Que tem o título do Sporting a ver com centralização e 'fair play' financeiro?
Courtney Reum, jogador do LANK Vilaverdense, investiu no clube, estreou-se com 45 anos e desceu de divisão (Imagem: A BOLA)

OPINIÃO Que tem o título do Sporting a ver com centralização e 'fair play' financeiro?

OPINIÃO08.05.202411:00

Do eventual período de ‘desbipolarização’ à rábula do cunhado de Paris Hilton

A conquista do título nacional por parte do Sporting equiparou os últimos anos do futebol português a um cenário vivido apenas uma vez, e nos idos da década de 50 do século passado: seis épocas com dois títulos para cada um dos três candidatos crónicos, nenhum deles ganho de forma consecutiva. Será um sinal de caminho contrário ao da bipolarização que tem marcado as diferentes eras do campeonato? Cedo para dizer.

O espantoso trabalho de Frederico Varandas, na recuperação de um clube caído literalmente em desgraça depois do consulado de Bruno de Carvalho e do epílogo da invasão a Alcochete, será suficiente para voltar a impulsionar o Sporting para o topo? A avaliar pelo já visto, pode pensar-se que sim. Faltará, ainda, uma presença europeia mais impositiva.

Só as próximas épocas, porém, trarão a resposta. Entre 2000 e 2002, no fim do jejum de 18 anos desde 1982, o Sporting também conquistou dois campeonatos. Seguiu-se lhe o maior hiato da história do clube — 19 anos sem ser campeão, entre 2002 e 2021.

Uma eventual tripolarização efetiva do futebol português seria bem-vinda — melhor ainda se o SC Braga mantivesse a trajetória de crescimento e conseguisse intrometer-se na grande aristocracia.

Haverá, porventura, tentação de atribuir este novo equilíbrio à introdução do videoárbitro. Há uma correlação, de facto, mas estamos longe de poder estabelecer um nexo de causalidade. Até porque o mesmo já aconteceu há quase 70 anos, quando ainda nem havia substituições, quanto mais tecnologia.

O VAR é aqui chamado, no entanto, para assinalar que têm sido dados, no futebol português, alguns passos no sentido da modernização. Não seria este, em minha opinião, o mais premente (tudo o que não elimine totalmente a condição humana de errar continuará a alimentar os polemistas de serviço, e são tantos!), mas tratou-se de um sinal importante.

Falta dar, pelo menos, mais dois, a fim de serem criadas condições reais para um futebol mais apelativo, equilibrado, justo, competitivo e, por consequência, valioso para os mercados internacionais: a centralização dos direitos televisivos e a aplicação de regras muito rigorosas de fair-play financeiro.

O primeiro assunto está longe de ser novo e sabemos que a partir de 2028 será uma inevitabilidade legal. Mas 2024 já é tarde para o processo se iniciar, com boa vontade dos intervernientes no sentido de um acordo que satisfaça as partes e, por maioria de razão, o todo. Cada mês que passa sem avanços é um mês que se perde na oportunidade de valorizar o produto futebol, sujeito a cada vez maior concorrência de outras áreas de lazer, nomeadamente entre os jovens. Ou seja: os consumidores do futuro.

Sobre as regras, muito haveria por dizer. O controlo parece ir apertando, mas continua a haver casos de salários em atraso, dívidas, bancarrotas e outras desgraças financeiras no futebol profissional.

O caricato momento de um não-jogador de 45 anos ter entrado a dez minutos do fim para a equipa na qual acaba de investir, no mesmíssimo dia em que ela (a do Lank Vilaverdense) desceu de divisão, representa tudo o que o futebol português não pode ser. Mesmo com as potenciais mais-valias de o senhor ser cunhado de Paris Hilton e muito rico.