, peço desculpa pela dúvida.
Outra coisa que se sabe em relação a este administrador é que «é visto como alguém que defende que a Direção do clube, e não apenas a SAD, deve assumir maior protagonismo no controlo do futebol, ao contrário do que sempre entendeu Domingos Soares Oliveira».
Dá que pensar esta posição, a qual, só por si, reflete a impreparação de quem a emite, mas pode suceder que, concretizada a saída do atual CEO, o próprio Luís Mendes, depois de empossado no alto cargo, se for esse, na verdade, o propósito de Rui Costa, reflita e admita que banalizar os assuntos do futebol profissional é o mesmo que colocar o Benfica no centro das conversas em todos os locais deste país em que se fala de futebol e torná-lo ainda tema de galhofa entre os emblemas rivais. A discrição é a regra básica e o controlo da comunicação fundamental. Um pouco mais de imaginação e alguém sugere que contratações e vendas de jogadores acima de um determinado montante careçam de aprovação prévia em assembleia geral de sócios.
Domingos Soares de Oliveira é um homem de gabinete, mas avesso a segredos de polichinelo. É recatado, os holofotes é que andam atrás dele. Percebo a sua saída, as razões são várias e para todos os gostos, mas Rui Costa que se cuide. Apesar de muito boa gente o querer ver pelas costas, não sei se o Benfica está preparado para ficar já sem ele.