SE a Arábia Saudita diz ser capaz de receber os Jogos Olímpicos de Inverno na Neom, a cidade do futuro que custará €500 mil milhões, ninguém pode questionar a capacidade do país em criar uma das maiores ligas de futebol do mundo nos próximos anos. A contratação de Rúben Neves ao Wolverhampton pelo Al Hilal pode marcar uma mudança profunda de paradigma: os sauditas não só contrataram um jogador de uma das principais seleções mundiais (Portugal) na flor da idade (26 anos) e pagando valores de uma Premier League (€55 milhões), contrariando a prática usada, por exemplo, com Cristiano Ronaldo - exibir o cheque ao futebolista mas não ao clube de onde ele vem. Será preciso esperar mais umas semanas para perceber quantas transferências do género serão feitas neste defeso, mas os sinais são evidentes: a liga saudita pode estar na iminência de competir diretamente com o G4 de Inglaterra, Paris Saint-Germain, Real Madrid e Bayern, basicamente os grandes tubarões atuais do Velho Continente e com capacidade de pagar muito dinheiro por um único jogador. A Europa já começa a ter receio do que aí vem e, como é hábito, lança críticas a quem ameaça o status quo, que mais não são que uma forma disfarçada de impor uma pretensa superioridade moral. Não faltará muito para a UEFA começar a erguer a bandeira dos direitos humanos como fator diferenciador de competições mesmo que os seus cofres suíços estejam cheios de petrodólares e muitas ligas europeias andarem de mão estendida aos árabes - Portugal também irá tentar levar uma Supertaça ou uma Final Four da Taça da Liga para lá, ao estilo espanhol ou italiano, não duvidemos disso. Não é preciso um oráculo para adivinhar um futuro muito difícil para ligas europeias de média dimensão como a portuguesa. Se a tendência de concentração de valor e dinheiro já será uma realidade com o novo formato da Champions a partir de 2024, aumentando o fosso entre elite e plebe, a concorrência de um bloco do Médio Oriente será a gasolina que os idealistas da Superliga precisam porque terão do outro lado do Mediterrâneo, muito provavelmente, uma liga fechada (não por acaso há quatro equipas que passaram a ter o mesmo dono). Que não haja ilusões: ao final do dia o dinheiro é o que conta.