Quero ir a Épernay, por favor!
Fernando Santos e Roberto Martínez durante um jogo de preparação em 2018 (IMAGO)

Quero ir a Épernay, por favor!

OPINIÃO25.03.202409:00

Futebol-carrascão vs. futebol-champanhe; 2016 vs. 2024; Fernando Santos vs. Roberto Martínez. Até junho, desconfio...

Anda pelo ar um estranho cheiro a foguetes e pela boca da malta um estranho sabor a champanhe. Onze vitórias em onze jogos é uma sequência notável da Seleção Nacional, claro que sim. Não nos esqueçamos, porém, frente a que adversários a série foi alcançada: Suécia (24.º do ranking UEFA), Eslováquia (28.º) Bósnia (39.º), Liechtenstein (40.º), Islândia (41.º), Luxemburgo (43.º). Nada de Inglaterra (1.º) ou França (5.º), nada de República Checa (11.º) ou Áustria (13.º), nem sequer de Grécia (17.º) ou Hungria (23.º). Parece-me, pois, excessivo a borbulhagem a Moët & Chandon. Na fase final do Euro, se a cadência se mantiver frente a Turquia (9.º) e República Checa (11.º), eu próprio irei a Épernay e comprarei uma garrafita de 20 centilitros de Moët & Chandon. Até lá, desconfio.

O grupo de jogadores de Roberto Martínez é notável. Inclui o melhor guarda-redes português da atualidade e o melhor dos 15 anos anteriores: Diogo Costa e Rui Patrício. Além de José Sá e Rui Silva. Tem laterais para dar e vender: Nélson Semedo, Diogo Dalot, João Cancelo, João Mário, Ricardo Pereira, Nuno Mendes, Raphael Guerreiro, Mário Rui ou até Nuno Santos. Defesas-centrais que nunca mais acabam: Pepe, Rúben Dias, Danilo Pereira, António Silva, Gonçalo Inácio, Diogo Leite, Toti Gomes, Domingos Duarte ou Eduardo Quaresma. Médios cujo perfume ou tenacidade encantam qualquer um: Bernardo Silva, Bruno Fernandes, João Palhinha, Matheus Nunes, Rúben Neves, João Neves, Otávio, Vitinha, Pedro Gonçalves, Daniel Bragança, Renato Sanches, William Carvalho, João Moutinho ou Florentino Luís. Avançados que chegam para duas Seleções: Ronaldo, João Félix, Rafael Leão, Diogo Jota, Gonçalo Ramos, Jota Silva, Dany Mota, Francisco Trincão, Ricardo Horta, Francisco Conceição, André Silva, Bruma, Gonçalo Guedes ou até Podence. Nada menos de 50 muito bons jogadores. A tarefa do selecionador de Portugal é simples: cortar metade e levar os restantes ao Euro-2024. Dá vontade de ir já a Épernay? Dá, sim.

Fernando Santos teve quase todos estes jogadores ao seu dispor, entre 2014 e 2022, mas raramente se saboreou Moët & Chandon: verdade incontestável. As uvas eram boas, quase tão boas como as atuais, mas foram poucos os momentos em que pela boca dos portugueses se sentiu a borbulhagem de um agradável champanhe. Sentiu-se, sim, a 10 de julho de 2016, o tintinho carrascão do garrafão de cinco litros a descer-nos pela garganta. Era o tempo do pouco importa, pouco importa, se jogamos bem ou mal, queremos é levar a taça para o nosso Portugal. A Seleção Nacional trocou no último ano, entre 23 de março de 2023 e 21 de março de 2024, o futebol-carrascão de Fernando Santos pelo futebol-champanhe de Roberto Martínez. O selecionador nacional teve, para já, duas virtudes: colocou Portugal a jogar muito bem e fez com que se deixasse de ouvir a lenga-lenga do jogo degolasse, como alguns franceses se referiram, durante a fase final do Euro-2016, à Seleção Nacional. Dúvida: o champanhe chegará a junho?