24 fevereiro 2025, 07:30
A análise de Duarte Gomes a «jogo com demasiadas incidências»
Especialista de arbitragem de A BOLA faz vários esclarecimentos técnicos a propósito do Aves SAD-Sporting (2-2)
Não gostei de ver Rui Borges e o Benfica no papel de meninos queixinhas... Até porque o verdadeiro prevaricador passa incólume, mesmo que possa ter colocado um campeonato em risco. Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do meu Livro do Desassossego
A frase é atribuída a diversos autores, pelo que a escrevo sem citar para não ferir suscetibilidades e uma equivocada atribuição de direitos de autor: «Errar é humano. Colocar as culpas em alguém é ainda mais humano». E foi assim que vi Rui Borges, duplamente humano, no momento em que criticou o VAR pelas intervenções que deram origem à marcação de uma grande penalidade a favor do AVS e à expulsão de um jogador leonino por pisão que lhe valeu segundo amarelo. Curiosamente, o autor das duas infrações é o mesmo: Diomande.
O mais desconcertante no protesto de Rui Borges é que o treinador leonino não critica a justiça das decisões mas a forma como foram tomadas. Até o facto de outros fazerem igual e não serem punidos. Uma espécie de, passe o manifesto exagero que uso em benefício da minha tese, «vergonha não é roubar, vergonha é ser apanhado», a que pudemos juntar «o outro menino fez o mesmo, senhora professora».
Foi agora Rui Borges, como outros na minha linha no passado, mas confesso que me inquieta quando a crítica se baseia na ação do polícia, mesmo que pouco ortodoxa como o foi nas Aves, e não na atitude do prevaricador. Diomande foi expulso em dois jogos consecutivos que jogou. E foi de novo desresponsabilizado pelo treinador. Porque outros fazem o mesmo e não são apanhados... E essa é uma mensagem perigosa para o próprio jogador.
Diomande merece um puxão de orelhas. Havendo ou não críticas na forma como foi apanhado, teve duas intervenções perfeitamente gratuitas, negligentes e pouco consentâneas com um jogador de qualidade. A melhor maneira de não se ser castigado ainda é... nada fazer que mereça punição em alternativa a encontrar maneiras de não se ser apanhado. Quem anda a brincar ao polícia e ladrão, culpando o polícia se fugir ao protolo mesmo que a ação esteja certa, apenas aprende a arte de escapar e não a necessidade de não repetir o erro.
Também não percebi o comunicado do Benfica à arbitragem do jogo do Sporting nas Aves. A águia no papel do menino queixinhas, que denuncia um colega ou acusa o professor de gostar mais de outro menino... Eu sei que iniciei o parágrafo com um «não percebi», mas de facto percebi tudo... Esta época estava calminha demais em termos de vestes rasgadas pela arbitragem, nada como uma reta final de campeonato bem quentinha para trazer à tona as queixas de sempre. Afinal, o que eu não percebo é o que é que os clubes pretendem ganhar com isso?
24 fevereiro 2025, 07:30
Especialista de arbitragem de A BOLA faz vários esclarecimentos técnicos a propósito do Aves SAD-Sporting (2-2)
Rigorosamente nada. A necessidade dos árbitros se protegerem criou um espírito corporativo que penaliza mais quem se queixa do que quem fica calado. Logo, se não é para ganhar nada, só pode mesmo ser desabafo puro, dificuldade de lidar com a imensa pressão ou tentativa de esconder as culpas própria, sendo que esta terceira hipótese, acredito mesmo, nunca a aplicaria a Rui Borges. Se os treinadores dizem que só devem preocupar-se com o que podem controlar, então que se concentrem na equipa. Não podem controlar as arbitragens, justas e injustas. Mas Diomande pode controlar as decisões que toma em campo e podem custar um campeonato. Numa equipa em que todos os disponíveis são tão poucos, quente apenas o coração, que a cabeça deve estar sempre num cubo de gelo.
Errar é humano? É. Mas persistir no erro é burrice.