Quando se escreve o óbvio
1 - Pouco depois de ter terminado a final da Liga dos Campeões de futsal conquistada pelo Sporting, Bruno de Carvalho não resistiu a publicar mais um post no Facebook a dizer que tinha valido a pena o investimento. Pena não tê-lo feito também após a equipa de futebol onze ter conquistado a Taça da Liga, mas aí seria mais difícil a justificação, porque os principais artificies do feito podem gostar de muita coisa e se tiveram gostos gastronómicos esquisitos até de ovos escalfados com arroz de atum com molho de escabeche podem gostar mas dele não gostam. O antigo presidente dos leões terá muitos problemas e o principal dos quais é nunca ter percebido que as vitórias e as derrotas são do coletivo, são do Sporting, não eram dele, não são dele, nunca serão dele.
2 - Num coletivo, como é óbvio, há sempre individualidades a destacar. Em Almaty, todos foram fantásticos mas a imagem mais impressionante é a de Guitta, sentado, encostado ao poste de uma baliza com o prémio de MVP da final na mão. O brasileiro falava com alguém que não era visível e rolavam-lhe as lágrimas gordas pelo rosto abaixo. Todas as bolas defendidas pelo guarda-redes na final foram reais e difíceis. Para ele, aquela conversa também era real e era fácil, pois estava a contar ao filho Enrico, falecido em 2016 com apenas dois anos, o que tinha acabado de conquistar.
A vida, por vezes, parece não ter explicação terrena e busca-se o divino, mas até nesse campo deve ser complicado encontrar uma explicação para uma tão grande provação.
Nem seria preciso escrever que Guitta trocaria tudo por ter abraçado fisicamente Enrico nos momentos seguintes a um dos maiores momentos da sua carreira. Mas às vezes é preciso escrever o óbvio. E é preciso escrever: Guitta, és um herói.