Há pouco mais de um ano, a 24 de fevereiro de 2024, durante jogo entre Farense e Famalicão, da jornada 21 do campeonato nacional (1-1), o famalicense Chiquinho — então cedido aos minhotos pelo Wolverhampton e agora emprestado pelos ingleses aos Maiorca, de Espanha — foi vítima de insultos racistas. Dessa vez, o então treinador dos algarvios, José Mota, desvalorizou o caso. Não me apercebi absolutamente de nada. Estou longe, sentei-me no banco, estávamos a perder e queria que o jogo fosse rapidamente recomeçado. Se realmente existiu alguma coisa nesse sentido, tem de ser penalizado, como é óbvio. Mas vocês conhecem o São Luís, as pessoas de Faro são respeitadoras, são boas e gostam de futebol. Se calhar, amanhã, vocês vão realçar mais um caso no meu ponto de vista sem grande significado, mais do que o caso do nosso golo [anulado]. Isto é que é importante. Fizemos dois golos, merecíamos ter ganhado, porque fizemos dois e acabámos por empatar. Esse caso era importante que vocês frisassem. Quanto a isso [situação com Chiquinho], não estava presente, disseram-me que era por uma 'boca' qualquer que veio da bancada No domingo passado, no Boavista-Vitória de Guimarães (1-2), foi o guarda-redes vimaranense, Bruno Varela, alvo de outros estúpidos insultos também de teor racista. O treinador da equipa da Cidade Berço, Luís Freire, também apareceu a desvalorizar. Ainda não tive oportunidade de esclarecer, mas é sempre de evitar. O jogo teve tantas coisas boas que não vou fazer desse momento um tópico. A nossa equipa tem estado a crescer bastante, fizemos um jogo completo com muitas coisas positivas. Foi incrível a atmosfera vinda das bancadas que nos contagiou Não. O racismo não é «de evitar» como disse o técnico do Vitória: o racismo é para não ser tolerado, ponto! Não, um golo anulado não é mais importante do que um insulto racista. Não, o racismo não pode ser uma nota de rodapé num jogo de futebol. Quando acontece o que aconteceu no domingo no Bessa e quando acontece o que aconteceu há um ano no São Luís, todos, os treinadores também — se calhar sobretudo os treinadores e mais ainda os dirigentes —, têm de falar do assunto em vez de o varrer para debaixo do tapete. E depois tomar-se mediadas. Porque o racismo é crime. Sempre que estes casos acontecem, o que se tem verificado é que são falados durante meia dúzia de dias (às vezes horas apenas) até caírem num esquecimento que me parece conveniente para muita gente... Tirando o caso Marega, talvez por ter sido o primeiro com grande impacto mediático em Portugal, tanto a situação de há um ano em Faro como o do passado fim de semana no Bessa poucas linhas mereceram, pouca discussão gerou. Já caiu no esquecimento. Será que mais do que vontade de combater a estupidez da intolerância, os clubes receiam os castigos que podem sofrer? Ou melhor, que deveriam sofrer por nada fazerem para tentar, pelo menos, mitigar situações como as de Faro e do Bessa — e claro, racistas há em todo o lado, basta apenas... olhar para o nosso lado. Olhemos para estes dois casos e estão restritos a poucas pessoas em estádios com muita gente, sim. Mas hoje em dia não seria assim tão complicado identificar os estúpidos racistas nas bancadas, pelos meios tecnológicos que existem, assim os queiram usar — é preciso não esquecer que no caso Marega o castigo de um jogo à porta fechada foi anulado porque as imagens das câmaras de vigilância não tinham som... Se a jusante há, ou deveria haver, a punição, a montante há a educação. É através dela, desde tenra idade, que se devem passar os valores de tolerância e diversidade. É na educação, pela prevenção, que se deve agir e apostar. Sobretudo numa época de extremos intolerantes em que, por exemplo, há quem questione a disciplina de Cidadania nas escolas, que há assuntos que é para tratar apenas no seio familiar, dizem... Como se não vivêssemos em sociedade, que tem valores comuns. Pois que esses valores comuns sejam os da tolerância e não os do ódio e do medo pelo que é diferente.