Quando acaba o Brasileirão?
Antes de começar a maratona, os protagonistas já se sentem tão desgastados física e mentalmente como se tivessem acabado de correr 10 mil metros
«Os jogadores chegaram ao balneário e nem força tinham para tirar a roupa, vamos pagar caro pelo esforço num relvado destes», disse Abel, instantes depois de o Palmeiras ganhar, na primeira jornada do Brasileirão, na casa do Vitória, um campo de batatas, preocupado com lesões e desgaste no plantel. Mas o campeonato não acabou de começar?
«É uma vergonha, o Grêmio vai protocolar uma reclamação, o penálti que nos tiraram hoje não sei se vai fazer falta na luta por uma vaga na Libertadores», afirmou o vice-presidente do Grêmio após duelo com o Vasco, também na primeira ronda. Mas o campeonato não acabou de começar?
«Como vou falar de futebol, cara?», perguntou-se Jair Ventura, treinador do Atlético Goianiense, depois de ser expulso por ter dito um palavrão, com 14 minutos de Brasileirão decorridos, frente ao Flamengo, numa jornada com 83 amarelos e nove vermelhos. «Só espero que ele nunca mais nos apite». Mas o campeonato não acabou de começar?
O treinador do São Paulo, mesmo há três meses no cargo e com um título, a Supertaça, ganho ao rival Palmeiras, é chamado de «burro» pela torcida. E o do Cruzeiro, coitado, caiu uma semana antes da estreia. Mas o campeonato não acabou de começar?
O campeonato acabou, sim, de começar mas com 20 clubes já stressados, esgotados e exaustos física e mentalmente depois de os estaduais — sempre eles — stressarem, esgotarem e exaurirem jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes, imprensa e adeptos que partem para a maratona como se tivessem acabado de chegar de uma prova de 10 mil metros. Quando, por amor de Deus, acaba o Brasileirão?, pergunta toda a gente.
No entretanto, a responsável pelo stress, pelo esgotamento e pela exaustão, a CBF, segue como se não fosse nada com ela mesmo depois de ter mudado o palco de Atlético Goianiense-Fla, na véspera do jogo, para um relvado, com mais areia do que a praia de Copacabana, que, há anos, só recebe shows de sertanejos. A mesma CBF que, em nome de uma «renovação da arbitragem», decidiu colocar a apitar clássicos centenários diante de turbas enlouquecidas juízes com poucos jogos de Série B no currículo, quanto mais de Série A.
A mesma CBF que, de tanto encher o calendário com os tais estaduais, permite que nove jornadas sejam violentadas pela Copa América e nem sequer encontrou uma data para realizar a cerimónia de atribuição dos prémios aos melhores de 2023. O mais provável é que decorra lá para 2025... No entanto, a CBF tem ideias muito inovadoras: decidiu realizar uma cerimónia de abertura do Brasileirão no jogo entre os campeões da Série A e B, Palmeiras e Vitória, no tal campo de batatas. O detalhe dessa ideia inovadora é que esse jogo foi o último da primeira jornada. Ou seja, a festa de abertura teve mais cara de fim do que de começo. Faz sentido.
JAM Sessions, por João Almeida Moreira (Correspondente de A BOLA no Brasil)