A derrota do FC Porto, frente ao Nacional, no sítio da Choupana, onde se situa o estádio da Madeira, colocou a equipa de Vítor Bruno sob um denso manto de nevoeiro, no que toca ao estofo para ser afirmativa nas horas decisivas. Quando precisavam de ganhar para terminar a primeira volta como líderes isolados, os dragões perderam, o que lançou dúvidas onde parecia haver certezas: sem grandes meios, é verdade, este FC Porto ia chegando para somar pontos onde era proibido perdê-los: e se Famalicão foi um aviso, a Choupana foi um espalhanço ao comprido, imediatamente aproveitado por uma quinta-coluna hiper-minoritária, que se alimenta, para sobreviver, dos desaires daquele que deveria ser o seu clube. Com amigos destes, quem precisa de inimigos? Se Vítor Bruno não recolocar os azuis-e-brancos nos carris do rendimento mínimo garantido, o resto da época pode não ser aquilo com que Villas-Boas sonhou, neste seu ano-zero de presidência, onde tem de arrumar o salão de baile antes de encontrar uma orquestra que substitua a do Titanic, contratada pela anterior gerência . Como o FC Porto se fez rogado, o Sporting, que não tem tantas dúvidas como no interinato de João Pereira, nem tantas certezas como no consulado de Ruben Amorim, aproveitou para terminar a primeira metade na frente, ciente de que (tal como o Benfica), a partir de agora há muitas bolas no ar ao mesmo tempo, Liga, Taça de Portugal e Champions, que exigem uma profundidade de plantel difícil de alcançar. A derrota na final da Taça da Liga, da forma como aconteceu, não deve ter tirado a confiança à equipa (embora perder para o Benfica seja complicado em qualquer contexto), o reforço da baliza com Rui Silva, parece adequado, mas o calendário mostra-nos uma segunda volta pejada de obstáculos de alta dificuldade no caminho dos leões, nomeadamente as visitas ao Dragão e à Luz. Sendo verdade que ‘candeia que vai à frente alumia duas vezes’, o conforto deixado em Alvalade pelo atual técnico dos ‘red devils’ foi chão que deu uvas e, a partir de agora, Rui Borges tem de manter a sua equipa focada no jargão que fez o sucesso de Amorim: «jogo a jogo.» Se não aparecer nenhum clube a levar Gyokeres (batendo a cláusula, evidentemente), os leões continuam a ter grandes hipóteses de chagar ao ‘bicampeonato’ que lhes foge desde 1954. Finalmente, o Benfica, que terminou a primeira volta com duas derrotas, mas que parece ter condições para se manter agarrado à luta pelo título, assim apresente em todos os jogos (e não só em alguns ou, até, apenas em certas fases) a consistência defensiva de que são feitos os campeões: se o meio-campo não for reforçado em janeiro, e se, a partir daqui (com as tais bolas simultaneamente no ar…) não houver assertividade na rotatividade, as possibilidade de atingir o 39 serão diminutas. A terminar, uma curiosidade, que tem a ver com o título desta crónica: em 2004/2005 (Benfica campeão, com Trapattoni) os encarnados fizeram apenas 1,9 pontos por jogo. Foi a tal época em qua parecia que ninguém queria ganhar o campeonato. Em 2024/25, com quantas escorregadelas dos candidatos devemos ainda contar?